Esta semana, o Sem Serifa presta uma homenagem ao Islã. A rica cultura islâmica é repleta de belas histórias e de personagens fascinantes, o que rende muito material para literatura. Selecionamos alguns livros para quem quer aprender mais sobre essa cultura ou apenas apreciá-la – obras de autores islâmicos ou que fizeram uma pesquisa profunda e souberam retratar o Islã de forma respeitosa e artística.
E para dar início a este especial, listamos a seguir algumas indicações de livros muito bons com essa temática! Obrigada a Gi Pausa Dramática pelas recomendações de Sultana, O livreiro de Cabul, Persépolis e Palestina!
Tem outras dicas? Deixe nos comentários!
Observação: Selecionamos nossas indicações para esta semana levando em conta sua qualidade artística. Nenhuma de nós é estudiosa do Islã. Portanto, qualquer termo usado incorretamente não teve a intenção de ofender – se encontrar algum erro conceitual nos posts desta semana (ou de qualquer outra), por favor nos avise e ficaremos felizes em corrigi-lo.
Ficção
O caçador de pipas
Livro de estreia de Khaled Hosseini, conta a linda e triste história de dois meninos que cresceram juntos em Cabul. A obra é excelente para apresentar o Afeganistão aos leitores ocidentais, além de dar muitas lições de vida.
A cidade do sol
O segundo romance de Khaled Hosseini conta a história de duas mulheres cujas vidas se entrelaçam. O pano de fundo é o Afeganistão, desde os anos 1970 até a década de 2000, um período conturbado que viu invasões estrangeiras e guerras civis. A obra é extremamente tocante, e aqui você confere a resenha completa.
Habibi
A história conturbada de dois companheiros de infância é contada nessa primorosa história em quadrinhos de Craig Thompson. Com ilustrações maravilhosas e muitas explicações sobre as tradições e histórias islâmicas, é uma história tocante, que eu não poderia recomendar o suficiente. A não ser, é claro, que fizesse uma resenha.
Sultana
Princesa
As filhas da princesa
Princesa Sultana
Relatos de uma princesa saudita escritos por Jean Sasson, que morou no Oriente Médio por 12 anos. A princesa se identifica como Sultana Al Saud e é uma das muitas filhas de um patriarca riquíssimo. Ela relata uma infância marcada por uma nítida diferença de tratamento dada pelo pai ao seu irmão Ali – que desde pequeno aprende a tirar proveito de sua condição de filho homem. Durante a trilogia, são mostradas inúmeras injustiças e opressões sofridas por mulheres próximas a Sultana, desde o assassinato de um filhote de cachorro até um estupro com graves sequelas. É acentuada a hipocrisia dos homens da família, que se apoiam em interpretações do Corão para perpetrar violências e zombar dos “infiéis”, enquanto violam preceitos sagrados com bebidas alcoólicas, pornografia e ostensivas viagens ao exterior, nas quais encaram as ocidentais como sexo fácil e inconsequente. Vemos também estratégias e artimanhas sutis que as mulheres sauditas aplicam para conseguir algumas concessões de seus pais, irmãos e maridos, em uma sociedade que sequer permite que elas dirijam um carro. É muito interessante ver o amadurecimento de Sultana e suas preocupações evoluírem das possibilidades do próprio casamento às consequências da criação de suas filhas dentro da cultura saudita.
O Sonho da Sultana (dica da Mameha!)
Confira informações sobre o conto e sua autora e faça o download gratuito no Momentum Saga.
Não ficção
A filha do contador de histórias
A jornalista Saira Shah nasceu na Inglaterra, mas sempre se sentiu afegã, como sua família. Ao longo de sua carreira, viajou várias vezes ao país, documentando as guerras e a vida dos locais, mas também buscando a própria identidade. A resenha completa está aqui.
O fotógrafo
Esta história em quadrinhos é o relato de um fotógrafo e um quadrinista que viajaram ao Afeganistão com os Médicos Sem Fronteira. Os quadrinhos de Emmanuel Guibert são intercalados com as fotografias de Didier Lefèvre para contar histórias impressionantes do povo afegão – algumas das quais nos fazem questionar nosso modo de ver o mundo.
O livreiro de Cabul
Åsne Seierstad passou alguns meses sob uma burca em um lar afegão de – adivinhem só – um livreiro. Sultan Khan (cujo nome verdadeiro é Shah Muhammad) pode ser considerado um homem liberal no Afeganistão pelo mero fato de acolher uma estrangeira em sua casa. Ele tem um imenso orgulho da cultura e da literatura nacional, apesar das dificuldades sofridas com o regime comunista e com o Talibã para manter o seu negócio. Em sua estadia, Åsne relata as complicadas relações familiares, as restrições das liberdades civis impostas pelo Talibã e as duras opressões sofridas pelas mulheres afegãs, por vezes deixando seus parâmetros culturais influenciarem na maneira como apresenta os fatos. O que mais chama atenção é que, mesmo no lar de um homem culto, as opressões se reproduzem. Shah Muhammad não gostou da maneira que foi retratado e processou Åsne (que se ofereceu para usar uma parte dos lucros do livro para um fundo de incentivo à literatura afegã), além de escrever sua própria versão da história: Eu sou o livreiro de Cabul.
Palestina
Os dois volumes – Uma nação ocupada e Na faixa de Gaza – foram as primeiras reportagens em quadrinhos que li, gênero que até então desconhecia. Com uma introdução explicativa e uma imensa sensibilidade em retratar as dores e desconfortos dos refugiados, Sacco dá rostos aos números que há anos aparecem nas notícias. Mais do que uma reprodução de histórias, é o relato de como essas histórias foram obtidas por Sacco em suas viagens. A resenha completa está aqui.
Persépolis
A autobiografia gráfica de Marjane Satrapi, originalmente dividida em quatro volumes, mostra as drásticas mudanças no modo de vida dos iranianos na transição política da queda do Xá à república islâmica e o choque cultural resultante, já que durante o regime do Xá hábitos ocidentais eram comuns. A autora fala sobre o passado persa do Irã e da riqueza cultural de seu país. O contexto da Guerra Irã-Iraque dá um tom ainda mais dramático à infância de Marjene, que se muda com a família para a Áustria durante a adolescência para depois retornar ao Irã, sem que a sensação de ser uma estrangeira se amenize. A adaptação cinematográfica concorreu ao Oscar de melhor animação em 2008. Leia a resenha!
“O Caçador de Pipas” tem uma baita lição de vida mesmo, lembro até hoje que meu conceito de amizade praticamente mudou depois daquela leitura. Não lembro exatamente o nome dos personagens (acho que um deles era Khaleb), mas a história ainda está bem gravada na minha mente.
Abração!
Oi, Vagner! Do Hosseini só li “A cidade do sol”, mas gostei tanto que queria ler “O caçador de pipas”, que a Babi só elogia… agora preciso me preparar emocionalmente pra isso, haha.
Obrigada pela visita! 🙂
Indico O Sonho da Sultana. É um conto, foi traduzido recentemente para o português, mas é uma crítica à forma como a sociedade trata as mulheres. Foi escrito em 1905, mas é super atual.
Ah, o download é gratuito. 😀
Que dica legal! Depois vou inserir no post. Obrigada pela visita! 🙂
Os Não ficção, principalmente da Palestina de Joe Sacco são excelentes. Super indico, tenho eles e mais uns 10 títulos que indicaria para quem deseja começar a conhecer o assunto.
Livros sobre Paquistão e Afeganistão é uma super descoberta aos leitores ocidentais, que tão pouco ou nada sabem de uma região também como as outras tão rica, tão linda e tão desconhecida.
Oi, Karine! É verdade, nós ocidentais costumamos saber muito pouco sobre esses países. Eu comecei com os livros do Hosseini e este ano fui para o da Saira Shah, e amei.
Obrigada pelo comentário!
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