Sinopse:
Neste livro, uma diaba sai todas as noites da floresta à procura de sua filha que desapareceu misteriosamente, junto com a casa onde moravam. Foi quando a diaba percebeu também que seus delicados pés haviam se transformado em cascos de cabra – deformidade que causa repulsa nas pessoas. A ambiguidade da personagem – alegoria da noite –, de face graciosa, olhos doces, mas com cascos no lugar dos pés, pode suscitar no leitor alguma hesitação e muitos questionamentos.
Fonte: Livraria Cultura
Hoje incorro naquele velho hábito de resenhar um livro “infantil” – assim, entre aspas mesmo, se tivermos em mente que o pequeno livro do qual falarei é uma preciosidade para qualquer idade. Vou discorrer sobre as impressões e ideias que surgiram após minha leitura de A diaba e sua filha, de Marie Ndiaye.
Pra começar, que tal falarmos sobre o título? Pois é, bizarrão. Achei bem instigante, afinal o que se deve esperar de uma obra infantil com esse título? Será que ensina rituais satânicos para iniciantes menores de 12 anos? Poderia, mas não é.
O livro fala sobre uma mulher conhecida em seu vilarejo como a diaba, que procura por sua filha perdida. E é isto. Mas a magia está aí: não é só isso, é muito mais. Foi isso que me fez classificar esta como uma das melhores leituras que fiz este ano. Se você estiver disposto, o livro te faz refletir sobre diversas coisas, por exemplo: por que chamar uma mulher de diaba apenas porque ela é diferente das outras pessoas? Por que as pessoas temem tanto aquilo que é diferente, que não está no padrão imposto pela sociedade? Por que maltratar aqueles que nunca te fizeram mal e só precisam de ajuda? Enfim, muitas lágrimas de dor, sofrimento e incompreensão. Pegar esse livro para ler e refletir a respeito da forma como a sociedade se porta diante daquilo que apenas julga ser errado só porque é diferente é um soco na cara.
O livro foi editado pela Cosac Naify, logo é de um capricho e cuidado que enchem os olhos de qualquer leitor que se importe com a forma como o texto está posto no papel: a edição é agradabilíssima de se ver.
Entretanto, no quesito visual, o mérito também deve ser creditado a uma pessoa: Nadja, a ilustradora. Que desenhos magníficos são aqueles? Acho que este livro está no meu top 10 de ilustrações mais bonitas, envolventes, significativas e expressivas. Elas casam perfeitamente com o conteúdo! É quase um sonho olhar pr’aquelas imagens… A escolha de cores e os traços da moça chamaram minha atenção: a história é tensa do início ao fim, mas as ilustrações captam isso de forma leve e delicada – parecia que toda a tristeza e ansiedade da leitura era aplacada pelas imagens.
O fato de o livro ser infantojuvenil é legal por já ter ideias tão esclarecedoras para pessoas que têm preconceito com o diferente, ao mesmo tempo que é acolhedor para quem não se adequa no padrão e é tratado diferente por esse motivo. É o tipo de leitura que muda sua visão de mundo, não tem como perder essa oportunidade proporcionada por esse livro maravilhoso.
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A diaba e sua filha
Autora: Marie Ndiaye
Tradutor: Paulo Neves
Ilustradora: Nadja
Editora: Cosac Naify
Ano desta edição: 2011
40 páginas
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Citações preferidas:
Essa diaba tinha um rosto agradável de olhar. A pele era escura e os olhos, brilhantes.
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A pessoa que não tinha medo de abrir a porta à noite já se preparava para sorrir e tentar ajudá-la, quando de repente seu olhar pousava nos pés dela.
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Não havia piedade possível para a diaba, tão logo percebiam que seus pés não eram como os dos humanos.
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Ela tinha em sua casa uma bela luz amarela que iluminava o campo ao redor. E a diaba lembrava que a filha gostava de fitar a luz amarela à noite antes de dormir.
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Com ternura, acomodou a menina, que continuava dormindo, numa cama bem limpa e confortável.
Ilustrações preferidas: