Sinopse:
Imagine que seu marido tenha lhe escrito uma carta que deve ser aberta apenas quando ele morrer. Imagine também que essa carta revela seu pior e mais profundo segredo ― algo com o potencial de destruir não apenas a vida que vocês construíram juntos, mas também a de outras pessoas. Imagine, então, que você encontra essa carta enquanto seu marido ainda está bem vivo…
Fonte: Livraria Cultura
Não deixe a capa desse livro te enganar. Nunca o teria pego na livraria por conta própria, mas a editora nos enviou de cortesia e fiquei curiosa. Comecei a leitura meio desconfiada, esperando uma história boba ou melodramática, conforme a rosa despedaçada prometia. Acabou sendo uma ótima surpresa, e devorei as mais de 300 páginas em dois dias.
Minha outra hipótese inicial ― de que o sucesso do livro dependeria da revelação contida na tal carta ― só se comprovou em parte. Tentarei não dar spoilers, mas aviso que o leitor descobre o segredo do marido antes da metade do livro, e que não é tão chocante assim. Nem acho que a intenção da autora fosse chocar; a narrativa nos faz chegar à conclusão sozinhos. O que mais faz o livro valer a pena são suas outras qualidades, incluindo o fato de ser uma boa história de mistério.
Eu também não esperava que fosse sobre três mulheres: Cecilia, esposa e mãe de três filhas que encontra a carta misteriosa; Tess, mãe que se depara com uma crise marital envolvendo sua prima/melhor amiga; e Rachel, uma senhora que vê sua vida ruir quando o filho promete levar o neto para os EUA (a história se passa na Austrália). O livro é narrado do ponto de vista das três (com breves momentos de onisciência), que se entrelaçam à medida que seus caminhos se cruzam. E, ainda fugindo de spoilers, mas instigando o possível leitor, digo apenas que há um assassinato no passado de uma dessas mulheres, e que a trama gira em torno dele.
Uma das coisas mais legais é o retrato maravilhoso e verossímil dessas três mulheres – e o fato de serem mulheres de meia idade. Estamos tão acostumados a ver a história de jovens em livros e filmes que fui pega de surpresa pelo instigante mundo interior dessas mulheres em estágios da vida afastados do meu. O livro chama a atenção para o fato de que “experiência feminina” é múltipla e particular. A autora dá a cada uma de suas personagens qualidades, defeitos e psiques complexas; experiências compartilhadas pela condição de serem mulheres, mas ao mesmo tempo profundamente pessoais, de acordo com a personalidade de cada uma. Todas têm sentimentos ruins sem serem pessoas ruins (uma questão que permeia todo o livro, aliás). E a questão de gênero, do que é ser mulher, da sensualidade e da sexualidade é muito forte.
Livros assim deveriam ser lição de casa para escritores homens, que muitas vezes não sabem bem como dar às suas personagens femininas personalidades únicas e verossímeis.
Tess, por exemplo, é uma mulher casada e bem-sucedida, mas introvertida e que sofre de ansiedade social (algo cujo nome ela só descobre bem tarde). Ao longo do livro, percebe que sua vida foi moldada por essa condição, e vê seus erros e hábitos com clareza depois de receber uma revelação chocante que a faz reavaliar seu passado e presente. Liane Moriarty consegue retratar suas dificuldades muito bem.
Enfim, é uma narrativa madura, que trata de tragédias e traições sem se tornar muito exagerada – embora a resolução “cósmica” do caso tenha me parecido um tanto forçada. Uma história que aborda questões como culpa, remorso, justiça e, acima de tudo, a sobrevivência às dores mais profundas. E, apesar de ser uma narrativa veloz, propõe dilemas morais que devem levar todo leitor a se pôr no lugar das personagens e se perguntar o que fariam naquela situação.
Recomendo pra quem procura uma leitura rápida, tensa e tocante.
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O segredo do meu marido
Autor: Liane Moriarty
Tradutor: Rachel Agavino
Editora: Intrínseca
Ano de publicação: 2013
Ano desta edição: 2014
368 páginas
Citação preferida
As pessoas pensavam que a tragédia trazia sabedoria, que elevava automaticamente o sofredor a um patamar mais alto, mais espiritualizado; porém, para [ela] parecia, na verdade, ser o contrário. A tragédia tornava o indivíduo pequeno e rancoroso. Não lhe proporcionava nenhum grande conhecimento ou discernimento. Ela não entendia droga nenhuma da vida, exceto que era arbitrária e cruel, e que algumas pessoas se safavam de um assassinato, enquanto outras cometiam um erro insignificante, um deslize, e pagavam um preço terrível.
Livro cedido em parceria com a Intrínseca.
Hey Bárbara, tudo bem? Quando escrevi sobre “O segredo do meu marido” no SLET fiquei com receio de deixar escapar spoilers, mas você conseguiu escrever sobre tudo o que me fez gostar do livro sem estragar a história para quem ainda não o leu. =) Concordo com essa parte: “Livros assim deveriam ser lição de casa para escritores homens, que muitas vezes não sabem bem como dar às suas personagens femininas personalidades únicas e verossímeis.” Mais ou menos neste mesmo raciocínio, sempre me pergunto se há algum tipo de influencia na tradução quando um homem é contratado para traduzir um livro narrado em primeira pessoa por personagem feminina (o último caso que me recordo: a série Divergente).
Estou seguindo o blog no Facebook! 😉 Obrigada pelo comentário no sobrelivrosetraducoes.wordpress.com!
Oi, Brenda! Prazer, Isa. A Bárbara me mostrou o seu blog, muito legal! Vamos acompanhá-lo. 🙂
Então, essa resenha é minha! Sou tradutora também, e interessante sua observação: nunca li Divergente, vc reparou em alguma coisa nesse sentido? Enfim, obrigada pelo comentário!
Oi Isa! Depois que postei o comentário, vi que a resenha era sua.Ops! Hehe Eu só li Divergente em português até agora, então não sei dizer ao certo se a tradução influenciou a narração. Nada me chamou a atenção em português, pelo menos. Preciso ler em inglês agora. (Mas, na verdade, não gostei muito do livro. Li porque sempre fico curiosa em relação aos best-sellers. No momento, estou lendo Insurgente e é um pouco melhor.)
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