[Resenha] O chamado do cuco

cucoSinopse:

Um mistério elegante e emocionante impregnado da atmosfera de Londres ─ das ruas silenciosas de Mayfair aos pubs entocados do East End e à agitação do Soho ─ O chamado do cuco é um livro do autor Robert Galbraith (pseudônimo de J. K. Rowling). Apresentando Cormoran Strike, este é um romance policial clássico na tradição de P.D. James e Ruth Rendell, e marca o início de uma singular série de mistério.

Fonte: Livraria Cultura

Quando comecei a ler este livro, eu (e todo mundo que lê notícias e orelhas de livro) já sabia que Robert Galbraith era, na verdade, pseudônimo de J.K. Rowling. Sendo mega fã de Harry Potter e tendo adorado o outro romance da autora, Morte súbita, fiquei bastante interessada neste.

Houve quem leu Morte súbita e não gostou por ser uma trama muito pesada. Aviso que O chamado do cuco é mais tranquilo. Enquanto o romance anterior é digno de uma série da HBO, este está mais para um CSI: tem drogas, violência e gente má, mas tratados com mais distanciamento e frieza.

O chamado do cuco é um romance policial ambientado em Londres e que introduz o detetive particular Cormoran Strike, contratado para investigar a morte da supermodelo Lula Landry. Apesar de as investigações da polícia terem considerado o caso um suicídio, o irmão adotivo da moça está certo de que ela foi assassinada, e recorre a Strike para solucionar o crime.

A partir daí, diversos personagens – alguns bastante suspeitos, outros nem tanto – são entrevistados pelo detetive e dão seu ponto de vista, por vezes contraditórios, em peças de um quebra-cabeça que somos convidados a montar junto com Strike. Essas peças são numerosas e muito pequenas, e só podemos começar a supor o assassino na altura da página 200, que é quando o livro começa a ficar um pouco mais interessante. Apesar de todos os personagens serem bem elaborados, o que segurou a minha leitura na primeira metade da obra foi o detetive em si. Em meio a tantas personagens novas sendo apresentadas por um narrador onisciente e imparcial, meu interesse foi puxado pela única constante ali, que é a vida problemática de Strike, com seu noivado recém-terminado e as lembranças de uma infância complicada ao lado da mãe drogada. Strike é orgulhoso e inteligente, e tem certo carisma.

Não posso deixar de mencionar também sua nova secretária, Robin, uma mulher prestativa e polivalente que está encantada com o trabalho do detetive. É interessante ver o cotidiano dela no escritório, atribulado e às vezes com alguns constrangimentos. Revelando pouco a pouco alguns fatos sobre a personalidade dos dois, o relacionamento entre Robin e Strike vai se desenvolvendo, sem evoluir para nenhum romance (o que, na minha opinião, teria sido uma subtrama bem clichê, ponto para a autora por tê-la evitado!).

A investigação feita por Strike não traz fortes emoções. Não digo que seja um livro em que “nada acontece”; pelo contrário, o detetive está o tempo todo fazendo entrevistas e juntando novas pistas. Mas o ritmo de leitura é constante – não há revelações bombásticas nem cliffhangers que deixem o leitor sedento por mais. Ao final, eu não me sentia muito mais próxima de descobrir o assassino– apesar de todas as informações reunidas, o narrador não revela ao leitor qual é a linha de pensamento do detetive, e quais são as pistas mais relevantes.

Mas o que me incomodou de verdade no livro foi o desfecho. A explicação do crime e a revelação do assassino foram bastante decepcionantes. A autora tenta surpreender com um assassino improvável, cuja motivação para o crime é razoável, mas acaba não explicando direito as atitudes dele e de outros personagens, deixando várias pontas soltas. É decepcionante ler 430 páginas sobre um crime para, ao fim, não engolir bem a sua explicação; seria melhor se o assassino fosse um dos suspeitos principais e a autora tentasse inovar menos e desenvolver a trama melhor.

Como disse uma amiga minha, é uma autora que escreve bem, mas que errou o tipo de romance. Cormoran Strike vai protagonizar mais um livro de Robert Galbraith (The Silkworm, com lançamento em inglês previsto para junho deste ano). É possível que eu leia este livro pelo personagem e pela promessa de que o próximo crime seja mais interessante. Mas tenho que dizer que não está no topo da minha lista.

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O chamado do cuco
Autor: Robert Galbraith
Tradutora: Ana Saldanha
Editora: Rocco
Ano de publicação: 2013
488 páginas

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