Esta resenha foi feita com base no livro em inglês da Little, Brown. A tradução de trechos foi feita por mim. Essa é uma resenha sem spoilers.
Sinopse:
Foi sempre difícil ser Harry Potter e não é muito mais fácil agora que ele é funcionário do Ministério da Magia, marido e pai de três crianças em idade escolar. Enquanto Harry se esforça para lidar com um passado que se recusa a ficar em seu lugar, seu filho mais novo, Albus, tem que lutar com o peso de um legado familiar que nunca desejou. Passado e presente se fundem ameaçadoramente, e pai e filho aprenderão uma verdade inconveniente: às vezes, a escuridão vem de lugares inesperados.
Fonte: Livraria Cultura
Como já mencionei algumas vezes pelo blog, eu li (em média) dez vezes cada um dos livros da saga Harry Potter – que foi decisiva na formação de leitores da minha geração. Enquanto o próximo livro não saía, eu relia os anteriores, e cheguei ao ponto de saber muitos diálogos de cor. Ler pela primeira vez mais um livro da saga é uma experiência pela qual ansiei desde que fechei o sétimo livro – apesar de ter detestado o epílogo. Ir ao lançamento deste livro era uma coisa que eu devia à Gi de 14 anos.

Parte da equipe do Sem Serifa pirando no lançamento que rolou na Livraria Cultura. Aparentemente somos todas da Corvinal 🙂
E, carmicamente, o oitavo livro começa justamente como uma continuação quase sequencial desse epílogo: família Potter na plataforma, instruindo as crianças a correrem direto para a parede para acessar a plataforma 9¾ e encontrar os migos da família Granger-Weasley. Entretanto, diferente do epílogo, logo percebemos que as coisas não são tão harmoniosas assim na família Potter: James, o primogênito, pentelha Albus, seu irmão mais novo e inseguro, em uma dinâmica que lembra Fred e Jorge com Rony. Lily, a caçula que ainda não tem idade para ir a Hogwarts, lembra Ginny nos primeiros livros. Rose, a filha de Rony e Hermione, parece estar tão preparada quanto a mãe para o seu primeiro ano na escola de magia e bruxaria, mas com uma dose extra de arrogância. E conhecemos também Scorpius, filho de Draco Malfoy.
Como os conceitos de spoilers variam muito, vou tentar não dar muitos detalhes de nada. Albus e Scorpius têm uma amizade que achei muito bonita e que nos lembra que, mesmo em tempos de paz no mundo bruxo, as pessoas (cof cof, Harry) ainda fazem pré-julgamentos toscos e tomam decisões arbitrárias baseadas neles. Rose, Hugo (seu irmão), Lily e James foram pouco explorados. Delphi, uma personagem nova que entra de sopetão na história, tem justificativas frouxas para suas ações – mesmo depois dos plot twists. E preparem o coração, potterheads, porque esse livro tem MUITOS plot twists.
Muitos personagens antigos voltam, uns mais amadurecidos que outros (COF COF, HARRY), e temos a oportunidades de ver várias facetas dos personagens que amamos – e facetas surpreendentes de alguns de que não gostávamos tanto. Um ponto positivo é que outros personagens não têm aparições desnecessárias (embora dois tenham oportunidades de redenção moral que achei bem desnecessárias, mas esse rancor é meu, vocês podem gostar) e seus diálogos são bem dinâmicos e suas personalidades são palpáveis. Há coisas na trama que remetem (e às vezes parecem homenagens) ao primeiro, terceiro, ao sétimo e principalmente ao quarto livro, e que trazem uma familiaridade com o universo e com a saga que é muito gostosa.
Durante a leitura, passei muitos momentos pensando que preferiria estar lendo um romance – mas o fato de ser uma peça é essencial para a maneira como os fatos foram apresentados, o que (pra mim) incluíram uns recursos da trama que não me convenceram e a falta de desenvolvimentos de alguns pontos bem importantes. Mas foi muito legal imaginar como tudo isso seria encenado e quais reações esses acontecimentos me provocariam em cena. Se lançarem um DVD mostrando só os efeitos práticos da peça, VOU ESTAR COMPRANDO E ASSISTINDO COMPULSIVAMENTE.
O gênero da história é muito mais puxado para a ação que todos os outros livros, nos quais estamos acostumados a ter várias cenas escolares que desenvolvem pontos delicadamente. Em Cursed Child temos saltos temporais enormes e acontecimentos súbitos, mas com um ótimo uso basilar do conhecimento dos fãs de tudo que rolou antes. Há cenas bem comoventes (incluindo um always que achei muito melhor que o do Snape), que me provocaram reações altas o bastante para minha mãe querer checar se eu estava ok.

Passei muitas horas do meu domingo na cama com esse livro e o chapéu seletor para escrever essa resenha. Apreciem a capa.
Há problemas no livro? SIM, VÁRIOS (inclusive em breve sai post só sobre isso, stay tuned). A começar pela imagem horrorosa que eles escolheram para colocar na luva da edição. Uma criança assustada dentro de um ninho com asas, sério mesmo??!?!? A continuar pelo título, que achei inadequado (embora toda a equipe do blog tenha brincado com o fato de receber o nome de Albus Severus é uma maldição mesmo). A child em questão não é tão cursed assim, e a única pessoa de fato amaldiçoada na história não é uma criança. Mas esses problemas não tornam o livro ruim (muito menos uma fanfic ruim, como alguns estão dizendo) e a minha leitura foi muito satisfatória. Tenho certeza de que vale a leitura a qualquer fã da saga – que mesmo se não gostar da história e da nostalgia maravilhosa, ganha de bônus a oportunidade de ter discussões acaloradas com todo um fandom em polvorosa.
*
Harry Potter and The Cursed Child
Autor: JK Rowling, Jack Thorne e John Tiffany
Editora: Little, Brown
Ano desta edição: 2016
343 páginas
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Citações
* Sem muitas indicações de quem as disse pra não spoilar, mas em quantidade para consolar os que esperarão pela edição brasileira. Considerem um trailer.
“Cadê meu nariz?”
“Ta-rá!”
Sua mão está vazia. É um truque bobo. Todos apreciam sua bobeira.
*
“Você pergunta a mim, de todas as pessoas, como proteger um menino em grave perigo? Não podemos proteger os jovens de se machucarem. A dor deve vir e virá.”
“Então eu devo ficar parado e assistir?”
“Não. Você deve ensiná-lo a lidar com a vida.”
*
“Mantenha o ritmo, velho!”
“Nós temos a mesma idade, Draco.”
“Mas eu fico melhor nela.”
[…]
“Desculpe pela sua cozinha, Gina.”
“Ah, não é minha cozinha. Harry é quem cozinha a maioria das coisas.”
*
“Essa é a questão, não é? Da amizade. Você não sabe do que ele precisa. Só sabe que ele precisa. Encontre-o, Scorpius. Vocês dois – vocês pertencem um ao outro.”
*
“Bem, paz é uma coisa da qual eu certamente posso participar.” Ela bate no mapa com sua varinha. Suspiros. “Eu juro solenemente não fazer nada de bom.” O mapa é acionado. “Bem, eles estão juntos.”
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“Ela disse que meu avô não gostava muito dela e era contra o casamento, pensava que ela adorava demais os trouxas, que era muito fraca. Mas você o desafiou por ela. Ela disse que foi a coisa mais corajosa que já viu.”
“Sua mãe deixava ser corajoso muito fácil .”
*
“Se eu pudesse te dar uma detenção, Ministra, eu daria.”
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“O amor cega. Nós dois tentamos dar aos nossos filhos não o que eles precisavam, mas o que nós precisávamos. Estivemos tão ocupados tentando reescrever nosso passado que contaminamos o presente deles.”
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“Harry, você faria qualquer coisa por qualquer um. Você estava bem feliz em se sacrificar pelo mundo. Ele precisa sentir que seu amor é específico. Isso vai fortalecê-lo, e fortalecerá você também.”
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Child significa filho(a) também, não só criança, então pode ser uma referência a uns 3 personagens (acho que, ao contrários dos outros títulos da série, esse não é literal). Provavelmente ficou criança em português pra manter a indefinição de gênero do original