A sala de casa, a própria cama, uma biblioteca, um ônibus. O lugar onde você lê influencia a sua leitura? Já leu um livro tão impactante que o lugar em que estava ficou na memória?
Bárbara
No meu caso, sim. Principalmente quando leio em algum lugar diferente dos rotineiros – para mim, Cem anos de solidão vai sempre estar associado a tardes no campus da USP, esperando o horário da aula de Astronomia, e As duas torres sempre vai lembrar meu voo para o intercâmbio. E me lembro claramente de ler Amanhecer no aeroporto de Guarulhos, aguardando o voo para a Disney – e de me virar para a Isa e perguntar “O seu livro também tá parecendo uma fanfic ruim?”.
E quanto aos lugares onde eu sempre leio? É claro que eles não fazem esse efeito, mas também influenciam muito a minha leitura e até a escolha de livros. Os maiores e mais pesados, por exemplo, eu evito levar comigo na bolsa. Mas por isso mesmo acabam sendo um pouco negligenciados (ou substituídos por suas versões em epub) – afinal, muitas vezes fico sem tempo para ler em casa.
Nos últimos dois anos, meu principal ambiente de leitura tem sido a academia. Comecei lendo na esteira (a despeito das restrições de avós quanto a descolamentos de retina) e não era ruim, mas quando meu treino foi alterado e comecei a usar a bicicleta, passei até a aumentar o tempo de exercício. Os livros chegam até a ser um incentivo para que eu não falte à academia. Afinal, com tantos afazeres em casa, às vezes o treino é o único momento do dia que eu posso me dedicar à leitura.

Diferente de mim, a minha câmera não tem um desempenho melhor quando vai pra academia.
Outro lugar crucial para minhas leituras é o transporte público (mais uma vez desafiando o risco de descolar a retina; sou muito destemida). São apenas 15 minutos de metrô da minha casa até o trabalho, mas sou muito inquieta e, se não trouxer um livro comigo, o percurso parece demorar horas. É claro que a leitura nesse ambiente não é muito fácil – para quem nunca tentou, fica o desafio de ler em pé num trem em movimento, segurando uma bolsa e sem ficar no caminho das outras pessoas. Mas consigo adiantar um pouco os meus livros nesse trajeto.
Não apenas a minha rotina influencia nas leituras, como o contrário também acontece às vezes. Já cheguei a ficar meia hora a mais na esteira da academia para terminar um livro que estava muito empolgante (obrigada Asimov pelo incentivo à minha saúde!). E você pode ter certeza de que um livro é bom quando ele me faz perder a estação onde eu deveria descer no metrô (nesse quesito, o troféu de melhor livro vai para Harry Potter e a Pedra Filosofal, que conseguiu causar esse efeito na quarta vez que eu o lia).
Isa
Meu tempo de leitura foi bastante reduzido depois que acabei a faculdade. Sim, também sou rebelde quanto a retinas descoladas, e adorava quando conseguia sentar no ônibus e ficar uns cinquenta minutos – ou mais – lendo, dependendo do trânsito. Fazia o dia parecer produtivo logo de manhã. Mas não gosto de carregar peso, então normalmente estava acompanhada de livros de bolso, ou curtinhos. Uma ocasião memorável foi quando passei na Livraria Cultura correndo antes de uma aula vespertina, peguei o primeiro livro de fantasia que vi pela frente, e comecei a ler descendo a rua Augusta: era The Eye of the World. O resto é história.
Já minhas passadas pela rodoviária do Tietê foram tantas que não lembro mais de todos os livros que li naqueles bancos. Também não lembro o que estava lendo no aeroporto de Guarulhos com a Babi, mas aposto que era melhor que Amanhecer.
Vários livros na minha estante estão associados a lugares. Na primeira vez que fui pra Europa, levei The Wings of the Dove, de Henry James, que comecei a ler no aeroporto, pra matar o tempo e a ansiedade, e só fui terminar algumas semanas depois. Por acaso a história se passava em parte na Itália, onde eu estava. Os irmãos Karamazov me lembra da praia (sim, levei aquele calhamaço da 34 pra areia), mas a viagem de 2013 para a Grécia foi mais tecnológica: foi a primeira depois de comprar o Kobo, no qual coloquei várias coisas temáticas (poetas espartanos! peças atenienses!) que não tive tempo pra ler. Mas lembro de ligar o e-reader (com sua maravilhosa luz embutida) durante o voo, quando não conseguia dormir.
Já Conversas sobre Jane Austen em Bagdá encontrei ano passado numa livraria em Budapeste – comecei a ler ali mesmo, tomando um chá maravilhoso, continuei no aeroporto e só fui terminar no Brasil.

Massolit Books, Hungria
Pra não mencionar algumas lembranças desagradáveis, como quando estava lendo um dos volumes de contos de Lovecraft na recém-inaugurada Linha Amarela do metrô, até que esta quebrou no meio do trajeto e ficamos parados por quase meia hora… eu e Cthulhu, presos no subterrâneo.
Hoje não me desloco tanto, então sou obrigada a ler em casa – no sofá, porque na cama não consigo ficar confortável (e se fico, durmo em 9 de 10 tentativas). Mas prefiro mesmo ler tomando um cafezinho, o que me leva a passar horas, quando a vida permite, sentada em alguma cafeteria, deixando o burburinho de conversas alheias me embalar em uma leitura sem distrações.
Lendo pela cidade
Ler em casa requer concentração: afinal, as tentações são muitas, como internet, TV, a família querendo atenção… Mas onde mais podemos mergulhar em nossos livros? Bem, nós duas moramos em São Paulo, cidade que tem opções para qualquer coisa que você queira fazer, inclusive ler. Aqui vão algumas dicas!
Ler em parques é uma delícia. A sombra das árvores e o relativo silêncio (para boa paulistana, meio silêncio basta) sempre me dão uma sensação de férias. O Parque Mario Covas é pequeno, mais como uma praça, mas tem localização perfeita: em plena Avenida Paulista, fica ao lado do metrô e é de fácil acesso, especialmente para mim, que trabalho por lá.
Esse espaço recém-construído fica perto dos metrôs República e Anhangabaú, e é um oásis no centro da cidade: algumas árvores, um espaço de exposições e – pasmem, paulistanos – muitos bancos à sua disposição. Recomendo!
Um dos meus lugares favoritos na cidade, ele tem uma biblioteca grande, com mesas onde vários grupos se reúnem para estudar. Também é possível ler em algum banco, no café ou no gramado da parte de cima – e, se sobrar tempo, ainda aproveitar alguma das atrações culturais do lugar!
Livro e café: tem combinação melhor? São Paulo está cheia de cafés. Starbucks, então, se proliferaram nos últimos anos. Meu preferido pra sentar e ler é o da Haddock Lobo, que tem uma salinha no primeiro andar com poltronas e um sofazinho, sob uma meia-luz, que é a combinação ideal para ler.
Onde é seu lugar preferido pra ler na sua cidade?
Eu moro no interior e a única coisa que me faz ter vontade de morar em São Paulo (além de estar perto dos shows de bandas internacionais) é ter onde ler fora de casa. Aqui na minha cidade não tem cafés… Tem um na Nobel só, mas nem é lá essas coisas. Starbucks, que eu amo, só a uns 25 minutos ou mais de carro (porque não tem metrô aqui. haha), em outra cidade da região. Por isso, só leio em casa mesmo, normalmente na cama ou tomando sol no quintal, quando dá (adoro!). Nunca durmo enquanto estou lendo… Mais fácil é perder o sono porque quero ficar lendo mais e mais.
Meninas, vocês já viajaram muito! Adoraria ler sobre suas viagens. Vocês já escreveram sobre elas em algum lugar? Também relaciono muito livro ao local onde o li. Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban tem cara de Guarujá, para mim. Jogos Vorazes eu li durante a minha semana em Paris e terminei durante o voo até Florença (estava tão boa a leitura que eu me forçava a ficar acordada à noite no hotel para ler um pouco mais). O Símbolo Perdido eu fiz questão de ler durante o meu intercâmbio, no National Mall, em Washington, D.C. porque a história se passa lá. Harry Potter and the Deathly Hallows eu reli no intercâmbio também, porque ainda estava na Virginia quando o último filme estreou nos cinemas. José Saramago me lembra a van para a faculdade e Sidney Sheldon tem cara de Florianópolis! =) Também ligo a leitura a gostos e cheiros. Quando eu estava lendo Harry Potter e o Cálice de Fogo, eu sempre comprava biscoitos de leite condensado pra comer enquanto lia… Agora esses biscoitos me dão vontade de ler e me dão saudades de Harry Potter! Hahaha
Acho que vou transformar esse comentário em post e linkar a este post do Sem Serifa. =)
Isa, você gostou de Budapeste? Quero muito ir pra lá porque tenho uma amiga húngara da época do intercâmbio! =)
Beijos!
Entendo seu problema: sou do interior também e não tem nenhum café perto de casa que dê pra chegar fácil. Aqui, é tão rapidinho…
Faça o post, sim!
Vc também é super viajada, haha. Eu adorei Budapeste, é uma cidade linda! Tem vários museus incríveis (pra não mencionar o Parlamento, que é maravilhoso, e igrejas e tal), é grande mas super arborizada e gostosa de andar a pé (tem uma praça a cada dois quarteirões, uma delícia). O transporte público é excelente e a cidade é cheia de ciclistas. A língua é impossível, mas dá pra se virar como turista, e sua amiga deve ajudar também. Recomendo muito, vá se tiver a oportunidade!
Oi menina,
Eu tinha o costume de ler no metro quando fiz meu intercambio em Londres.
Mas, hoje dificilmente uso transporte público, então acabo lendo só em casa mesmo.
Quando que o Asimov não empolga, né? rsrs
Abraço,
Alê
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