[Resenha + Sorteio] City of Thieves

Esta resenha foi feita com base na edição da Plume (Penguin). A tradução de trechos foi feita por mim.

capacitySinopse:

Um jovem escritor, convidado para escrever um ensaio autobiográfico, decide trocar o relato de sua própria vida pela história do avô, que combateu os alemães durante o cerco a Leningrado, na Segunda Guerra Mundial. Relutante, o avô aceita contar, pela primeira vez, o que ocorreu naqueles dias – uma odisseia de dois jovens determinados a sobreviver a todo custo, em meio ao frio, à fome, à loucura dos oficiais russos e ao perigo iminente do Exército alemão.

Fonte: Livraria Cultura

Escolhi este livro exclusivamente pela sinopse, segundo a qual a história se passava durante o cerco dos nazistas a Leningrado, em 1942. Como me interesso pelo período e nunca li um romance histórico sobre ele, resolvi ler o livro. Só depois de tê-lo em mãos reparei no autor: David Benioff, mais conhecido por ser um dos produtores de Game of Thrones. E eu, que abandonei a série por “divergências artísticas” com eles, me vi torcendo para o livro ser ruim. Infelizmente, acabei gostando muito dele. (Tudo bem, Benioff, desta vez você ganhou – mas ainda não volto a ver a série!)

A história é contada dentro de uma “moldura”: no prólogo, David (ou seu alter ego) nos conta sobre seus avós, que sobreviveram à Segunda Guerra, e sobre como pediu ao avô que lhe contasse sobre o cerco. O resto do livro é este relato, embelezado pelas palavras do neto-autor.

Em 1942, Lev Abramovich Beniov era um garoto judeu de 17 anos que morava sozinho em Leningrado (antiga São Petersburgo) depois que a mãe e a irmã fugiram da cidade. Como eu disse, a história do livro – que decorre inteira em uma semana – se passa durante o famoso cerco à cidade, conhecido como os “900 dias”. Para não dizer que o autor exagera nas descrições de fome, desespero e violência, basta lembrar que morreram cerca de 642.000 civis durante o período (sem contar as mortes no exército!). Como diz Lev, “Em junho de 1941, antes da chegada dos alemães, achávamos que éramos pobres. Mas junho parecia o paraíso quando o inverno começou.” Lev começa o livro faminto mas contente por se ver independente da família – e, a seus olhos, heroicamente defendendo a cidade.

O problema começa quando ele e alguns colegas de prédio quebram o toque de recolher para investigar o corpo de um paraquedista alemão que caiu na rua, e Lev vai preso. Como ele bem sabe, não há comida nem para os patriotas na cidade, muito menos para criminosos, e o garoto tem certeza de que será fuzilado pela manhã. Durante a noite na cadeia, conhece Kolya, um soldado alguns anos mais velho, confiante, expansivo e amante da literatura, que foi acusado de deserção mas não parece nem um pouco preocupado com a situação deles. E, de fato, os dois não são fuzilados, pois um general os poupou para uma missão muito especial: encontrar uma dúzia de ovos para serem usados no bolo de casamento de sua filha.

Os dois são libertados com um passe especial, mas sem seus cartões de racionamento. Sabem que, se não cumprirem a missão em uma semana, vão morrer. Os garotos emergem na cidade desolada e aí começa uma busca pelos tais ovos que os levará para fora de Leningrado e até os próprios nazistas.

A premissa é genial, o ritmo é veloz e as descrições são extremamente evocativas, mas Lev e Kolya são os destaques e a melhor parte do livro. O relacionamento dos dois, que não podiam ser mais diferentes, é o que torna quase impossível parar de virar as páginas.

Lev é cauteloso, ansioso, insone e socialmente inepto, e logo percebe que não é nenhum herói – na verdade, é apenas um personagem secundário na história heroica de Kolya. Este é impulsivo, charmoso, e sempre confiante. Também nega ser um desertor – afirmando, em vez disso, que estava defendendo uma dissertação sobre um autor obscuro de que Lev nunca ouviu falar, o que é obviamente mentira. Ao longo do livro não para de azucrinar Lev sobre ser virgem, entre outras coisas, mas claramente se importa com o garoto. Em resumo, é um personagem criado para você se apaixonar. Vale dizer que ele não aparece no prólogo, o que já sugere o que vai acontecer até o final do livro…

Não darei spoilers da trama, mas o prólogo já nos dá duas coisas para esperar: que Lev matará dois alemães e que durante essa semana conhecerá sua futura esposa. Mas me envolvi tanto na história desde o começo que até me esqueci desses dois fatos, e não sei até que ponto o prólogo era mesmo necessário.

De qualquer modo, a narrativa tem um equilíbrio excelente entre humor, tragédia e horror, mostrando cenas de violência e desolação extremas em meio a discussões sobre literatura, sexo, política etc. entre os protagonistas. Não que essas conversas estejam fora de lugar: fica bem claro que, para não perder a sanidade num lugar em que atrocidades estão sendo cometidas e cadáveres são deixados na rua, Lev precisa se focar em outras coisas. Quaisquer outras coisas. Especialmente em sua relação (ou falta dela) com as mulheres, e é comovente, por exemplo, vê-lo se preocupar em impressionar uma garota quando estão fugindo de nazistas no meio do inverno russo.

Benioff parece ter realmente pesquisado sobre o cerco, pois a narrativa está cheia de detalhes que tornam a situação horrivelmente real para o leitor. Ele também faz várias referências culturais para as quais não há explicações, mas que o leitor deve entender pelo contexto mesmo se não conhecer muito da cultura russa. A tensão vai crescendo até um final bastante satisfatório (exceto pela explicação da suposta deserção de Kolya, que achei meio decepcionante). De todo modo, é um livro de rápida leitura, tenso e sensível, com momentos de rir alto… e momentos de cortar o coração. Quem gosta de sofrer vai adorar.

A linguagem é relativamente simples e acho um bom livro pra quem está querendo começar a ler em inglês, pois a história realmente te faz continuar a leitura. Vamos sortear um exemplar, clique no banner para participar!

cityofthieves_sorteio

Regras

– As inscrições do sorteio terão início no dia 20/04/2015 e se encerrarão no dia 04/05/2015.

– Qualquer pessoa pode participar, exceto quem tiver ganhado alguma promoção do Sem Serifa nos últimos 6 meses.

– Para participar, é necessário preencher os dois campos obrigatórios do formulário. Os terceiro campo é opcional, mas aumenta as chances de ganhar.

– O resultado será divulgado na nossa página do Facebook no dia 05/05/2015.

– O vencedor será contatado por e-mail e deve responder com seu endereço completo em até 3 dias. Se não responder, o sorteio será refeito.

– Se o vencedor não tiver completado as duas etapas obrigatórias do formulário, o sorteio será refeito.

– O envio do exemplar de City of Thieves é responsabilidade do Sem Serifa e será feito em até 30 dias após o anúncio do resultado.

SORTEIO ENCERRADO. O ganhador foi Gabriel Lucena Mattos!

*

City of Thieves
Autor: David Benioff
Editora: Plume (Penguin Group)
Ano de publicação: 2008
260 páginas

Livro cedido em parceria com a Penguin Stacks.

 

Citações preferidas

Ao contrário do que se acredita comumente, a experiência do terror não torna alguém mais corajoso. Talvez, no entanto, seja mais fácil esconder seu medo quando você está com medo o tempo inteiro.

*

Não havia nada por trás dos olhos azuis de Kolya, nem medo, nem raiva, nem entusiasmo pela promessa de uma briga – nada. Isso, eu entendi depois, era o seu dom: o perigo lhe deixava calmo. Ao seu redor as pessoas lidavam com o terror dos modos usuais: estoicismo, histeria, falsa jovialidade, ou alguma combinação dos três. Mas acho que Kolya nunca acreditou inteiramente em nada daquilo. Tudo na guerra era ridículo: a barbaridade dos alemães, a propaganda do Partido, o fogo cruzado de balas incendiárias que cruzavam o céu noturno. Tudo parecia para ele a história de outra pessoa, uma história incrivelmente detalhada na qual ele tropeçara e da qual não podia escapar.

*

“Esse é o nosso plano? Vamos andar cinquenta quilômetros, passar diretamente pelos alemães, ir até uma fazenda coletiva que talvez não tenha sido queimada, apanhar uma dúzia de ovos, e voltar pra casa?”

“Bem, qualquer coisa soaria ridícula se você dissesse nesse tom de voz.”

“Tom de… estou fazendo uma pergunta! Esse é o nosso plano? Sonya nunca esteve lá! Como a gente vai achar o lugar?”

“É Mga! O quão difícil pode ser achar qualquer coisa em Mga?”

“Eu nem sei como achar a porra de Mga!”

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12 respostas em “[Resenha + Sorteio] City of Thieves

  1. Amo estudar sobre a Segunda Guerra! Comecei a gostar após ler A Menina Que Roubava Livros, e até agora já li Adolf ni Tsugu (um mangá MARAVILHOSO sobre a Segunda Guerra), Hiroshima – A Cidade da Calmaria (outro mangá lindo, logo após a explosão da Bomba de Hiroshima) e O Menino do Pijama Listrado. Estou louco para ler outros livros sobre a Segunda Guerra (e aprender mais na escola. Infelizmente, na matéria do 9 ano, a gente só vê um pouco da Segunda Guerra para entender a Nova Ordem Mundial), principalmente O Jardim das Feras, e City of Thieves, agora.
    O que mais me chamou a atenção foi que ele me mostrou um panorama que eu não conhecia muito antes da Segunda Guerra, que é justamente o Cerco de Leningrado, que foi um evento no qual pouco ou nada estudei. Outra coisa que chamou bastante atenção foi o ponto de vista: das obras que eu li, duas eram no ponto de vista de crianças (A Menina Que Roubava Livros e O Menino do Pijama Listrado) e duas no ponto de vista de japoneses (Adolf ni Tsugu, no qual o japonês é um repórter, e Hiroshima – A Cidade da Calmaria, no qual a japonesa da primeira história é uma sobrevivente da bomba de Hiroshima), nunca antes tinha lido alguma coisa no ponto de vista de alguém que estava literalmente dentro da guerra, então, além do fato de ser sobre a Segunda Guerra, esses fatos chamaram bastante a minha atenção. Espero ganhar o sorteio!

    • Oi, Biel! Ainda não li nada do que você citou, mas também é um período que me fascina bastante, apesar de tão triste (e “A menina que roubava livros” está na minha lista há tempos). Gosto muito da história da Rússia e esse episódio do cerco foi terrível – acho que, quando eu estava na escola, nem chegamos a estudá-lo… Boa sorte na promoção, acho que você gostaria bastante do livro! E obrigada pela visita 🙂

      • A Menina Que Roubava Livros e O Menino do Pijama Listrado são mais para fazer uma introdução ao assunto, para entender mais, eu realmente recomendo Adolf Ni Tsugu, que pega do começo da Segunda Guerra e até o comecinho da guerra no oriente 🙂

  2. Pingback: [Especial] Livros favoritos de 2015 | Sem Serifa

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