Trecho:
“Todos os colunistas e comunistas (sempre me confundo com essas duas palavras) me maltratam porque dizem que quero dinheiro. E quero, desesperadamente. […] Prefiro publicar um livro que tenha venda garantida de quinhentos mil exemplares a descobrir Samuel Butler, Theodore Drieser e James Branch Cabell em um ano. Você também preferiria, se fosse editor.”
*
Se você esteve neste blog no ano passado (oi, bem-vinde de volta!), sabe que eu li pela primeira vez O grande Gatsby, um clássico estadunidense de F. Scott Fitzgerald que me encantou. O romance entrou pra minha lista de favoritos do ano e claro que fiquei entusiasmada para conhecer mais do trabalho do autor. Este pequeno livro de contos fez jus à expectativa.
Eu morreria por ti e outras histórias reúne três contos de Fitzgerald inéditos no Brasil – “A promissória”, “Fazer o quê” e “Eu morreria por ti” – editados pela Antofágica para a TAG Livros (foi um brinde para os assinantes em dezembro do ano passado, mas pode ser comprado separadamente no site da TAG).
Fugindo do glamour da era do jazz pelo qual o autor é tão lembrado, esses contos mantêm um dos meus aspectos favoritos do romance mais famoso de Fitzgerald: uma crítica sarcástica ao capitalismo e uma denúncia da situação dos trabalhadores, que nessas histórias ganha um ar tragicômico. Entre os personagens, acompanhamos um editor se desdobrando para que um livro faça sucesso, um médico cansado tendo que lidar com tarefas que vão muito além de seu escopo e uma atriz para quem o cinema é apenas um ganha-pão. Se em O grande Gatsby vemos personagens se deslumbrando com o modo de vida americano e tentando usar as regras do capitalismo a seu favor, em Eu morreria por ti encontramos sujeitos exaustos confrontando situações quase kafkianas para chegar ao fim do dia e manter o próprio emprego.
É claro que a minha história favorita foi a do editor. Em “A promissória”, o narrador protagonista, mais realista do que muitos imaginam, descreve a loucura que é publicar um livro e apostar em seu sucesso de crítica e vendas – além de se sobrecarregar com as tarefas mais doidas para garantir que a editora não tenha problemas com o autor ou com os leitores. Recomendo a todos os colegas do mercado editorial que queiram rir e se identificar um pouco (ou muito), e também para leitores que queiram conhecer, de forma bem-humorada, a verdadeira figura do editor literário.
*
Eu morreria por ti e outras histórias
Autor: F. Scott Fitzgerald
Tradutor: Leonardo Alves
Editora: Antofágica
Ano de publicação: 1920-36
Ano desta edição: 2020
160 páginas