[Resenha] Sobre a escrita

Esta resenha foi feita com base no e-book da Simon & Schuster. A tradução de trechos foi feita por mim.

Capa Sobre a escrita.inddSinopse:

Eleito pela Time Magazine um dos 100 melhores livros de não ficção de todos os tempos e vencedor dos prêmios BRAM STOKER e LOCUS na categoria Melhor Não Ficção, Sobre a escrita: a arte em memórias é uma obra extraordinária de um dos autores mais bem-sucedidos de todos os tempos, uma verdadeira aula sobre a arte das letras. O livro também não deixa de lado as memórias e experiências do mestre do terror: desde a infância até o batalhado início da carreira literária, o alcoolismo, o acidente quase fatal em 1999 e como a vontade de escrever e de viver ajudou em sua recuperação.

Fonte: Livraria Cultura

Apesar de ter lido Stephen King pela primeira e última vez há mais de uma década, eu sempre via este livro do autor sendo altamente recomendado. Quase exatamente dividido entre recordações biográficas e conselhos sobre escrita de ficção, é de fato uma leitura bem interessante, principalmente para escritores e aspirantes. King diz que inspirou-se a escrevê-lo porque “ninguém pergunta sobre a linguagem” para escritores de livros populares: como se o fato de escrever best-sellers ou trabalhar com gêneros populares significasse uma falta de cuidado com a obra, o que não é o caso.

A primeira metade do livro é dedicada a apresentar alguns momentos-chave da sua vida, que ele acredita terem sido fundamentais para formá-lo como escritor. Com humor e ironia, apresenta lembranças como o primeiro jornal que ele escreveu, as primeiras tentativas de ter seus contos publicados, e seus problemas com álcool e drogas – abordando, nesse ponto, o mito de que o abuso de substâncias é uma válvula de escape necessária para artistas torturados ou os torna artistas melhores (o que ele chama de “a defesa Hemingway”).

Achei essa parte mais envolvente do que esperava, considerando que não sabia muito sobre o autor nem me interessava particularmente sobre a sua vida. Mas o mais interessante, para quem escreve, é a segunda metade do livro, em que ele expõe suas ideias pessoais sobre escrita.

Entre os inúmeros tópicos que aborda, estão os itens disponíveis na “caixa de ferramentas” do escritor, tais como vocabulário e gramática (e obrigada Stephen King por dizer que escritores precisam sim saber gramática, e não é trabalho do editor tornar seu texto legível). Algumas das coisas que ele discute são velhas táticas conhecidas, tais como evitar o uso da voz passiva, fugir de advérbios e de usar said em vez de outros verbos em diálogos (deixo a observação, no entanto, de que ele está falando especificamente do inglês; em português, costumamos usar uma maior variedade de verbos em diálogos – deixar tudo como “disse” não seria recomendável).

Ele também aborda alguns aspectos da descrição, a exposição do passado dos personagens, o primeiro e segundo rascunhos e a revisão, tema e simbolismo e o Leitor Ideal que deve-se ter em mente quando se escreve, assim como questões de submissão de originais e publicação. De modo geral, me vi concordando com ele em quase tudo. A exceção é a crítica ferrenha que ele faz ao planejamento (outline), dizendo que é um modo de matar a espontaneidade da obra. Acho que o modo de escrita que ele defende – criar a situação e os personagens e ver para onde eles vão a partir daí – funciona muito bem para o tipo de livro que ele escreve, mas não para todos. De todo modo, é claro, conselhos de escrita são apenas visões particulares. Cada um deve descobrir o que funciona para si.

Quero também destacar duas observações dele: primeiro, de que, qualquer que seja seu motivo para escrever, não se deve ir levianamente à página em branco; segundo, de que não há jeito de se tornar um escritor melhor exceto lendo e escrevendo. O maior clichê de todos, mas inteiramente verdadeiro. Quando começou a falar de aspirantes a escritores que diziam não ter tempo para ler, me vi acenando em concordância – sim, essas pessoas existem.

O livro é uma leitura bem-humorada, instigante e útil, abordando de modo sucinto e amplo vários aspectos da escrita e da publicação de livros – marquei dezenas de citações, algumas das quais apresento abaixo. Li o e-book em inglês, mas a Suma de Letras lançou uma edição em português em 2015, então aproveite que a obra está disponível no Brasil para receber alguns ótimos conselhos profissionais.

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Sobre a escrita
Autor: Stephen King
Tradutor: Michel Teixeira
Editora: Suma de Letras
Ano de publicação: 2000
Ano desta edição: 2015
256 páginas

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Citações preferidas

Este é um livro curto porque a maioria dos livros sobre escrita estão cheios de besteira.

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Vamos esclarecer uma coisa, certo? Não existe nenhum Depósito de Ideias, nenhuma Central de Histórias, nenhuma Ilha dos Best-Sellers Enterrados; boas ideias para histórias parecem vir literalmente de lugar nenhum, navegando na sua direção em pleno ar: duas ideias anteriormente não relacionadas se juntam e formam algo novo debaixo do sol. A sua tarefa não é encontrar essas ideias mas reconhecê-las quando elas aparecerem.

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A vida não é um sistema de suporte para a arte.

É o contrário.

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Se você não tem um domínio rudimentar de como as partes do discurso se traduzem em sentenças coerentes, como pode ter certeza de que está indo bem? Como vai saber que está indo mal, inclusive? A resposta, claro, é que você não pode, não vai.

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A boa escrita muitas vezes consiste em abandonar o medo e a afetação.

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O que pode ser mais encorajador ao escritor desanimado do que perceber que o seu trabalho é inquestionavelmente melhor do que o de alguém que realmente foi pago pelas suas obras?

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Acho que você começa interpretando “escreva sobre o que sabe” tão ampla e inclusivamente quanto possível. Se você é um encanador, conhece encanamentos, mas isso está longe de ser todo o alcance do seu conhecimento; o coração também sabe coisas, assim como a imaginação.

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3 respostas em “[Resenha] Sobre a escrita

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