[Resenha] Will & Will: um nome, um destino

Esta resenha foi feita com base no e-book em inglês da Penguin. Todas as traduções de trechos foram feitas por mim.

Will-e-Will

Sinopse:

Em uma noite fria, numa esquina improvável de Chicago, dois adolescentes – ambos chamados Will Grayson – estão prestes a se encontrar. Quando seus mundos colidem e se entrelaçam, os Will Grayson veem suas vidas tomarem novos e inesperados caminhos, com aventuras românticas e a produção épica do musical mais fabuloso jamais visto no Ensino Médio.

Fonte: Penguin.com

John Green, para mim, sempre cumpriu muito bem o papel de me fornecer uma leitura leve quando acabo de sair de algo mais denso. Um mês atrás, eu tinha acabado de ler um livro muito intenso (A canção de Aquiles, de Madeline Miller) e, definitivamente, precisava de um John Green.

Este livro, uma parceria dele com David Levithan (autor que eu nunca tinha lido), é narrado do ponto de vista de dois adolescentes com o mesmo nome, cada um imaginado por um dos coautores. Cada Will Grayson tem uma personalidade diferente e enfrenta seus próprios conflitos. Quando seus caminhos se cruzam, muitas coisas começam a mudar em suas vidas, as quais, até então, pareciam estagnadas e cheias de questões desagradáveis e complicadas da adolescência. Parecia uma premissa interessante, então decidi ler – e não me arrependi!

No começo, parece que se trata de só mais uma história sobre adolescentes no Ensino Médio, mas a narrativa atrai e prende o leitor, graças ao carisma dos protagonistas. O primeiro Will Grayson sempre foi completamente introvertido e desde o começo fica claro que enfrenta problemas para seguir sua regra de não se importar demais com os outros. O segundo Will Grayson sofre de depressão e faz comentários ácidos sobre tudo à sua volta, mas principalmente sobre si mesmo.

Além disso, a temática gay da obra merece, desde o começo, uma atenção especial, por ter uma abordagem incomum. Com dois adolescentes homossexuais entre os protagonistas, o livro tinha tudo para cair em uma narrativa sobre homofobia ou sobre aceitação, mas isso não acontece. Os dois personagens gays, Tiny Cooper e (um dos) Will Grayson, se sentem confortáveis com a própria sexualidade e têm amigos que os aceitam como são, o que permite que a narrativa trate com naturalidade de seus relacionamentos amorosos. Um achado para quem procura romances gays mais maduros.

Ter um relacionamento é algo que você escolhe. Mas ter um amigo é algo que simplesmente acontece.” – Will Grayson #1

No entanto, ao longo do livro, percebi que o romance não é o principal nessa história. Ela é, sim, uma história sobre relacionamentos, mas de todos os tipos – sejam amorosos, entre amigos ou entre pais e filhos. Um Will Grayson está descobrindo sua atração pela colega Jane, mas seu maior problema é se sentir à sombra do melhor amigo, Tiny Cooper, jogador do time de futebol americano da escola e futuro diretor, roteirista e protagonista de um grande musical do Ensino Médio. O segundo Will Grayson tem um relacionamento silencioso e distante com a mãe e tenta não se aproximar dos colegas da escola, enquanto se relaciona pela internet com a pessoa que considera seu par perfeito ― embora essas não sejam palavras que ele usaria; Will Grayson não é muito fã de clichês e romantismo.

Outro ponto positivo é que a personalidade dos adolescentes foge do lugar comum de outros livros Young Adult (YA). A exceção talvez seja Jane, uma garota que não é muito bonita ou muito popular, que ouve músicas alternativas e tem um ar um tanto hipster. Isso pode parecer diferente ― afinal, foge do padrão de ideal feminino ― mas é quase uma fórmula pronta para esse tipo de livro. Felizmente isso é compensado pelos demais personagens: a introversão de um Will Grayson e a depressão do outro são características bem trabalhadas e não se sobrepõem às suas outras facetas.

Tiny Cooper pode parecer o mais caricato do grupo. De acordo com a descrição feita por seu melhor amigo, “ele não é a pessoa mais gay do mundo, nem a maior pessoa do mundo, mas acredito que é a maior pessoa do mundo que é muito muito gay e também a pessoa mais gay do mundo que é muito muito grande”. Ao longo do livro, pode parecer que a personagem se resume a isso – aliás, as piadas sobre o seu tamanho ficam um pouco cansativas depois de um tempo. Mas, à medida que Tiny se envolve em conflitos com ambos os Will Grayson, fica claro que há muito mais por trás da fachada de garoto grande, egocêntrico e “fabuloso” do que parecia à primeira vista.

Se comparado com A culpa é das estrelas e Quem é você, Alasca?, este é o livro de John Green em que as personagens são mais realistas. Em alguns momentos, elas chegam a ter comportamentos irritantes, como o egocentrismo exagerado de Tiny Cooper, mas isso só enriquece a obra (afinal, quem gosta de ler sobre gente perfeita?) e são algo que faz falta em outros personagens de Green.

“eu admito que, para não se importar, é necessário se importar um pouco. quando você diz que não se importa se o mundo acabar, de certa forma você está dizendo que não quer que ele acabe” – Will Grayson #2

Um fato divertido é que John Green e David Levithan começaram a escrever separadamente, sem saber o que o outro planejava e sem saber como os destinos dos personagens se uniriam. Talvez seja justamente essa estratégia de escrita que torna a trama imprevisível. Além disso, o revezamento entre os dois pontos de vista dá mais dinâmica à leitura e deixa um gostinho de “quero mais” ao final de cada capítulo.

Will & Will é uma leitura leve e agradável, com algumas surpresas e um final açucarado, ideal para quem quer esfriar a cabeça e ler uma história meiga, mas incomum.

*

Will & Will: um nome, um destino
Autores: John Green e David Levithan
Tradutora: Raquel Zampil
Editora: Galera Record
Ano de publicação: 2010
Ano desta edição: 2013
352 páginas

Citações preferidas:

“Eu realmente não entendo para que chorar. Além disso, eu sinto que chorar é quase sempre – exceto quando morre um parente ou algo assim – evitável, se você seguir duas regras simples: 1. Não se importe muito. 2. Fique quieto. Tudo que já me aconteceu de ruim foi porque falhei em seguir uma dessas regras.” – Will #1

“se você quer que as coisas mudem, não precisa arranjar uma vida, você precisa é se mexer” – Will #2

“é por isso que chamamos as pessoas de eX, eu acho – porque são dois caminhos que se cruzam no meio e acabam se separando no fim. é muito fácil enxergar esse X como algo que foi riscado. mas não é, porque não tem como riscar esse tipo de coisa. o X é um diagrama de dois caminhos.” – Will #2

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