Sinopse:
A humanidade vive o seu momento mais próspero. Há mais de dez mil anos um império reina absoluto sobre todos os mundos habitados. Ninguém acredita que esse tempo luminoso possa ter fim. Ninguém, exceto Hari Seldon, o criador de uma ciência revolucionária capaz de prever o futuro da raça humana.
Fonte: Aleph
Clássico da ficção científica, a trilogia da Fundação e suas continuações são grandes obras de Isaac Asimov, comparadas, em importância, a O senhor dos anéis. O autor criou um universo e narrou sua história a longo prazo, abrangendo muitas gerações e mudanças no destino seguido pela humanidade. O blog Livrismos tem um post interessante para quem quer saber mais sobre a série e decidir em que ordem ler os livros – e foi graças a esse post que eu decidi começar por Fundação.
Neste livro, Asimov nos apresenta um império que governa toda a galáxia, mas cuja soberania está prestes a ter um fim. Essa queda, e uma subsequente era de trevas para toda a humanidade, é prevista ainda durante o auge do império, pelo psico-historiador Hari Seldon. O cientista propõe a criação de uma enciclopédia que reúna todo o conhecimento humano, a fim de restaurar a civilização depois desse período de trevas e barbárie.
Assim, Asimov começa sua saga com dois conceitos muitíssimo interessantes. O primeiro é a retomada do eterno sonho humano de juntar todo o conhecimento em uma só fonte de pesquisas – objetivo tanto da Biblioteca de Alexandria como da Wikipédia. O segundo conceito é a psico-história – uma ciência que mistura matemática e história, fazendo cálculos estatísticos para prever, a longo prazo, o destino da humanidade. Essa ciência, praticada pelo primeiro e mais importante personagem do livro, é bastante exata, prevendo situações políticas e sociais, movimentos das massas, e decisões de líderes e suas consequências. Graças a ela, Seldon não apenas prevê as grandes crises da humanidade, mas também traça um plano para contorná-las.
Além disso, o autor também levanta uma discussão bastante pertinente à nossa própria história: a religião como forma de dominação cultural. Em seu universo, essa dominação é representada por uma política de colonialismo interplanetário, em que a imposição de poder só é possível graças a uma religião embasada na ciência – os conhecimentos científicos são reservados ao planeta dominante, de modo que, para os dominados, os fenômenos ficam sem explicação e são relacionados ao divino. É como acontece tantas vezes na nossa história, em que a detenção de conhecimento determinou tantas relações de poder entre os povos. Interessante ver como Asimov mostra isso comparando ciência e misticismo – o que me lembra a frase de Arthur C. Clarke, outro célebre escritor de ficção científica: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinta de magia”.
O que estamos enfrentando é uma crise Seldon, Sutt, e crises Seldon não são resolvidas por indivíduos, mas por forças históricas.
As cinco histórias apresentadas no livro, originalmente publicadas separadas, contam a situação da Fundação (responsável pela criação da enciclopédia) e do Império em diferentes momentos, com várias décadas de intervalo entre um e outro. A intenção do autor era ser abrangente, e o resultado é uma visão bem próxima da de historiadores: ele não se foca em personagens específicos, pois o que importa não são os sentimentos e aspirações dos indivíduos, e sim suas grandes decisões e o rumo tomado pelos planetas e seus governos.
Se você já leu alguma obra que se focava principalmente na história das personagens e teve a sensação de que o universo à volta delas poderia ser muito mais interessante, Fundação vai te deixar com a impressão contrária. A história a longo prazo é, sim, muito interessante. Mas o desprendimento com relação aos personagens causa certo estranhamento. Suas personalidades não são aprofundadas e, portanto, eles não cativam o leitor.
Entre os homens das várias gerações da Fundação, Hari Seldon se torna uma lenda e um guia, cujas palavras são consultadas em tempos de crise. Outros grandes líderes aparecem de tempos em tempos, e o leitor é apresentado aos mais importantes. Um deles, Salvor Hardin, tem como lema a frase “A violência é o último refúgio do incompetente”. Isso já prenuncia que, nesta obra de Asimov, todas as batalhas serão políticas. Nada de descrições de guerras; os conflitos de Fundação são resolvidos em reuniões de prefeitos e parlamentares e em negociações com comerciantes.
Essas situações são bastante interessantes e bastante lógicas, mas a forma como são narradas muitas vezes não é convincente, e chega a ser cansativa. A maior parte da obra é apresentada em diálogos, e é muito frequente que um personagem diga em voz alta algo que seu interlocutor claramente já sabia, e que, portanto, é apenas uma longa e detalhada explicação para o leitor. Esse recurso, que tanto prejudica a suspensão da descrença, é às vezes inevitável, mas seu uso extensivo deixou muitas cenas deste livro bastante cansativas e até inverossímeis.
O universo da série é interessante e parte de algumas premissas bastante inteligentes. Entre as obras que li do autor, esta foi a primeira que não me cativou completamente, mas com certeza darei uma chance às suas continuações.
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Fundação
Autor: Isaac Asimov
Tradutor: Fabio Fernandes
Editora: Aleph
Ano de publicação: 1951
Ano desta edição: 2009
240 páginas
Agora quero reler os três que tenho de um gole só.
Att
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Fiquei profundamente decepcionado com a mudança que fizeram com Salvor Hardin. Um personagem altamente cerebral que imortalizou “a violência é o último recurso do incompetente” agora segura uma arma! Quem teve uma idéia tão infeliz?!
Vou acompanhar até o fim, a série não é ruim, “só não é Fundação”.
Mas o melhor foi que me deu vontade de ler a trilogia novamente. Já comecei!