Esta resenha contém spoilers do primeiro livro da série, As cavernas de aço.
Sinopse:
Após as reviravoltas de sua última missão, o detetive Elijah Baley é recrutado para investigar um caso de assassinato aparentemente insolúvel. Obrigado a enfrentar sua fobia de espaços abertos, ele viaja até Solaria, um planeta Sideral de apenas 20 mil habitantes, mas onde cada ser humano dispõe de um contingente de 10 mil robôs positrônicos para lhe servir. Baley contará novamente com a ajuda de seu inusitado parceiro no caso anterior, R. Daneel Olivaw. Mas, desta vez, a missão não será tão simples: por onde começar uma investigação em que um dos suspeitos sequer poderia estar na cena do crime e o outro, um robô, é rigorosamente programado para não ferir um ser humano?
Fonte: Aleph
Depois de ler Fundação e não me impressionar muito, decidi fazer as pazes com Asimov lendo o segundo volume da série Robôs, da qual eu gostei muito.
Neste livro, acompanhamos o detetive Elijah Baley na investigação de mais um assassinato. Desta vez, o crime aconteceu em outro planeta, Solaria, um mundo curioso onde vivem apenas 20 mil humanos. No primeiro volume, fomos apresentados a uma Terra aversa a robôs, onde revoltas populares tentam impedir as máquinas de roubar o emprego dos humanos. Solaria é o contrário: com cerca de 10 mil robôs para cada habitante, os habitantes estão muito acostumados a deixar todas as tarefas em mãos metálicas. A fobia dos solarianos é outra: eles temem a presença física de outras pessoas. Isolados em suas casas, conversam apenas por conexões holográficas e, a não ser pelo desagradável momento da reprodução, jamais permitem que outro humano os visite.
A estrutura dessa sociedade, bastante parecida com a de Admirável mundo novo (a criação das crianças é feita pelo mesmo estabelecimento que cuida de seu planejamento genético), é muito bem explicada ao longo da trama – desde a economia até os tabus. Assim como o leitor, Baley não tem qualquer informação prévia sobre Solaria, e vai descobrindo os fatos e encaixando as peças ao mesmo tempo que procede com a investigação, acompanhado mais uma vez de seu parceiro R. Daneel Olivaw.
Aliás, o personagem de Daneel não ganha tanto destaque neste livro. Depois de suas peculiaridades serem tão esmiuçadas em As cavernas de aço, ele deixou de ser novidade e agora não rouba tanto a cena (o que é uma pena, porque eu o adoro!). Aqui, Asimov aproveita o personagem para começar a questionar as diferenças entre robôs e humanos – Baley sente uma forte amizade pelo parceiro, e precisa lembrar a si mesmo que Daneel não passa de um robô.
Embora a investigação seja simples (basta conversar com umas cinco pessoas para Baley juntar pistas e encontrar o culpado), é muito bem amarrada e dinâmica – Asimov prende nossa atenção até a última página. É uma história inteligente e bem construída, mas confesso que um único elemento dela me decepcionou. SPOILERS ATÉ O FIM DO PARÁGRAFO. Sinceramente, não gostei da forma como Baley tratou Gladia, esposa da vítima e principal suspeita de cometer o assassinato. Desde o começo, ficou claro que ele a favoreceria, simplesmente porque é bonita – e porque ela usou alguns truques de sedução baratos que funcionaram bem demais com um investigador tão bom e tão desconfiado.
Junto com a investigação policial, Asimov trata de outros temas que nos ajudam a entender melhor o universo que ele criou. Um deles é a agorafobia de Baley e de todos os terráqueos, que nessa história estão acostumados à vida em cidades gigantescas inseridas em grandes domos metálicos que não lhes permitem ver o céu.
A robótica é uma ciência dedutiva e a sociologia é uma ciência indutiva. Mas a matemática pode ser aplicada em ambos os casos.
Outro tema interessante é a sociologia desse universo, com muitos planetas habitados e com robôs inseridos e disseminados na sociedade. Algumas das análises feitas pelo próprio Baley e por um sociólogo com quem o investigador conversa nos mostram as peculiaridades desse estudo dentro da série, e já apontam para o surgimento da psico-história, tema da trilogia da Fundação, que é cronologicamente posterior. É muito legal perceber como o autor é bom em amarrar suas tramas não apenas dentro dos livros, como entre uma série e outra.
De forma geral, O sol desvelado se manteve no mesmo nível de As cavernas de aço. Quem, assim como eu, gostou do primeiro volume não vai se decepcionar.
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O sol desvelado
Série: Robôs
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph
Tradutora: Aline Storto Pereira
Ano de publicação: 1957
Ano desta edição: 2014
288 páginas
Citações favoritas
De repente, ele visionou a Terra como uma bola de pedra com uma película de umidade e gás, exposta ao vazio por todos os lados, com suas Cidades que mal se fixavam na camada mais exterior, construídas de maneira precária entre a rocha e o ar.
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Alguém poderia dizer que precisamos tornar os humanos melhores. Isso é impossível, então tornaremos o robô mais seguro.
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A robótica é uma ciência dedutiva e a sociologia é uma ciência indutiva. Mas a matemática pode ser aplicada em ambos os casos.
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Um homem sem fraquezas só serve para tornar todos os outros conscientes de suas próprias imperfeições.
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Qualquer coisa poderia ser encontrada nas estimativas se a procura fosse longa e árdua o suficiente e se as informações apropriadas fossem ignoradas ou negligenciadas.
Oi Bárbara!
Eu comecei a série dos robôs por esse livro, acredita? Acho a premissa dele bem mais interessante que a de As Cavernas de Aço, mas gostei a ponto de querer conferir o primeiro também (ainda mais para poder conhecer Daneel, melhor, porque dá para perceber que o personagem tem potencial, embora não seja tão explorado nesse livro).
Beijos,
alemdacontracapa.blogspot.com
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