[Resenha] A espada de Shannara

Esta resenha foi feita com base no e-book em inglês da Little, Brown Book. A tradução de trechos foi feita por mim.

blerghSinopse:

Há muito tempo as Grandes Guerras do Passado arruinaram o mundo. Vivendo no pacífico Vale Sombrio, o meio-elfo Shea Ohmsford pouco sabe sobre esses conflitos. Mas o Lorde Feiticeiro, que todos julgavam morto, planeja regressar e destruir o mundo para sempre. A única arma capaz de deter esse poder da escuridão é a Espada de Shannara, que pode ser usada somente por um herdeiro legítimo de Shannara. Shea é o último dessa linhagem e é sobre ele que repousam as esperanças de todas as raças.

Fonte: Livraria Cultura

“As colinas e encostas apareciam e desapareciam com uma uniformidade monótona que criava a impressão na mente dos viajantes cansados de que nenhum progresso estava sendo feito.” Nenhuma outra frase do livro resume tão bem a experiência de ler A espada de Shannara.

Lançado em 1977, este é o primeiro volume de uma trilogia de fantasia épica cujo universo seria posteriormente explorado em mais de 20 obras, compondo uma famosa série do gênero. No entanto, a melhor coisa que posso dizer deste primeiro livro é que ele – por fim, contra todas as expectativas – acabou.

A história começa no Vale Sombrio, um daqueles vilarejos vagamente medievais da fantasia, onde o humano Flick e seu meio-irmão meio-elfo Shea são encontrados por um druida chamado Allanon – um cara misterioso, com poderes misteriosos, que está atrás da Shea por motivos misteriosos. A história que Allanon apresenta aos irmãos – contada num capítulo gigante que bem poderia se chamar “EXPLICAÇÕES PARA O LEITOR” – resume-se ao fato de que Shea é o herdeiro de um rei elfo das antigas (o tal Shannara) e o único que pode usar uma espada mágica do rei para derrotar o Lorde Feiticeiro, um ex-druida que teve delírios de grandeza, se tornou imortal e quer conquistar as Quatro Terras. A explicação para ele ser o único a poder usar a espada é altamente questionável.

Allanon então abandona os irmãos à própria sorte, e eles têm que se virar pra sair do Vale Sombrio e chegar até o lugar que ele indicou. Pra isso, passam num reino vizinho, Leah, e convencem Menion – um amigo de Shea em quem Flick não confia muito – a guiá-los. Quando conseguem reencontrar Allanon, o druida apresenta aos três amigos um anão, dois elfos e um príncipe humano, e reúne todo mundo em um grupo (alguns poderiam até dizer… uma Sociedade) para acompanhar Shea até Paranon, antigo lar dos druidas, a fim de reaver a espada e derrotar o Lorde Feiticeiro antes que ele conquiste e destrua as Quatro Terras.

A coisa mais surpreendente sobre o livro é que sua publicação não fez Tolkien levantar do túmulo para exigir direitos autorais, uma vez que há poucos personagens, cenários e eventos em A espada de Shannara que não possam ser diretamente relacionados a O Senhor dos Anéis.

Isso nem seria tão terrível se a narrativa fosse agradável e os personagens, interessantes e bem desenvolvidos. Infelizmente, não é o caso. Por umas boas 300 páginas, não há nada além de muita caminhada, sem grandes emoções. Além disso, as “reviravoltas” ao longo do livro são tão previsíveis que você adivinha tudo o que vai acontecer com vinte, trinta páginas de antecedência, e então é forçado a esperar os personagens sacarem o que você já percebeu há muito tempo.

Quanto aos personagens, Shea é um cara inseguro e sem muita personalidade, que passa por todo aquele drama do herói (“Por que eu?!”); Flick, seu irmão, é um pouquinho mais complexo e tem umas atitudes legais mais pro final; mas Menion é de longe o melhor personagem do livro: inicialmente arrogante e despreocupado, ele encontra sentido na vida com a missão do grupo e, ao longo da história, vira um homem de fato. Da Sociedade da Espada, os dois elfos são entidades nulas, enquanto o anão (Hendel) é um guerreiro experiente, cínico e de saco cheio, de quem eu gostei. Balinor, príncipe e herdeiro de uma terra de fronteira, é um cara nobre com problemas familiares. Uma pessoa de quem você pode depender e que faz todo mundo se sentir mais seguro e quentinho por dentro. Mas eu, no máximo, desejei vagamente que ele não morresse.

Talvez você tenha reparado que eu só mencionei homens. Mas não se preocupe, pois lá pra página 300 e tantas aparece uma (01) mulher. Ela é a única da obra, e o máximo que posso dizer sobre ela é que parece uma pessoa de bom senso e coragem, embora sirva principalmente para apoiar um dos protagonistas homens em sua difícil jornada.

Além da trama monótona, a narrativa em si é de enlouquecer o mais paciente dos leitores. Gosta de histórias detalhadas? Pois está com sorte: ninguém em Shannara dá um passo sem que o leitor fique sabendo disso. Cada dia é narrado minuciosamente, cada mudança climática analisada mais a fundo do que na previsão do tempo. E não são apenas as intermináveis descrições que vão entediá-lo: pensamentos e sentimentos são repetidos quinhentas vezes, porque tudo o que passa pela mente dos personagens, não importa o quão óbvio, tem que ser escrito – e repetido. (Entendemos na primeira: Allanon é super misterioso e tá escondendo alguma coisa!!!) Se alguém te disser que O Senhor dos Anéis tem descrições demais, pode ter certeza de que a pessoa nunca leu Shannara. Realmente não tenho palavras para descrever a tristeza que me tomava quando percebia que ainda faltavam quatrocentas-trezentas-duzentas páginas para o fim do livro.

Pois bem, o que se salva de tudo isso? Como disse, Menion Leah é um personagem bom, que poderia (e talvez deveria…) carregar o livro sozinho. Depois da página 350, começam a acontecer algumas coisas (uau!). O segredo da espada é interessante, e o modo como ela é utilizada é uma boa sacada. Algumas interpretações das raças (trolls, anões) são até que originais. E o livro é narrado em terceira pessoa onisciente, o que é bem raro hoje. (No entanto, o autor usa alguns termos modernos e/ou do nosso mundo – o que pode ter sido de propósito –, mas que eu estranhei.) Ah, e o livro tem um final fechadinho, então eu não fiquei nem levemente tentada a ler o segundo.

Em resumo: não sei como nem por que esses livros são tão famosos (e até elogiados!). Será que os outros são melhores? Jamais descobrirei. E se alguém me perguntar se deve ler essa obra, não terei dúvidas: direi à pessoa para ou (re)ler O Senhor dos Anéis, ou apostar em A roda do tempo – uma série inspirada em Tolkien que consegue ser muito mais que um decalque tedioso.

*

A espada de Shannara
Autor: Terry Brooks
Tradutora: Ana Cristina Rodrigues
Editora: Saída de Emergência
Ano de publicação: 1977
Ano desta edição: 2014
544 páginas

 

Trechos mais suportáveis

Menion também sabia que não tomara parte naquela aventura só por amizade. […] Até agora ele não tinha certeza de por que exatamente tinha sido persuadido a empreender essa jornada. Ele sabia que era menos do que um príncipe de Leah devia ser. Sabia que seu interesse no povo não fora profundo o suficiente, e nunca realmente quisera conhecê-lo. Nunca tentara entender os problemas importantes de governar justamente em uma sociedade onde a palavra do monarca era a única lei. […] Shea acreditava que ele era um homem a ser admirado. Talvez, ele pensou, mas sua vida até então parecia consistir em uma longa série de experiências dolorosas e escapadelas extravagantes que haviam tido pouco ou nenhum propósito construtivo.

*

Ele se perguntou vagamente se jamais saberia o motivo por trás de tudo o que acontecera com eles, o motivo pelo qual estavam ali agora, caçando a lendária Espada de Shannara, sobre a qual nenhum deles, exceto o místico druida, sabia alguma coisa. Ele sentia que havia uma lição em algum lugar a ser aprendida, mas no momento ela lhe fugia. Ele só queria resolver a questão e escapar de lá vivo.

*

Shea, Shea, por que teve que acontecer com alguém como você – alguém que só queria ser deixado em paz? Havia uma loucura no esquema da vida que os homens eram forçados a aceitar ou com fúria resignada ou com uma indiferença brusca. Não podia haver qualquer resolução – exceto, talvez, na morte.

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7 respostas em “[Resenha] A espada de Shannara

  1. O pessoal por aí diz mesmo que esse primeiro livro é praticamente uma cópia inspirada de O Senhor dos Anéis, mas eu nunca me interessei por essa série. Viram que está sendo feito um seriado dela? A MTV (acho) que está produzindo e a 1ª temporada abordará o 2º livro da série, As Pedras Élficas de Shannara, algo assim, que a maioria do pessoal diz ser melhor que o anterior.

    Vamos ver, os trailers que eu assisti eram bem legais, como esse aqui: http://www.youtube.com/watch?v=crjkQHnDYu0.

    Até mais!

    • Oi, Vagner! Então, infelizmente não sabia nada sobre a série quando peguei o livro… Mas li por aí que o segundo é melhor mesmo, e talvez eu veja a série. Quem sabe não seja mais emocionante na tela? rs
      Abs!

  2. Pingback: [Especial] Livros favoritos de 2015 | Sem Serifa

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