[Resenha] Todos os pássaros no céu

Sinopse:

Desde pequenos, Patrícia e Laurence tinham formas diferentes – e às vezes opostas – de enxergar o mundo. Patrícia podia falar com animais e se transformar em pássaros. Laurence construía supercomputadores e máquinas do tempo de dois segundos. Enquanto tentavam sobreviver ao pesadelo interminável da escola, seu isolamento se transformou em uma amizade cautelosa. Até que circunstâncias misteriosas os separam para sempre. Ou assim eles pensavam.

Dez anos depois, ambos se reencontram em São Francisco. O mundo está prestes a implodir. Patrícia é formada em uma secreta escola de magia, e Laurence é um cientista tentando salvar a humanidade. A medida que os dois se reconectam, se veem levados a lados opostos em uma guerra entre ciência e magia. E o destino do mundo depende dos dois. Provavelmente.

Fonte: Morro Branco

Um romance que mistura doses iguais de fantasia e ficção científica. É assim que Todos os pássaros no céu costuma ser apresentado, e é claro que foi fácil chamar minha atenção.

Ambientada na Califórnia atual (ou talvez um pouquinho no futuro), a história de Patrícia e Laurence começa com o tropo do esquisitinho da escola. Mas, sendo este um livro com dois protagonistas, eles puderam ao menos se encontrar e dar apoio um para o outro enquanto sofriam bullying por ser diferentes, cada um à sua maneira: ele é um nerd de computadores, capaz de construir uma inteligência artificial ainda criança, e ela é uma bruxa com o poder de conversar com animais. Essa infância conturbada e cheia de incompreensão (tanto dos colegas como dos pais, que são bem cruéis com eles) cria laços entre os dois nessa primeira parte do livro. Pelo menos até o momento em que seus caminhos se separam – e eles só se reencontram quando adultos.

Ao longo do livro vemos cientistas e bruxos de diferentes gêneros, mas achei peculiar que a protagonista feminina seja a bruxa e o masculino, o cientista. Talentos mágicos costumam ser algo a se esconder da sociedade, algo a ser reprimido, e nesse livro não é diferente. Patrícia tem que regular o uso de seus poderes inclusive em meio aos bruxos, pois uma das regras fundamentais da comunidade mágica dessa história é evitar o Enaltecimento – não buscar glórias ou créditos pessoais pelos próprios feitos. Patrícia precisa ser discreta enquanto usa seu poder de cura, ajudando pessoas que têm desde intoxicação alimentar até HIV. Ela faz isso enquanto se aperta em empregos de garçonete, pois o “trabalho” para o qual a escola de magia a treinou não serve para pagar suas contas. É um contraste significativo com Laurence, cujo talento para as ciências lhe rendeu um emprego com reconhecimento e destaque, trabalhando para um gênio da tecnologia, o bilionário mais famoso do mundo.

Mesmo com esse abismo entre eles, os dois amigos acabam agindo contra um inimigo comum: o iminente apocalipse. As drásticas mudanças climáticas e os conflitos políticos mundiais instauram o caos para todo lado, e tanto bruxos como cientistas estão de olho nesse problema. Mas cada um desses grupos propõe planos de ação completamente opostos. Essa é uma das questões principais do romance, uma polêmica inquietante e digna de Arthur C. Clarke sobre o papel e o valor da humanidade – e foi a parte do livro que me fez lembrar por que gosto tanto de ficção científica.

Alguns elementos da história parecem um pouco fora de lugar e acabam alongando um pouco a leitura – como um inimigo comum entre os dois protagonistas, que tem potencial mas que desaparece tão de repente quanto apareceu, com uma explicação um pouco frustrante. Além disso, a parte do livro em que Patrícia e Laurence são adultos tem um começo um tanto quanto confuso, e sinto que esse desconforto foi causado, em parte, pelo fato de que o sistema de magia demora muito a ser explicado. Em geral, senti que todos os elementos mágicos ficaram muito mais misteriosos do que os de ciência e tecnologia – talvez justamente para dar uma aura secreta à magia, ou talvez apenas porque o leitor já habita um mundo com supercomputadores e viagem espacial, o que facilita um pouco a nossa imaginação para esse lado.

Foram fatores incômodos, mas que não me impediram de gostar bastante do livro. A autora usa a fantasia e a ficção científica como pano de fundo para contar uma história de amizade e amor, em que pouco importam as explicações técnicas. E isso ela fez muito bem.

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Todos os pássaros no céu
Autora: Charlie Jane Anders
Tradutor: Petê Rissatti
Editora: Morro Branco
Ano desta edição: 2017
480 páginas

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Citações favoritas

Sabe… não importa o que faça, as pessoas sempre vão esperar que você seja alguém que não é. Mas se for esperta, sortuda e se ralar de trabalhar, vai se cercar de pessoas que espera que você seja a pessoa que gostaria de ser.

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Não sei. Quer dizer, somos adultos agora. Supostamente. E sentimos menos as coisas do que quando éramos crianças, porque temos muitas cicatrizes, ou nossos sentidos ficaram embotados. Acho que provavelmente seja saudável. Quer dizer, criancinhas não precisam tomar decisões, a menos que tenha algo de muito errado. Talvez a gente não consiga tomar decisões tão facilmente se sentir demais.

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O simples volume de más notícias havia ultrapassado a capacidade de qualquer um de processá-las em uma narrativa.

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Você transformou sua culpa em ressentimento, porque assim pareceu mais fácil de encarar. Você não vai seguir em frente até transformar isso em culpa de novo e depois em perdão para si mesma.

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Eram os únicos dois esquisitos naquele açougue horrível que era a escola, e não conseguiram se apoiar do jeito que queriam, mas tentaram.

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Talvez eu tenha feito algo certo em algum momento, pois você ainda está na minha vida depois de todas as coisas que aconteceram.

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