[Resenha] Claros sinais de loucura

clarossinaisSinopse:

Você nunca conheceu ninguém como Sarah Nelson. Enquanto a maioria dos amigos adora Harry Potter, ela passa o tempo escrevendo cartas para Atticus Finch, o advogado de O sol é para todos. Coleciona palavras-problema em um diário, tem uma planta como melhor amiga e vive tentando achar em si mesma sinais de que está ficando louca.

Fonte: Livraria Cultura

Nos jornais, frequentemente vemos grandes tragédias envolvendo violência doméstica, e sabemos que a comoção causada por esses casos é grande e duradoura. Claros sinais de loucura nos mostra essa realidade mais de perto, ao retratar uma família que precisa seguir em frente depois que a mãe tentou matar os dois filhos gêmeos de dois anos. O irmão de Sarah morreu e a mãe foi internada em um hospital psiquiátrico. Já ela e o pai passaram o resto da vida fugindo do assédio dos jornalistas e do julgamento das pessoas. Por isso se mudam com frequência, em busca de anonimato e normalidade.

A protagonista e também narradora da história, Sarah Nelson, nos apresenta sua revolta com as pessoas e sua paixão pelas palavras enquanto conta sobre o verão em que fez doze anos. Ela desperta no leitor as memórias de como era ter essa idade, com uma mente ocupada com as preocupações da adolescência enquanto mantém a curiosidade e a visão de mundo de uma criança. É muito difícil retratar uma menina de doze anos, mas a autora acerta a mão: nenhuma cena parece artificial, nem escrita para ensinar algo aos leitores pré-adolescentes .

É engraçado como eu não sabia que era só um monte de peças soltas até que alguém me abraçou forte.

Como muitas garotas adolescentes, Sarah vive uma relação conflituosa com a mãe, mas em seu caso o problema é a ausência materna. A mãe de Sarah não só está ausente, como seu nome se tornou tabu, tanto dentro como fora de casa. Isso, unido ao alcoolismo do pai, torna Sarah uma pessoa madura, mas também muito carente. Em mais de um momento ao longo do livro, Sarah procura compreensão em diferentes figuras – desde suas vizinhas até um personagem fictício de sua obra favorita, O sol é para todos – e alega sentir falta de pessoas que nunca estiveram ao seu lado. Saudade é uma das sensações mais recorrentes na vida de Sarah.

Em meio a questões simples da adolescência e problemas mais complicados, como a conflituosa relação com a família, Sarah conquista o leitor com uma narrativa leve, com capítulos curtos e agradáveis de ler, que trazem um contraste interessante entre bom humor e seriedade. “Equilíbrio” não está na lista de palavras favoritas da menina, que é uma “logófila”, mas com certeza serve para definir essa obra, que traz personagens verossímeis sem exagerar seus dramas nem apelar demais para conquistar a simpatia do leitor. A estreia de Karen Harrington no mundo da literatura infantojuvenil é surpreendente, e deixa grandes expectativas para seu próximo lançamento (Courage for Beginners, sem lançamento previsto no Brasil). Vamos esperar!

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Claros sinais de loucura
Autor: Karen Harrington
Tradutor: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2014
256 páginas

Citações favoritas

A mãe da Lisa diz que, como todas as pessoas são parte do corpo de Cristo, algumas acabam tendo que ser o sovaco.

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Ele disse que estudar uma palavra é como abrir uma mala antiga. Se você quiser, pode continuar a tirar coisas lá de dentro e olhar para elas como se fossem novas em folha.

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Alguém deveria investigar se o calor tem algo a ver com as pessoas matarem as outras.

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[…] ouvi um astronauta dizer que podia encostar na janela do ônibus espacial e esconder um grande pedaço do planeta. Dá vontade de saber se Deus faz isso de vez em quando, só porque pode. Ele talvez até queira esconder certas pessoas apenas para ver como as coisas na Terra ficariam sem elas.

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Descobri que é preciso escolher ter coragem todos os dias, como se escolhe a camisa que vai vestir. Não é automático.

Livro cedido em parceria com a Intrínseca.

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4 respostas em “[Resenha] Claros sinais de loucura

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