[Resenha] A lista dos desejos

22717041-b7bb-49ab-8843-e5191145df2fSinopse:

Em A lista dos desejos, Eoin Colfer apresenta Meg Finn e Belch Brennan, dois adolescentes problemáticos mergulhados numa existência de pequenos delitos e golpes. Órfã de mãe e maltratada pelo padrasto, nada mais resta a Meg a não ser se unir a Belch em um de seus planos mais audaciosos ─ invadir o apartamento de Lowrie McCall, um velhinho solitário e ranzinza, com uma vida tão triste quanto a sua. O plano sai de controle quando Belch fere o pobre idoso e Meg decide ajudá-lo, com resultados imprevisíveis.

Fonte: Livraria Cultura

Meg Finn morreu. Seu colega assaltante Belch também. O menino, um delinquente que há tempos dava trabalho pra polícia, foi direto para o inferno. Meg, porém, não foi a lugar nenhum. Ficou presa entre o céu e o inferno, porque sua aura era metade boa, metade má. Agora ela tem pouco tempo pra mudar a cor dessa aura e decidir seu destino. A solução que encontra é compensar seus últimos erros em vida, ajudando o velho Lowrie McCall, cuja casa ela estava assaltando na noite de sua morte.

Lowrie tem uma lista de desejos que quer realizar antes de morrer. Na esperança de mudar o próprio destino, a menina (na verdade, seu fantasma) topa ajudar o velho a realizar esses desejos, e juntos eles viajam pela Irlanda para fazer isso. O problema é que o Diabo não quer que Meg vá para o céu, e envia Belch atrás dela para atrapalhar seus planos.

O espírito de Belch, mau e um tanto selvagem (sua alma é meio canina), não é lá um vilão muito ameaçador – passa mais tempo resolvendo problemas técnicos do que de fato fazendo algo para atrapalhar Meg. É impressionante e um pouco inverossímil que o menino consiga se atrapalhar tanto, uma vez que o inferno é todo tecnológico (mais do que o céu porque, de acordo com o livro, são poucos os programadores enviados para São Pedro) e um gênio da informática até lhe deu um implante cerebral capaz de escanear ambientes, transportar o fantasma do menino por redes elétricas, entre outros.

Tudo isso é explicado em um sistema de magia-tecnologia bem detalhado, típico do autor. Para quem não conhece Eoin Colfer, ele escreveu a série Artemis Fowl e é um mestre em desenvolver tramas que misturam magia e tecnologia, em sistemas complexos mas compreensíveis, descritos numa linguagem acessível e gostosa de ler. Sou muito fã de Artemis Fowl, e A lista dos desejos não me decepcionou – o estilo de Colfer é viciante, e ao terminar um capítulo, sempre ficava ansiosa pelo próximo. Ele tem uma habilidade incrível de prender o leitor, com tramas plausíveis e ao mesmo tempo improváveis.

Uma das coisas que não engoli foi a dimensão do esforço que o Diabo faz para conseguir a alma de Meg. A justificativa dada por ele é que a menina é criativa e portanto tem potencial para fazer grandes maldades, mas a obra não trata de temas muito pesados e os crimes de Meg, quando revelados ao leitor, não parecem assim tão inovadores. A insistência de Lúcifer lembra aquela história que conhecemos de Pokémon: a Equipe Rocket a toda hora gasta esforços infinitos na tentativa de roubar… um Pikachu. No livro, a justificativa mais aceitável para isso acaba sendo a do subcomandante do inferno, Belzebu: a de que seu chefe é extremamente teimoso e invocara com Meg.

Neste livro, o sistema não é tão bem estruturado como o de Artemis Fowl. Em alguns momentos, as regras malucas criadas por Colfer para o funcionamento das almas parecem oscilar no limite da suspensão da descrença. Mas o autor sabe disso e até aproveita essa brecha: em certo momento, Meg convence Lowrie de que, graças à influência dela, o velho agora tem poderes hipnóticos. Dentro desse universo, isso forçaria bastante a barra, mas Meg estava apenas tirando sarro do homem, o que foi inusitado e um dos momentos mais cômicos da história.

Aliás, o relacionamento entre os dois protagonistas, Meg e Lowrie, se desenvolve aos poucos e é gostoso de acompanhar. O velho é o único personagem vivo que vê e ouve o fantasma de Meg (aliás, vários diálogos cômicos acontecem graças ao fato de que outros personagens nunca sabem com quem o homem está realmente falando), e no começo os dois só estão juntos pelos próprios interesses, sendo desagradáveis um com o outro o tempo todo. Ambos são personagens cativantes e bem construídos, e ao longo do livro o leitor descobre mais sobre o passado de cada um, e entende melhor como seussofrimentos determinaram tudo o que são no presente.

O livro é narrado em terceira pessoa, com um narrador onisciente que reveza entre acompanhar Meg e Lowrie e mostrar os outros envolvidos no caso. Os trechos que se passam no inferno ou na porta do céu também são muito legais. São Pedro não quer que Belzebu interfira no destino de Meg, o que este faz pelas suas costas, e os diálogos entre os dois (por celular!), bem como várias outras piadinhas dessas partes da narração, são bem engraçados num estilo típico de Colfer.

A trama da obra é um tanto previsível, mas isso é compensado pelo fato de que, em cada missão pelos desejos de velho, Meg e Lowrie encaram situações bastante inusitadas e criativas. É uma história divertida sobre amizade, redenção, e o bem e o mal, com um estilo jovial e bem diferente ─ a escrita é tão deliciosa que compensa os pequenos furos. Foi a minha primeira leitura de 2015 e acho que é um bom presságio para este ano –é um livro excelente. Adorei!

*

A lista dos desejos
Autor: Eoin Colfer
Editora: Record
Ano de publicação: 2006
288 páginas

4 respostas em “[Resenha] A lista dos desejos

  1. Oi Bárbara,
    Eoin Colfer é um daqueles autores que sempre tive curiosidade de ler, mas ainda n arrumei tempo. Apesar de criativa, achei a premissa de A Lista dos Desejos meio forçada. Esse coisa toda de aura 50/50 não me convence.
    Então, quando eu for ler algo do autor, provavelmente vou ficar com Artemis Fowl.
    Ahh, morri de rir com a comparação com Pokemon hahaha.
    Abraço,
    Alê
    http://www.alemdacontracapa.blogspot.com

    • Ah, fique com Artemis Fowl sim, Alexandre! Eu sou apaixonada pela série, e acho que ela é um excelente exemplo da escrita e da criatividade desse autor.

  2. Eu li a sinopse e pensei “Nossa, praticamente o mesmo mote do Artemis Fowl”, mas ai quando lia resenha em si vi que não é exatamente igual. Para mim Eion sempre vai ser genial por causa do Artemis (ele que me salvou da minha sede de “quero mais Harry Potter). Uma pena que eu acabei nem lendo todos os livros, mas quem sabe um dia eu não consiga e ainda leia mais esse de quebra 🙂

    Beijos, Babs!
    Um Metro e Meio de Livros

    • Oi, Bá! Esse livro é bem diferente de Artemis, mas vale a pena também. Serviu para suprir minha carência do autor – aliás termide Artemis Fowl, é maravilhoso. 😀

O que achou deste post?

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s