[Semana Tartarugas até lá embaixo] Os personagens de John Green

Este texto contém SPOILERS de Tartarugas até lá embaixo.

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Descobri os livros de John Green em 2013, e gostei logo de cara. Aos 23 anos, eram raras as vezes que eu tinha lido literatura voltada para adolescentes que fosse inteligente, literária e dialogasse tão bem com o público alvo. Aquela era a minha introdução à literatura Young Adult contemporânea.

Quatro anos e muitas leituras depois, John Green continua sendo um dos meus autores favoritos, não apenas dentro do gênero. E o principal motivo são seus personagens. Gosto de como os adolescentes de Green são filosóficos, inteligentes e esquisitos, mas ainda assim o leitor pode se identificar com eles. Com algumas exceções polêmicas (eu não suporto Augustus Waters, de A culpa é das estrelas, e me irrito um pouco com Tiny Cooper, de Will & Will), a maioria desses personagens me cativou.

É claro que sempre houve problemas com seus personagens. Um deles, por exemplo, é a persistência do estereótipo da manic pixie dream girl – a garota interessante e cheia de vida (ou de mistérios), cuja função na trama é a de despertar no protagonista (um rapaz desinteressante e até melancólico) o entusiasmo pela vida. Ela está em Quem é você, Alasca?, em Cidades de papel e até em A culpa é das estrelas, encarnada por Augustus.

Esse estereótipo foi ultrapassado pelo autor em seu romance Tartarugas até lá embaixo. Como já comentei na resenha, esse é provavelmente o melhor livro do autor, e Aza Holmes é a melhor protagonista de Green até agora. Ela é realmente central na história, seus dramas pessoais são não apenas factíveis mas palpáveis, e o seu interesse amoroso é secundário na história. Não apenas isso, mas é um ótimo exemplo de representação feminina, nessa trama que passa lindamente no teste de Bechdel. Aza não apenas tem diálogos diversos com sua melhor amiga, Daisy, como a amizade das duas é um dos relacionamentos mais importantes da história.

Quando Daisy retrata Aza em suas fanfics como uma personagem inútil, um fardo que faz tudo errado – ou melhor, quando Aza descobre que a amiga vem escrevendo sobre essa personagem há anos – a primeira impressão do leitor é de que Daisy é uma grande cretina que não merece aquela amizade. Fiquei surpresa e contente ao perceber que a história não seria tão maniqueísta assim. Ao retratar o lado de Daisy na história, Green relativiza as visões de Aza sobre o mundo à sua volta e expõe os dramas de Daisy, que cometeu um erro, sim, mas por ser imperfeita e também ter conflitos pessoais, inclusive com relação à forma como Aza a trata. Essa é uma história de amizade muito real: há várias tretas, gente sendo grossa sem motivo, discussões de relacionamento, mas, enfim, também há muito amor. Gosto muito de como as duas permanecem ao lado uma da outra apesar das brigas, e de como dão um jeito de encarar as imperfeições uma da outra.

Davis é outro personagem gracinha. Apesar de passar pelo clichê do garoto milionário que precisa de algo que o dinheiro não compra, ele tem problemas muito reais com os quais reles mortais podem se identificar – o abandono do pai, o medo da solidão e o peso da responsabilidade de cuidar de seu irmão mais novo. Ao começar a leitura, eu não sabia o que esperar desse garoto com ar de Artemis Fowl, mas me juntei a Aza e percebi seu charme.

Cada vez mais, os personagens de John Green me surpreendem e prendem a minha atenção, enquanto o autor segue como uma das minhas maiores recomendações.

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