[Especial] 6 anos de Sem Serifa, ou: por que corres, leitor?

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De quando a gente fez umas fotos para o blog, lá pelo segundo ano

O Sem Serifa completou mais um ano de existência, e foi um ano atípico. Em meio à correria de dezembro, nós sequer fizemos o tradicional bolo de aniversário do blog (eu sei, vocês estão arrasados por isso). Mas a verdade é que isso não aconteceu apenas pelas atribulações de fim de ano – nós temos mesmo dedicado menos tempo e energia ao blog. Cada uma de nós teve seus motivos para isso, e no meu caso foi um misto entre a recuperação de um burnout e o processo de ressignificação da minha produtividade. E é neste ponto que o caro leitor percebe que está sendo desviado para um post sobre slow reading.

Estou no mercado editorial há 10 anos, e tenho o privilégio de trabalhar com literatura, que foi o meu sonho desde que comecei a me preparar para essa carreira. E durante todo esse tempo, colegas mais experientes me disseram que uma hora eu cansaria de ler. Que lidar com livros o dia todo ia saturar e que, ao chegar em casa no fim do expediente, eu ia querer fazer qualquer coisa, menos ler.

Esse momento demorou muito para chegar, mas acabou chegando por um motivo que eu nunca previ: ler tem me deixado cansada e ansiosa.

Até o ano passado, eu lia animadamente nos meus horários de descanso – inclusive vários livros relacionados ao meu trabalho, pois é o que acontece quando você trabalha com seu gênero literário favorito. Minhas leituras foram gradativamente perdendo a função de lazer (que eu sempre defendi como um aspecto fundamental da literatura) e se tornando um modo de ser produtiva. Antes de escolher o próximo livro, me vinha uma preocupação sobre o tempo que eu dedicaria àquele título, eu me perguntava se havia alguma outra leitura mais urgente de acordo com os meus objetivos e cronogramas. A manutenção no blog também fazia sua parte nisso – era preciso postar com determinada frequência, criar conteúdo a cada oportunidade que surgisse, manter ativas as redes sociais e gerar engajamento. Tudo isso em meio a uma verdadeira corrida com outros blogs, em que todo mundo compete para ter mais likes, mais parcerias, ler mais e mais rápido e ter mais opiniões.

Para alguém movida a resultados, como eu, é incrivelmente difícil olhar para tudo isso e questionar minhas motivações e o verdadeiro retorno pessoal. E percebo que não estou sozinha. Para inúmeras pessoas, as metas de ano-novo costumam incluir “ler X livros” ou “ler mais do que no ano passado”. Chegamos ao cúmulo de existir um site que calcula o tempo diário de leitura para que a pessoa termine de ler determinado livro em um mês. Se você está tendo que ligar um cronômetro para seu momento diário de leitura, ou se sentir culpado se passou um dia sem ler… por que você está lendo? Felizmente, também não estou sozinha ao finalmente me permitir esse tipo de questionamento. Este foi o ano em que mais ouvi falar sobre saúde mental e autocuidado, e outras pessoas têm falado de suas dificuldades ao lidar com as pressões que impomos a nós mesmos (inclusive a Brenda, do Sobre Livros e Traduções, também fez um post sobre leitura e ansiedade).

Algo que sempre considerei um defeito é o fato de que leio muito devagar. Sempre fui assim. Para mim não tem essa de “ah, este aqui você vai ler de uma sentada só”, porque mesmo que eu fique doze horas sentada olhando para o livro, não vou conseguir ler 300 páginas – meu ritmo não é esse. E vai ser exaustivo, porque também não consigo focar por tanto tempo em uma única atividade. Eu costumava me condenar demais por isso; é difícil não se sentir mal, quando a lista de livros que quero (ou preciso) ler aumenta tão rápido.

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Mas tenho tentado ressignificar tudo isso. Dividir melhor meu tempo de trabalho e lazer, e não me cobrar para ser produtiva com meus hobbies, além de aceitar meu próprio ritmo de leitura, e aprender a apreciá-lo. Isso ajuda a acalmar minha ansiedade, mas afeta muito a atividade do blog (o que, por sua vez, me deixa mais ansiosa, mas nunca falei que este seria um post de pessoa bem resolvida). Por exemplo, o meu livro de cabeceira tem sido o mesmo há uns bons dois meses, o que rendeu zero resenhas para o blog nesse período. Estou tentando me convencer de que está tudo bem – a Isa e eu criamos o Sem Serifa por vontade de falar sobre nossas leituras e nossas ideias sobre livros, e espero voltar a ver este espaço como um jeito de falar com a comunidade de leitores da qual faço parte, e não uma ferramenta para competir com os outros e comigo mesma.

Isso significa que mais posts e resenhas virão, mas sem pressa. Enquanto não termino as leituras, vou tentando marcar o rolê para comer bolo com as outras blogueirinhas. 🙂

 

Uma resposta em “[Especial] 6 anos de Sem Serifa, ou: por que corres, leitor?

  1. Parabéns pelos 5 anos de Sem Serifa, meninas! ❤ Com poucas ou muitas resenhas, eu sempre fico feliz quando chega email avisando de posts novos do blog!

    Obrigada por compartilhar o texto sobre ansiedade do SLET! Acho significativo que essa sensação de esgotamento e da necessidade de desacelerar seja compartilhada entre os leitores. Deve ser um sinal dos tempos, né? Eu adoro o Instagram, mas acredito que ele tem culpa em causar uma certa "competição" entre os blogs literários. Além de – no meu caso, pelo menos, que não trabalho no mercado editorial – estar exposta a tantas resenhas e críticas que me fazem aumentar a wishlist com frequência e rapidez insustentáveis.

    Em 2019, eu desacelerei, voltei a ler o que eu queria, na ordem que desejasse, e foi prazeroso perceber que, mesmo tento lido menos do que nos últimos anos, ainda foi bastante, mas porque eu estava de fato interessada nas leituras e não com pressa de terminar. Como comentei no post, é um processo. Não muda de uma hora pra outra, mas eu já me sinto melhor. =)

    Aproveito o comentário (que ficou maior do que eu planejava =x) pra desejar um feliz ano novo pra todas!

    Beijo,
    Brenda
    https://sobrelivrosetraducoes.com.br/

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