[Resenha] No seu pescoço

Capa do livro No seu pescoçoSinopse:

Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares.

Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro – escrito em segunda pessoa –, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.

Fonte: Companhia das Letras

Eu já amava a Chimamanda desde que li Americanah (habemus resenha!) e fiquei ansiosa para ler mais dela. Esse foi um livro que ganhei de presente (obrigada, Juju!) e que peguei com o intuito de saborear aos poucos, noite a noite, no início do isolamento. Mas não teve jeito: sentei pra ler só um continho e quando fui ver, avancei para o próximo e… acabei a leitura em uma sentada.

Eu sou muito fã da precisão da prosa da Chimamanda e ela funcionou muito bem no formato de conto. Mesmo com menos espaço para nos ambientar em diversos contextos, ela situa nossos cinco sentidos junto aos personagens. As personagens desta obra são geralmente nigerianas, e lidam com as contradições de sua terra natal (um país que, como o nosso, ainda sofre da herança colonial), com a condição de imigrante nos EUA, ou ainda apenas com as dificuldades de lidar com pessoas.

Há quem sinta falta do desenvolvimento de personagens que testemunhamos nos romances da autora, mas não considerei um problema. Minha única decepção foi o conto que nomeia o livro, que forneceu sim um título impactante, mas foi um dos que menos gostei da coletânea.

Os meus contos favoritos foram: Jumping Monkey Hill (que conta a história de uma escritora nigeriana em um retiro organizado por um inglês), Amanhã é tarde demais (sobre os impactos da morte de uma criança em sua família) e Historiadora obstinada (que investiga as dificuldades de manter uma herança imaterial durante uma dominação colonial com epistemicídio cultural).

Chimamanda é sempre um acerto na escolha de leitura, nos fornecendo um leque de emoções intensas – o que aqui inclui alguns desconfortos necessários.

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No seu pescoço
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradutora: Julia Romeu
Editora: Companhia das Letras
Ano de publicação: 2009
Ano desta edição: 2017
233 páginas

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Citações favoritas

 

“A senhora tem uma casa linda!”, dissera ele, com aquele curioso sorriso americano que significava que acreditava que ele, também, poderia ter algo parecido algum dia. Isso era uma das coisas que Nkem tinha aprendido a amar nos Estados Unidos, a abundância de esperanças absurdas.

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“A guerra levou Zik”, eu disse, em igbo. Falar dos mortos em inglês sempre teve, para mim, um inquietante caráter definitivo.

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As barrigas cheias davam tempo aos americanos para que temessem que seus filhos pudessem sofrer de uma doença rara sobre a qual tinham acabado de ler.

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No dia em que eles foram a um cartório para se casar diante de uma funcionária impaciente, ele assobiou alegremente enquanto dava o nó da gravata e ela o observou com uma espécie de tristeza desesperada, querendo muito sentir o mesmo prazer. Havia emoções que Kamara queria segurar na palma da mão, mas que simplesmente não existiam mais.

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Onde está seu marido? Onde está ele? Perguntaram, escancarando os guarda-roupas dos dois quartos, inclusive as gavetas. Ela poderia ter dito que seu marido tinha mais de um metro e oitenta de altura, que jamais caberia numa gaveta.

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“Ele sabia como eu amava estudar aqui, mas sempre me dizia que Princeton era uma universidade chata, ultrapassada. Quando achava que eu estava feliz demais com algo que não tinha a ver com ele, sempre encontrava um jeito de falar mal. Como você pode amar alguém e ao mesmo tempo querer controlar o nível de felicidade que é permitido à pessoa?”

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Depois do telefonema, a vovó ficou deitada de costas no chão, sem piscar, rolando de um lado a outro, como se estivesse fazendo uma brincadeira boba. Disse que era errado levar o corpo de Nonso de volta para os Estados Unidos, que seu espírito sempre ficaria pairando por ali. Ele pertencia àquela terra dura que não absorvera o choque de sua queda.

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Ela estava decidida a não gostar da esposa do filho, mas era difícil não gostar de Mgbeke, que tinha a cintura fina e o temperamento gentil, queria muito agradar o homem com quem se casara – agradar qualquer pessoa –, chorava por tudo e pedia desculpas por aquilo que não podia controlar.

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