[Resenha] Justiça ancilar

ancilarSinopse:

Em um remoto planeta gelado, Breq está prestes a concluir seus planos de vingança. Ex-membro do Radch, o império que domina a galáxia, Breq era a nave Justiça de Toren – uma porta-tropas gigantesca com uma única inteligência artificial que habitava e controlava o corpo de milhares de soldados. Mas um ato de traição destruiu tudo o que Breq conhecia, e agora só lhe resta um único e frágil organismo humano para enfrentar o império.

Fonte: Editora Aleph

Justiça ancilar ganhou praticamente todos os prêmios de literatura especulativa quando foi lançado em 2013. Sério, pensa num prêmio: Justiça ancilar ganhou. Depois de ler, é fácil entender por quê. Nesse primeiro volume de uma trilogia, Ann Leckie nos apresenta a um universo complexo, instigante e profundamente original — e com uma narradora em primeira pessoa como você nunca viu antes.

Justiça de Toren é uma nave do Império Radch. Ou era, quando sua consciência estava dividida em centenas de ancilares (corpos humanos nos quais sua IA foi instalada). Dezenove anos atrás, a nave desapareceu — por motivos que são explicados por flashbacks ao longo da primeira metade do livro — e o único corpo restante, que se chama de Breq, está em um planeta isolado em busca de algo que será revelado logo mais. Nesse lugar, encontra uma pessoa à beira da morte: Seivarden — uma capitã radchaai que foi congelada mil anos atrás e acordou recentemente. Seivarden está, compreensivelmente, perturbada por perder mil anos de história, e não se incomodaria muito em morrer. Breq, por seu lado, não entende por que não consegue simplesmente deixá-la morrer: Seivarden nunca foi sua oficial preferida. Mas, por algum motivo, a leva consigo.

E se esse começo parece confuso, devo mencionar que os radchaai, e portanto a própria Breq/Justiça de Toren, não reconhecem gênero, de forma que a narrativa (assim como esta resenha) trata todas no feminino. Ocasionalmente, quando as personagens falam outro idioma, temos confirmação do gênero de alguma delas (assim sabemos, por exemplo, que a capitã Seivarden é um homem). É um negócio que dá uns nós na cabeça do leitor de um jeito muito legal, nos fazendo questionar os papéis de gênero que muitas vezes atribuímos a personagens.

O Império Radch é um sistema expansionista controlado por Anaander Mianaai, que também possui muitos corpos compartilhando de uma mesma consciência. Dezenove anos atrás, as ancilares da Justiça de Toren estavam no planeta recém-conquistado Shis’urna, onde as políticas locais criavam uma situação complexa para a tenente Awn, à época uma das oficiais favoritas da nave. A trama se divide entre os eventos que começam em Shis’urna e culminam no sumiço da Justiça de Toren e o presente, com a história de Breq e Seivarden.

O primeiro terço do livro é um tanto lento, enquanto você está entendendo os aspectos políticos, sociais e religiosos do Radch, assim como dos outros lugares em que a história se desenvolve. No Radch, um império extremamente militarizado, o poder é dividido em casas, e essa hierarquia tem várias peculiaridades. O modo como a política se associa à religião do Império também é muito interessante.

Uma vez que você passa pela estranheza inicial, o livro fica cada vez mais envolvente, assim como a dinâmica entre Breq e Seivarden (ainda mais porque a nave esconde da capitã a sua verdadeira identidade). Ver Breq – que é uma personagem com sentimentos muito complexos, apesar de ser uma IA – perseguir uma missão quase impossível se torna cada vez mais tenso, quanto mais você entende suas motivações e os riscos envolvidos. E vê-la ter que lidar com línguas que marcam gênero, acidentalmente confundindo o gênero de seus interlocutores, é especialmente divertido (embora não tanto para os revisores que trabalharam no livro!).

Justiça ancilar é um livro pelo qual me apaixonei à maneira da famosa citação do John Green: gradativamente, então de uma hora para outra. O último terço do livro tem um ritmo intenso, e o final só me deixou mais ansiosa para ler as continuações. Se você gosta de ficção científica, aqui está uma contemporânea que não pode perder.

E se nunca chorou por causa de uma nave, essa pode ser sua oportunidade.

*

Clique aqui e compre esse livro na Amazon.com.br!

Justiça ancilar
Autora: Ann Leckie
Editora: Aleph
Ano desta edição: 2018
384 páginas

[Bônus] O podcast que gravamos sobre o livro: Covil de Livros 95 – Justiça Ancilar

5 respostas em “[Resenha] Justiça ancilar

  1. O porquê raios de eu confundir Ancillary Justice com Leviathan Wakes é um mistério da neurociência moderna, e o fato de ambos terem sido publicados pela Aleph não ajudou em nada minha aparente dislexia.

    A quantidade de prêmios desse livro foi realmente um negócio bizarro, até hoje não sei se existe algum precedente para um livro de estréia (WTF!) como esse. Apesar disso tomo sempre cuidado de não cair nesse tipo de hype, minha experiência com o Neuromancer me ensinou muito…

    Também achei interessante ver a história da autora. Pelo pouco que pesquisei, ela começou a escrever pra valer relativamente tarde (ou pelo menos nunca havia sido aceita para publicação) inclusive já com família e filhos, até o dia em que Justiça Ancilar acontece. Fica a lição pra geração atual de jovens adultos susceptíveis a pressões sociais e suas obrigações de sucesso profissional e pessoal imediatos, que têm causado surtos de ansiedade e desistências em massa. E eu me incluo nessa. :-/

    Parabéns à Aleph pela edição e valeu ao blog pela resenha e indicação. Esse é compra certa!

    • Fala, Daniel! Eu só diferencio os dois porque li um deles rs, é o único jeito.

      Também não sei se houve outro livro que ganhou tudo isso, fiquei bem impressionada. E sim, o hype pode atrapalhar – já li livros premiados de que não gostei muito. Neste caso, não foi assim, mas premiações não garantem nada, é claro…

      A história dela é muito legal! Se ouvir o podcast que a gente gravou sobre o livro, falamos um pouco mais sobre isso lá. Ela começou a escrever quando estava em casa cuidando dos filhos, e deu NISSO. Inspirador para todos nós hehe.

      Obrigada pela visita! Depois conta o que achou do Justiça pra gente. 🙂

  2. Pingback: [Especial] Livros favoritos de 2018 + lista de leituras do ano | Sem Serifa

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