[Especial] Encontro Irradiativo

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No fim de semana passado comparecemos ao Encontro Irradiativo, um evento para discutir a diversidade e a representatividade na literatura especulativa brasileira e na cultura pop. Quem acompanha o blog sabe que nós somos fãs de boas representações de minorias em livros, então é claro que comparecemos ao evento (e mandamos perguntas, e tiramos fotos, e debatemos um pouco).

O Encontro aconteceu na Biblioteca Viriato Corrêa (uma das mais legais de São Paulo!) e teve palestrantes de diferentes gêneros, cores, orientações sexuais e identidades de gênero. Aqui vai um resumo do que rolou por lá:

Sábado, 7 de novembro

Abertura: “Irradiar diversidade: Os motivos do Manifesto Irradiativo”
Com Vic, Jim Anotsu e Ana Cristina Rodrigues
Os organizadores explicaram o que os motivou a criar o Manifesto Irradiativo e organizar o evento, passando pela sua própria necessidade de se sentir representados na cultura pop, e mencionando a carência, no Brasil, de movimentos como o We Need Diverse Books. Aproveitaram para mencionar alguns exemplos positivos de representatividade na literatura e em desenhos estrangeiros, e para responder perguntas – por exemplo, sobre como escrever um desses personagens de forma adequada, respeitosa e interessante. Falou-se também na falta de investimento das editoras em obras escritas por ou sobre minorias, que costumam ser consideradas “de nicho”.

Mesa: “A formação da diversidade: Representação para crianças e jovens”
Com Estevão Ribeiro, Nanda Café, Scarlett Binti Jua e Fábio Kabral
Nesta mesa foi discutida a importância da representatividade para a formação das crianças – em especial, falou-se muito na falta de personagens negros em desenhos animados e livros infantis, e de como representações negativas (como no polêmico caso Monteiro Lobato) são danosas às crianças. Falou-se também na problematização feita pelas próprias crianças ao absorver as representações que veem na cultura pop (e no sucesso feito por alguns desenhos bem inclusivos, como Steven Universo e Avatar: a lenda de Aang) e na responsabilidade de todos os adultos (não apenas pais, educadores e criadores de conteúdo) para com a formação da juventude. Os sorteios ao final da mesa incluíram um exemplar do livro Capitolina, o que foi bem adequado ao tema.

“Só reclama de representatividade quem nunca teve de se preocupar com isso.” (Fábio Kabral)

Mesa: “Os malefícios dos estereótipos: a ‘personagem feminina forte’, o ‘melhor amigo gay’, o ‘negro que é o engraçado da turma’”
Com Vic, Rober Pinheiro, Cecihoney e Germana Viana

O assunto dessa mesa é muito importante, e a discussão foi muito útil, mesmo para o público do evento, que já está mais antenado à inclusão de minorias – é necessário um cuidado para que essa inclusão seja feita com reflexão e pesquisa, para evitar os estereótipos de sempre. Embora os palestrantes tenham fugido um pouco do tema (e com motivo, afinal são pessoas que nem sempre têm espaço para falar, e agora precisavam aproveitá-lo), para mim foi a mesa mais interessante. A conversa foi produtiva e respeitosa, com depoimentos muito interessantes e discussão de alguns estereótipos e de como eles influenciam não apenas a visão do leitor/espectador como também o comportamento do grupo que está sendo representado.

“Um vampiro não aparece no espelho porque monstros não têm reflexo. E é assim que as pessoas não representadas se sentem, como um monstro.” (Cecihoney)

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Os maravilhosos convidados de cada mesa

Domingo, 8 de novembro

Mesa: “Fandons e diversidade: por que nerds são preconceituosos?”
Com Eva Morrissey, Gi Pausa Dramática e Jana P. Bianchi
A primeira mesa do domingo começou de forma impactante: a Gi Pausa Dramática leu alguns prints de comentários horrorosos feitos na internet a respeito do evento. O conteúdo era aquele que já conhecemos: pessoas negando a existência do machismo e acusando as minorias de vitimismo e segregação. Só tristeza. A partir daí, rolou um papo muito legal no qual as meninas da mesa contaram a própria experiência sendo discriminadas em grupos nerds predominantemente masculinos, e mencionaram uma experiência bem comum entre garotas nerds: ser incluída no grupo apenas enquanto se comporta como “um dos caras”. É aquela história que muitas de nós já ouvimos: “Você é legal, não é como as outras garotas”.
Além disso, as palestrantes falaram sobre as ameaças virtuais e como se proteger, e sobre o panorama atual de grupos nerds respeitosos e preocupados com a diversidade.

Mesa: “Balanço da diversidade no mercado editorial brasileiro”
Com Ana Cristina Rodrigues, Cláudia Fusco, Eric Novello e Jim Anotsu
Nesta mesa, três escritores (um deles editor) e uma estudiosa de ficção científica falaram sobre a trajetória de autores para tornar suas obras mais inclusivas e também para conseguir ser publicados em um mercado que, pelo menos até recentemente, não tinha muito espaço para a diversidade ─ tanto em termos de representatividade (presença de personagens) como inclusão (espaço e oportunidades para os escritores e artistas). A conversa (assim como o restante do evento) teve um tom otimista e esperançoso, reforçando que a literatura está caminhando para ter cada vez mais representatividade, e que as minorias estão pouco a pouco ganhando voz.

“A representatividade tem que ser um caminho para a inclusão.” (Eric Novello)

Prêmios que ganhei em um dos sorteios e no desfile - sim, foram muitos! <3

Prêmios que ganhei em um dos sorteios e no desfile – sim, foram muitos! ❤

A experiência de ir ao evento foi incrível. Uma biblioteca especializada em ficção fantástica, abrindo espaço para uma organização de pessoas geniais desejando dar voz e igualdade a todos não é algo que vemos todos os dias. Mas o que ficou bem claro é que essas vozes existem e estão se fortalecendo. Com tanta gente inteligente e diversa debatendo, expondo suas ideias e mostrando sua arte, é mais fácil ver um futuro mais inclusivo e bonito.

Obrigada a todos por esse evento incrível, e espero que haja muitos outros!

P.S.: Teve também um desfile de crossplay, promovido pela Gi Pausa Dramática, no qual a ideia era dar espaço para cosplayers interpretarem personagens de gênero ou etnia diferentes dos seus. Como eu adoro me fantasiar, é claro que participei, junto com minha amiga Juliana. Fica aqui uma foto pra vocês:

crossplay

5 respostas em “[Especial] Encontro Irradiativo

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