Trecho:
Posso respirar dentro de água como os peixes e posso respirar fora de água como os homens. E posso passear pelo mar todo e fazer tudo quanto eu quero e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Grande Raia. E a Grande Raia é dona destes mares. É enorme, tão grande que é capaz de engolir um barco com dez homens dentro. Tem cara de má e come homens e peixes e está sempre com fome. A mim não me come porque diz que eu sou pequena de mais e não sirvo para comer, só sirvo para dançar.
A Menina do Mar é um livro graficamente bonito, e foi isso que me chamou a atenção na primeira vez que o vi. Sou dessas que julgam o livro pela capa (e pelas ilustrações, e pelo acabamento), então é claro que decidi ler este. E não me arrependi.
Esta obra fala sobre a amizade entre um menino que vive numa casa na praia e a Menina do Mar – uma criança capaz de respirar na água e no ar, e cujos amigos são um polvo, um peixe e um caranguejo. Os diálogos entre os dois são inocentes e cheios de poesia – com explicações sobre o que é o fogo e o que é saudade, os personagens lembram muito O pequeno príncipe, salvas as devidas proporções. A obra de Breyner Andresen é bem menor e mais simples que a de Saint-Exupèry, mas tem um tom muito parecido.
A Cosac Naify reeditou essa obra de 1958 com ilustrações novas, delicadas e fofíssimas (daquelas que dá vontade de olhar de novo e de novo) feitas pela brasileira Veridiana Scarpelli.
A leitura é muito gostosa. A narrativa é simples, mas traz reflexões sobre um tema importante: a saudade. Recomendado para todas as idades, o livro tem uma linguagem um pouco difícil para as crianças – foram mantidas as palavras e colocações usadas pela autora lusa em 1958. Mas o vocabulário não deve inibir o leitor: a edição traz um glossário bastante útil no final, facilitando a compreensão dessa história linda.
Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen
Editora: Cosac Naify
Ano de publicação: 1958
Ano desta edição: 2014
48 páginas
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