Em Nova York, o investigador de polícia Elijah Baley é escalado para investigar o assassinato de um embaixador dos Mundos Siderais. A rede de intrigas envolve desde sociedades secretas até interesses interplanetários. Mas nada o preocupa tanto quanto o seu parceiro no caso, cuja eficiência pode tomar o seu emprego, algo cada vez mais comum. Pois seu parceiro é um robô.
Fonte: Aleph
Eu poderia indicar este livro simplesmente contando que nele há um robô alienígena fazendo uma investigação policial. Acho que seria o suficiente para despertar o interesse e para explicar por que é um bom livro. Mas penso que esse clássico da literatura de robôs merece ser mais comentado.
Em uma Terra futurista e superpovoada, um crime acontece na Vila dos Siderais, onde vivem seres humanos que vieram das colônias da Terra em outros planetas, estabelecidas há várias gerações e que hoje são política e tecnologicamente superiores às terrestres. O detetive Elijah Baley é designado para resolver o caso, o que já seria um problema mesmo se não tivesse de fazê-lo acompanhado do novo parceiro R. Daneel Olivaw, um robô que pode roubar seu emprego.
O mundo em que vive Elijah Baley tem suas próprias tecnologias e regras – a distribuição de alimentos e o crescimento populacional, por exemplo, são rigorosamente controlados. Ao contrário de outras obras de ficção científica, nesta o autor não faz uma introdução explicando o funcionamento desse mundo. A história é contada em terceira pessoa, do ponto de vista de Baley, que está familiarizado com aquele mundo, e é por meio de seus pensamentos e lembranças que o leitor vai se familiarizando com o contexto da história.
Essa estrutura funciona graças à impressionante habilidade que Asimov tem de manter o ritmo acelerado e a história intrigante literalmente da primeira à última página. É desesperador (de um jeito empolgante) perceber que faltam 10 páginas para o final e o crime ainda não foi solucionado. Mesmo assim, o autor não deixa nenhuma ponta solta – quando, finalmente, as evidências se encaixam, todos os acontecimentos são explicados de forma satisfatória, tudo passa a fazer sentido.
Os personagens de As cavernas de aço são relativamente planos, e suas personalidades e decisões giram em torno da dicotomia básica que envolve toda a trama: aceitar ou não a introdução de robôs na sociedade. É uma polêmica que vai envolvendo o leitor conforme os argumentos dos dois lados são apresentados, e principalmente à medida que conhecemos o parceiro de Baley, na minha opinião o personagem mais interessante desse livro. R. Daneel é, no mundo criado por Asimov, o robô mais realista e evoluído que já foi criado e, ao contrário do que costuma acontecer na literatura em geral, o que o torna cativante não é nenhuma característica humana, e sim a total falta de humanidade – mais ou menos como o sr. Data, em Jornada nas estrelas.
O livro apresenta um daqueles mistérios que Asimov adorava criar, inserido em um romance de robôs por ideia de seu editor (ponto para o editor!) depois que o autor escreveu alguns contos de sucesso com essa temática. E é importante observar que a obra de 1953 foi pensada como um livro único, e somente depois as continuações foram escritas (formando a chamada Série dos Robôs). Portanto, dá para ler o livro sozinho, se você não está a fim de começar uma série, mas busca uma boa ficção científica e uma boa história de mistério, bem estruturada e de leitura rápida.
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As cavernas de aço
Autor: Isaac Asimov
Tradutor: Aline Storto Pereira
Editora: Aleph
Ano de publicação: 1953
Ano desta edição: 2013
300 páginas
Citação favorita
Motivos para tumultos antirrobôs com certeza existiam. Homens que deparam com a perspectiva do mínimo desesperador resultante de uma desclassificação, depois de passar a metade de uma vida se esforçando, não podiam perceber a sangue frio que robôs individuais não eram culpados. Pelo menos, robôs individuais podiam ser atacados.
Não era possível atacar algo chamado “política governamental” ou um slogan como “maior produção com o trabalho dos robôs”.
O governo chamava isso de dor de crescimento. Ele chacoalhava sua cabeça coletiva de modo pesaroso e assegurava a todos que, depois de um período necessário de adaptação, haveria uma vida nova e melhor para todos.
Mas o movimento Medievalista se expandiu junto com o processo de desqualificação. Homens se desesperavam e o limite entre frustração amarga e destruição violenta às vezes era facilmente cruzado.
Adorei!
Mistério + robô é comigo mesmo. Sempre quis ler algo do Asimov. Sou apaixonada por tudo que li de ficção científica, mas é um dos autores que ainda não conheço. Vou começar pelo Eu, Robô que já tenho aqui, mas esse parece ser super interessante por mesclar duas coisas que gosto muito. Apesar de ainda não ter lido, vejo que essa reflexão sobre a introdução dos robôs na vida humana parece ser recorrente nos livros/contos do autor.
Asimov é uma delícia de ler! Ele gosta da temática de robôs, mas também de outros assuntos de ficção científica – O fim da eternidade, por exemplo, envolve viagem no tempo, e é muito bom. 🙂
Ainda não li Eu, Robô. Depois me conta se é legal!
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