Esta resenha foi feita com base no e-book em inglês da Orion Books. As traduções foram feitas por mim.
Alcatraz é um adolescente desastrado que um dia descobre sua verdadeira missão e tem sua vida radicalmente transformada. Agora, com a ajuda de uma equipe muito especial, o herói precisa deter os Bibliotecários do Mal antes que eles dominem o planeta de uma vez por todas.
Fonte: Livraria Cultura
Além de ser autor de fantasia épica e urbana, nas horas vagas Brandon Sanderson escreve uma série infantojuvenil.
A premissa é a seguinte: Alcatraz, um órfão que passou a vida pulando de uma casa adotiva para outra, tem uma habilidade peculiar: quebrar coisas. Se abre uma porta, a maçaneta sai em sua mão; se liga o fogão, a cozinha pega fogo, e por aí vai. Em seu aniversário de 13 anos, recebe um presente de seus pais verdadeiros: um saquinho de areia, sua “herança”. Ele mal tem tempo de pensar sobre isso quando chega um velho se apresentando como seu avô, e salva Alcatraz de uma tentativa de assassinato.
É então que ele vai aprender a verdade sobre suas origens: Alcatraz vem da família Smedry e é um Oculator, pessoas com talentos muito especiais que vivem em áreas não controladas por Bibliotecários (os quais controlam o mundo conhecido por nós). Agora eles precisam recuperar o saquinho de areia, que os Bibliotecários roubaram por motivos nefastos. Nisso, são ajudados por dois primos de Alcatraz e o “cavaleiro” do grupo, uma garota de treze anos chamada Bastille (não, os nomes de prisão não são mera coincidência).
Vovô Smedry também tem um talento: chegar atrasado. No começo parece que Brandon está só se divertindo criando habilidades absurdas, mas o legal é ver como ele consegue transformar esses talentos em poderes de verdade (é bem útil chegar sempre atrasado à própria morte!). Além disso, é claro que mesmo um livro infantojuvenil de Brandon tem todo um sistema de magia bem bolado – o poder vem de óculos, mais especificamente, de lentes forjadas com diferentes areias, que permitem ao usuário fazer coisas diferentes.
Mas esse é de fato o livro em que o autor mais se deu liberdades: também inclui dinossauros britânicos falantes, monstros feitos com páginas de romances e carros que se dirigem sozinhos (tudo perfeitamente explicado no universo do livro!).
A narração é feita em primeira pessoa por Alcatraz – que logo no começo avisa que, nas terras controladas por Bibliotecários, o livro será vendido como uma “fantasia” escrita por “Brandon Sanderson” –, e o maior objetivo do narrador é provar ao leitor que ele é uma péssima pessoa e não um herói. O legal é que Alcatraz não só conta a história, mas descreve suas técnicas narrativas, explicando, por exemplo, o que é um cliffhanger, como chamar a atenção do leitor e o que os autores fazem para despertar certas emoções. A narrativa é bastante engraçada, graças a todas as circunstâncias absurdas desse mundo e pelo fato de Alcatraz ser extremamente sarcástico. E embora ele insista que é não é uma boa pessoa, tem um desenvolvimento muito legal nesse primeiro livro.
Achei a narrativa um pouco arrastada em certas partes, mas o sistema de magia é bem original, o livro aborda a própria construção de histórias, os personagens são bem construídos e há algumas reflexões interessantes. Com certeza não é meu livro preferido de Brandon, mas daria a um adolescente – e a continuação já está disponível em português.
Alcatraz contra os Bibliotecários do Mal
Série Alcatraz, vol. 1.
Autor: Brandon Sanderson
Tradutor: Ricardo Gouveia
Editora: Benvirá
Ano desta edição: 2010
288 páginas.
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Citações preferidas
Depois de ler minha história até aqui, você provavelmente tirou algumas conclusões. Talvez – apesar dos meus melhores esforços – esteja sentindo um pouco de simpatia por mim. Afinal, órfãos são heróis extremamente simpáticos.
[…] É óbvio que você é uma pessoa de juízo ruim. Peço encarecidamente que pare de tirar conclusões que não lhe pedi para tirar. É um hábito muito ruim, e deixa os autores rabugentos.
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Algumas pessoas imaginam que os autores escrevem livros porque temos imaginações férteis e querem compartilhar sua visão. Outras imaginam que os autores escrevem porque estão repletos de histórias […]. Ambos os grupos estão errados. Autores escrevem livros por uma única razão: eles gostam de torturar pessoas.
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Eu estava percebendo algo muito difícil. Estava aos poucos aceitando que o modo como eu fazia as coisas – o modo como meu povo fazia as coisas – poderia não ser o melhor. Em outras palavras, estava sentindo humildade.
Espero sinceramente que você nunca tenha que sentir essa emoção. Assim como aspargo e peixe, não é tão bom pra você quanto todo mundo diz. Egoísmo, arrogância e insensibilidade me levaram muito mais longe.