[Resenha] Guerreiros da tempestade

A resenha inclui spoilers até o oitavo livro da série As crônicas saxônicas, O trono vazio.

Capa Guerreiros da Tempestade V2 DS.inddSinopse:

Os filhos do falecido rei Alfredo, Eduardo e Æthelflaed, já dominam a maior parte do território saxão. Seus exércitos conquistam e garantem a soberania por onde passam. Mas isso não impede que os incansáveis nórdicos realizem constantes ataques aos seus reinos. Uhtred de Bebbanburg comanda a guarnição do burh de Ceaster, uma poderosa fortaleza no norte da Mércia construída pelos romanos. O poder da senhora Æthelflaed na região se expande, o que atrai olhos cobiçosos. Ragnall, o Cruel, reúne forças irlandesas e nórdicas no maior exército que jamais ameaçou o universo saxão. Com isso, a solução de Æthelflaed é colocar suas forças no interior de Ceaster para resistir aos ataques inimigos. Porém, quem será capaz de manter Uhtred entre as paredes de um burh quando sua filha, casada com Sigtryggr, irmão e inimigo de Ragnall, é colocada em perigo?

Fonte: Livraria Cultura

Começo já admitindo que sempre curto os livros dessa série: há muita discussão sobre quais são os melhores, mas eu estou sempre feliz lendo sobre Uthred e não acho nenhum deles ruim. Isso dito, este volume me pareceu especialmente bom, e devorei as quase quatrocentas páginas em menos de dois dias.

O livro já começa com altas tretas: há um ataque a Brunanburh (o forte que controla a entrada da Mércia, e que estava sob controle de Æthelflaed desde o último livro), e Uthred e cia. descobrem que o culpado é Ragnall, um dinamarquês que tem (novidade!) planos de conquistar a Britânia. O contingente de Ragnall também inclui os irlandeses, e logo nas primeiras cenas já temos uma revelação envolvendo Finan que deixa todos estarrecidos (incluindo Uthred). Finan, por isso mesmo, terá uma participação maior que a costumeira nesse livro, e fiquei bem satisfeita por vê-lo assumir um lugar de destaque depois de tantos livros.

A trama basicamente é uma corrida para ficar um passo à frente de Ragnall à medida que ele vai conquistando fortes e amealhando aliados. Ragnall (codinome “o Cruel”) é um daqueles antagonistas realmente cretinos e horríveis de Cornwell e que você mal pode esperar pra ver morto. Enquanto o volume anterior era mais político, este tem batalhas para todos os gostos: é incrível como, depois de nove livros (ou mais, se você lê outras coisas do Cornwell), ele continua encontrando jeitos de tornar uma batalha original e surpreendente, e o último confronto deste livro tornou-se um dos meus preferidos. Uthred continua um ótimo estrategista, explorando o psicológico dos inimigos magistralmente.

Stiorra e o marido Sigtryggr também participam da trama – Ragnall é irmão deste – e enquanto ela continua maravilhosa como sempre, é legal ver a relação de Uthred com o genro. Por outro lado, ele e Æthelflaed estão num momento mais tenso do que nunca, um ignorando as recomendações/ordens do outro e fazendo basicamente o que querem. Æthelstan infelizmente aparece muito pouco, mas Uthred continua sua campanha malandra para torná-lo rei (e adoro como ele encomenda canções para esse propósito: muito esperto, esse Uthred). Há também o retorno do padre Oswald (vulgo Uthred Filho Primogênito) em circunstâncias tensas, assim como a volta de antigos inimigos.

Entre as novas caras, o destaque é o padre Leofstan, que vai para Caester porque será declarado bispo, e que é hilariamente indiferente ao mau-humor de Uthred. [SPOILERS] Só achei desnecessária a sua morte, depois de estabelecê-lo como um personagem legal que apoiava o Uthred. [/SPOILERS] Há também um mané chamado Cynlaef, que aparentemente vai se casar com a filha de Æthelflaed e tem cara de quem vai ser um enorme chato no futuro; Berg, o garoto que Uthred salvou no volume anterior e que se tornou fundador do fã-clube oficial dele (com direito a tatuagem no rosto); e a Ratinha, uma prostituta tão linda que causa brigas entre exércitos (e cuja identidade “misteriosa” é óbvia, mas perdoei a sua presença meio irrelevante graças a um momento genial no final do livro).

E preciso tirar um momento para destacar uma das minhas cenas preferidas, que é quando Uthred discute com padres (pra variar!) sobre a identidade da Páscoa, que ele diz ser claramente uma apropriação cristã da festa da deusa Eostre, da primavera. Genial.

O final é muito promissor em relação à missão de Uthred de recuperar Bebbanburg, mas dado o histórico dele com isso, manterei minhas expectativas baixas. Mesmo assim, sei que vou gostar do próximo livro de qualquer jeito. Que venha o décimo volume!

Saldo:

Inimigos do passado finalmente despachados: 2

Wyrd bið ful aræd: 3

Fortalezas perdidas e recuperadas: 3

Ofensas de Uthred contra padres: pelo menos uma dúzia

Dinamarqueses mortos: na ordem das centenas

*

Guerreiros da tempestade
Série: Crônicas Saxônicas (vol. 9)
Autor: Bernard Cornwell
Tradutor: Alves Calado
Editora: Record
Ano de publicação: 2016
350 páginas

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Melhores blasfêmias de Uthred

– Não é um acidente ele ter vindo na Páscoa! – insistiu o padre Ceolnoth. – […] Mas a terra não estará totalmente segura até que a Igreja tenha posto a mão guardiã de Deus sobre as novas pastagens! Foi o que o salmista disse! O Senhor é o meu pastor e nada me faltará.

– Bééééé – falei, e fui recompensado com um olhar selvagem de Aethelflaed.

*

– O que quer que você faça – falei a Berg […] –, jamais acredite nos cristãos quando dizem que ame seus inimigos.

Ele pareceu perplexo.

– Por que eu iria querer amar meus inimigos?

– Não sei! É só uma merda cristã.

*

Até hoje não entendo por que as pessoas se tornam cristãs, a não ser que seja porque os outros deuses apreciam uma piada. Com frequência suspeitava que Loki, o deus trapaceiro, havia inventado o cristianismo, porque essa crença tem todo o seu fedor malicioso.

*

Dei ouro a Glaedwine. Como a maioria dos poetas, ele dizia que criava as canções porque não tinha escolha.

– Nunca pedi para ser poeta – dissera-me uma vez –, mas palavras simplesmente vêm a mim, senhor. Elas vêm do Espírito Santo! Ele é minha inspiração! – Podia ser verdade, mas notei que o Espírito Santo ficava muito mais inspirador quando sentia cheiro de ouro ou prata.

*

– Quem governa aqui?

– Deus Todo-Poderoso.

– Ele é o jarl?

– Ele é o poderoso jarl de toda a terra e tudo o que há nela. Ele é o jarl da criação!

– Então por que ele não consertou os muros daqui?

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