[Resenha] Lobo de rua

hd_loboSinopse:

Raul é um morador de rua, um homem invisível e desgraçado como tantos outros. Como se sua desgraça não fosse suficiente, Raul contrai a maldição da licantropia, tornando-se um lamentável lobo de rua. Tito Agnelli não compartilha do abandono de Raul, mas conhece muito bem a sensação de ser rasgado por dentro, todos os meses, pela coisa vil que se abriga nele. Assim, compadecido com o sofrimento do recém-transformado, Tito acolhe Raul na Alcateia de São Paulo, extinta até então por falta de lobisomens residentes na Pauliceia. Depois de décadas de contaminação, Tito conhece cada detalhe da maldição que o transforma em lobisomem. Além disso, conhece também a Galeria Creta, um lugar em São Paulo onde ele e outros dos seus são bem-vindos nas noites de lua.

Fonte: Dame Blanche

Já tinha ouvido muito falar de Lobo de rua, novela de fantasia nacional da autora Jana P. Bianchi, que a publicou de modo independente e agora está lançando pela editora Dame Blanche. Depois de ler tantos elogios, esperei sair a nova edição e finalmente consegui parar para lê-la.

A história é sobre Raul, um menino de rua paulistano que se descobre lobisomem (porque desgraça pouca é bobagem!). O modo como ele foi contaminado e as consequências do fato serão explicados ao longo da novela; o menino, assustadíssimo e sem saber direito o que está acontecendo consigo, é encontrado por Tito, um lobisomem mais velho que resolve ajudá-lo e explicar como esse rolê funciona. Com o novo mentor, Raul vai conhecer a Galeria Creta, um refúgio para os seres sobrenaturais de São Paulo.

A narrativa é feita em terceira pessoa, primeiro pelo ponto de vista de Raul, então abrindo-se para o PDV de Tito (achei essa transição um pouco brusca, porque pensei que a narrativa seria em terceira pessoa limitada, mas logo você se acostuma com a onisciente). Há também uma história paralela envolvendo a Galeria Creta e seus mistérios, mas não darei detalhes porque o legal é ir descobrindo junto com a leitura – e o conceito da Galeria e os detalhes associados a ela (como o modo de entrar lá) foram algumas das minhas partes preferidas da novela.

A escrita da autora é muito evocativa. A descrição das transformações dos dois lobisomens é particularmente bem feita, assim como toda a caracterização do cenário – a São Paulo dos moradores de rua e dos abrigos –, fazendo você se compadecer dos sofrimentos dos personagens. Além de ter aquele gostinho nacional, com a menção a lugares familiares (pelo menos pra quem conhece a cidade), vê-se que a autora fez pesquisas para situar Raul e Tito nesse mundo, e a condição de morador de rua de Raul é retratada com sensibilidade. Também me diverti com menções a perrengues urbanos usuais, como pegar um ônibus lotado – o que fica ainda mais chato se você está prestes a se transformar em lobisomem, olha só.

A trama é simples (a história paralela, que é quase um preview de histórias futuras, acaba ficando mais instigante do que a trajetória de Raul em si), mas, por ser uma novela, isso não chega a ser problema. Minha maior crítica é [SPOILERS] a resolução da história de Raul, que me pegou de surpresa e me deixou chateada, porque esperava algo mais esperançoso. O decorrer do relacionamento entre Tito e Raul me deu a impressão de que o garoto conseguiria ajuda para lidar com sua nova condição [FIM DOS SPOILERS].

Vale mencionar também que a autora consegue pegar uma temática que já foi usada N vezes – lobisomens – e usá-la de modo que você nunca sente que está lendo algo batido. Usa muito do que é tradicional, mas acrescenta detalhes novos e cria uma mitologia com identidade própria. Inclusive, cada capítulo se inicia com citações de um livro escrito nesse universo sobre a licantropia – adoro esse tipo de coisa –, o que ajuda com a sensação de que é um mundo bem pensado e real.

É uma leitura rápida e muito agradável, sugerindo uma série de desdobramentos possíveis passados nesse universo. Por enquanto só há a versão digital, mas a capa é tão bonita que torço para sair uma impressa. Sou muito chata para erros de revisão, mas não encontrei nenhum, exceto por uma palavra em italiano grafada errado. O e-book inclui ainda uma entrevista com a autora ao final, para saber mais sobre a concepção da novela. Os links para comprar estão na página da editora. Recomendado!

*

Lobo de rua
Autora: Jana P. Bianchi
Editora: Dame Blanche
Ano de publicação: 2016
89 páginas

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Citações preferidas

O moleque sabia que aquilo não era certo, não fazia sentido – mas não havia mais sentido nenhum em um mundo em que a luz da lua queimava a alma e ofuscava os olhos.

*

Se bem se lembrava da introdução de outros pupilos, aquele papo iria longe. Aprendera pela experiência que, embora tivessem uma acelerada digestão de todos os tipos de carne e de outras porcarias, jovens lobisomens não eram muito bons em digerir informações.

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5 respostas em “[Resenha] Lobo de rua

  1. Esse livro é sensacional. Nunca curti muito a temática lobisomem, mas o livro da Jana foi uma grata surpresa. Ainda não li esta nova versão pela Dame Blanche, mas parece que está um pouco diferente da primeira versão, então lerei assim que puder 🙂

  2. Pingback: [Resenha] Sombras | Sem Serifa

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