Sinopse: Esta edição apresenta uma série de contos de fadas, reunidos a partir de compilações da autora, provenientes do folclore mundial e das tradições narrativas de variados povos. As fábulas aqui contidas apresentam uma série de tias malévolas, esposas traiçoeiras, irmãs excêntricas e perigosas feiticeiras. Os contos podem oferecer, pela época na qual foram escritos, um retrato do dia a dia no mundo pré-industrializado e um pouco das dinâmicas sociais e outras informações do período.
Fonte: Livraria Cultura
Os contos de fadas deste livro provavelmente não são os da sua infância. Não só por serem versões “não censuradas” de histórias que crescemos ouvindo – como a menina do capuz vermelho, que neste livro (spoiler!) é simplesmente devorada pelo lobo –, mas por incluírem narrativas de várias culturas ao redor do mundo e, principalmente, por cada uma delas girar em torno de uma protagonista feminina.
Angela Carter, conhecida por suas versões feministas de contos de fadas, fez uma seleção de contos que exploram a condição da mulher nesse gênero literário. Segundo ela, a intenção era demonstrar “a riqueza e a diversidade com que a feminilidade, na prática, é representada na cultura ‘não oficial’”. O resultado são 20 histórias que nos apresentam, sim, a madrasta má e as irmãs feias e invejosas, mas também mulheres espertas, fortes, passionais, proativas, compassivas e heroicas.
Contos de fadas são sempre divertidos, e estes me fizeram rir várias vezes. Como Carter diz na (excelente) introdução, muitas histórias da cultura popular foram “editadas” para se transformar em passatempo e meio de instrução da burguesia, mas estes contos retêm as situações sexuais e “grosseiras” que caracterizavam originalmente o gênero (uma das histórias é praticamente uma piada). Isso pra não mencionar uma série de mortes medonhas que devem divertir o leitor com um senso de humor mais negro. Não há muita piedade com as bruxas e madrastas nesse difícil mundo.
Uma das melhores partes da experiência de ler esses contos é fazer conexões entre histórias de locais diferentes: encontramos trechos de um conto malauí que se repetem em um chinês; uma Cinderela egípcia e uma inglesa; uma versão armênia da Branca de Neve (em que a própria mãe manda o pai matar a filha!) com toques de Bela Adormecida, e por aí vai. Por outro lado, essas narrativas têm as particularidades de seus locais de origem – em algumas, por exemplo, encontramos famílias poligâmicas.
Como disse, a introdução é ótima: Carter rapidamente explica as origens difusas dos contos de fadas, sua compilação nos últimos séculos e as principais características do gênero. E no final do livro, junto com a fonte dos contos, há algumas notas bem interessantes. É uma leitura rápida, e recomendo a todos que dediquem um tempo a se maravilhar com a magia desses contos e admirar a engenhosidade de suas mulheres.
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A menina do capuz vermelho
Autor: Angela Carter
Tradutor: Luciano Vieira Machado
Editora: Penguin/Companhia das Letras
Ano desta edição: 2011
144 páginas
Citações preferidas
Era uma vez duas irmãs; a mais velha era muito bonita, e todos a chamavam de Bela; porém a mais nova tinha o rosto coberto de bexigas, e todos a chamavam Rosto Bexiguento.
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“Isto é uma Pedra da Paciência. […] Se uma pessoa que tem grandes problemas os conta à Pedra da Paciência, acontecem algumas mudanças. Se os problemas da pessoa forem grandes, tão grandes que a Pedra da Paciência não os possa suportar, ela incha e estoura. Por outro lado, se a pessoa estiver fazendo tempestade em copo d’água, quem vai inchar é a pessoa, e não a pedra.”
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“Pai, diga ao czar que a coisa mais forte e mais rápida do mundo é o vento, a coisa mais gorda é a terra, porque ela alimenta tudo que cresce e vive. A coisa mais macia do mundo é a mão, porque onde quer que um homem se deite, ele põe a mão sob a cabeça. E não há nada mais encantador no mundo do que o sono.”
Bela resenha. Faz alguns ANOS que estou querendo esse livro e me segurando (pois se for comprar todos os livros de contos de fadas eu vou falir, rs!). A resenha só fez aumentar minha vontade!
Oi, Camila! Obrigada pelo comentário. Com ctz você ia gostar! (A propósito, ainda não li seu livro inteiro, mas li o conto preferido da Gi e achei sensacional. Parabéns pelo trabalho!)