Sinopse:
Lara Jean guarda suas cartas de amor em uma caixa de chapéu que ganhou da mãe. Não são cartas que ela recebeu de namorados, mas que ela mesma escreveu. Uma para cada garoto que amou – cinco ao todo. Até que, um dia, essas cartas secretas são misteriosamente enviadas aos destinatários e, de uma hora para outra, a vida amorosa de Lara Jean sai do papel e se transforma em algo que ela não pode mais controlar.
Fonte: Intrínseca
Lara Jean é a irmã do meio de duas outras meninas. Ela gosta de guardar objetos (seus pequenos “tesouros”) e escrever cartas, é apaixonada pela família e tem medo de dirigir. Por essa descrição, já me identifiquei com a personagem e me animei para ler o livro. E foi por isso que a minha primeira reação a ele (depois da péssima impressão causada pela capa, que achei bem feia) foi bastante positiva.
Lara Jean é secretamente apaixonada por Josh, um vizinho e grande amigo da família que parece passar mais tempo na casa delas do que na sua. O problema é que Josh é namorado de Margot, irmã mais velha de Lara Jean. Mas a protagonista tem um jeito de lidar com suas paixões platônicas: ela escreve uma carta de amor para os garotos que ama, e nunca a envia. Depois de escrever a carta, sente como se já tivesse se despedido daquele amor e estivesse pronta a seguir em frente. Foi como lidou com seus sentimentos por Josh e por outros quatro meninos antes dele. Mas a vida da garota vira de ponta-cabeça quando todas essas cartas são misteriosamente enviadas a seus destinatários – incluindo Josh, justo quando Margot termina o relacionamento com ele e vai para a Escócia fazer faculdade.
Até aqui, uma baguncinha digna de comédia romântica. E a forma como Lara Jean “resolve” a situação também parece ter saído de um filme bem clichê desse gênero: ela começa um namoro de mentira com Peter Kavinsky (um dos garotos que receberam suas cartas, mas por quem ela já não tem interesse algum), para provar a Josh que já está em outra. Peter também tem um interesse nessa farsa: ele quer fazer ciúmes para a ex-namorada, logo depois que os dois terminaram o relacionamento. Então os dois fazem um contrato combinando como será o namoro de mentira e passam a desfilar pela escola de mãos dadas, trocar bilhetinhos e tomar milkshakes juntos, mesmo que Lara Jean considere Peter um babaca arrogante, e ele ainda esteja apaixonado pela ex.
Essa parte da trama é bem previsível, mas não de um jeito que me incomode muito. O livro em si tem tantas fofuras e personagens tão cativantes (como Kitty – a irmã mais nova de Lara Jean – e Josh) que eu estava relevando as escolhas burras feitas pela protagonista. Porém, lá pela metade do livro, Lara Jean, que narra a história em primeira pessoa, começa a fazer umas afirmações bem preocupantes. Um exemplo:
Margot diria que pertence a si mesma. Kitty diria que não pertence a ninguém. […] Pertencer a alguém… Eu não tinha percebido, mas, agora que estou pensando no assunto, parece que é tudo que eu sempre quis. Ser de alguém de verdade, e que essa pessoa fosse minha.
Foi nesse trecho que comecei a torcer o nariz. Tive vontade de sacudir Lara Jean e dizer para ela ser um pouco mais como as irmãs. A partir daí, as inseguranças e carências da personagem foram transparecendo cada vez mais. Além da vontade louca de ter um namorado a qualquer custo, ela começa a questionar seus próprios hobbies (que incluem passar o tempo com as irmãs e visitar velhinhos num asilo nas noites de sexta) simplesmente porque outros adolescentes desprezam essas coisas e dizem que ela não sabe se divertir.
É claro que o fato de a personagem se sentir insegura não é um problema – pelo contrário, isso a torna mais real. O problema é a forma como tudo isso é apresentado e trabalhado pela autora, como explicarei abaixo.
Diante das inseguranças, Lara Jean começa a ir a festas e passar mais tempo com seu namorado falso. Sua família e Josh, que veem a situação de fora, várias vezes lhe dizem que ela está mudada e se preocupam, por não considerarem Peter uma boa companhia. A princípio, Lara Jean consegue enxergar o lado ruim de Peter, mas o tempo passado com ele a faz gostar do menino. Isso poderia tornar Peter um personagem um pouco mais complexo, para relativizar e justificar os sentimentos de Lara Jean. Mas a verdade é que não dá para ver muitos aspectos positivos em Peter. Além de ser rude e jogar os problemas da garota na cara dela, o garoto começa a forçá-la a fazer coisas que não quer. Um dos capítulos termina com a frase:
Por que é tão difícil dizer não para ele? É essa a sensação de estar apaixonada por alguém?
Não, Lara Jean. Estar apaixonada não é dizer sim para tudo e ignorar as próprias vontades. Isso é o princípio de um relacionamento abusivo!
Como se esses pensamentos não bastassem, em certo momento Lara Jean reflete que gostaria muito de ter uma madrasta (sua mãe morreu quando ela era criança) porque sente falta de uma mulher que possa lhe ensinar coisas como passar blush e dar em cima de guardas para se livrar de multas. Sim, é para isso que Lara Jean acha que serve uma mãe, e aparentemente essa é a ideia de coisas importantes que só uma mulher pode te ensinar. Se eu fosse mãe dessa garota, lhe daria um cascudo por ficar dando em cima dos guardas de trânsito.
Aliás, Lara Jean tem uma péssima visão das outras garotas. À exceção de sua família, as outras mulheres são apresentadas como chatas, invejosas ou intrometidas. A ex-namorada de Peter, por exemplo, é vista como manipuladora, mesquinha e vingativa, e parece sempre prestes a atacar Lara Jean por “roubar” seu garoto. O lado dela nessa história é mostrado apenas de passagem, e Lara Jean parece ser completamente incapaz de se colocar no lugar da outra e sentir um pouquinho de empatia.
Fiquei bastante preocupada com a visão apresentada pelo livro em todos esses trechos. De certa forma, esperei que ela fosse desconstruída: que Lara Jean percebesse que não há problema algum em ser uma adolescente “caseira”, e que ela não deve fazer por seu namorado nada que a deixe desconfortável. Afinal, os demais personagens do livro parecem bem sensatos, e talvez pudessem orientar a garota. Mas não é isso que acontece, e a obra sustenta tais visões até o fim. Uma pena.
Os outros aspectos do livro me agradaram bastante. O relacionamento de Lara Jean com as irmãs, além de muito fofo, tem nuances bastante realistas, o que me deu a impressão de que a autora entende o que é ser irmã do meio. Aliás, todas as cenas de interação da família são bem meigas: o pai das garotas faz de tudo por elas, a pequena Kitty é uma criança sarcástica e sagaz (a melhor personagem!) e Margot se esforça para ser uma garota forte e um ótimo exemplo (que Lara Jean, infelizmente, não aprende a seguir). Josh é um adendo muito bom também. Gosto muito de como o livro aborda o relacionamento de um garoto com a família de sua namorada – e o impacto que o término do namoro causa não apenas no casal, mas em todos que conviviam com eles.
Para todos os garotos que já amei tem uma premissa bem fraquinha, mergulhada em ótimas cenas e excelentes personagens secundários. A leitura foi agradável, mas achei que o potencial de inovar e quebrar alguns tabus e preconceitos adolescentes foi desperdiçado – as ideias da narradora, que tanto a fazem sofrer, não mudam, e a garota não aprende quase nada com as confusões nas quais se mete. Não sei se recomendaria o livro, mas se o fizesse seria com várias ressalvas.
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Para todos os garotos que já amei
Autora: Jenny Han
Tradutora: Regiane Winarski
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2015
320 páginas
Livro cedido em parceria com a Intrínseca.
Citações favoritas:
Eu me pergunto como é ter tanto poder sobre alguém. Acho que não quero isso; é muita responsabilidade ter o coração de uma pessoa nas mãos.
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Irmãs deveriam brigar e fazer as pazes porque são irmãs, e irmãs sempre encontram o caminho de volta uma para a outra.
Noooossa! Hahaha Eu gostei da Lara Jean! Ela é bem bobinha, mas não fiquei incomodada com tudo isso que te incomodou! E eu não gostei da Margot. Achei que Lara tomou umas decisões bem falhas, mas que não mudaram as coisas boas nela. Da mesma forma que ela começou a frequentar festas e jogos com Peter, ele começou a frequentar a casa dela, tratava bem a Kitty (que realmente é a melhor personagem) e a participar de “eventos caseiros” como o festival de cookies ou algo assim. O pai até incentivava a Lara a sair com Peter, porque a menina não saía de casa por nada. O que faltou foi Lara Jean ser mais dura quando soube que ele estava frequentando a casa da ex (mas era um namoro falso, ela não tinha muito direito de tirar satisfações, né?). Lendo a sua resenha, eu me lembrei de Métrica. Eu detestei a Layken, achei o livro de muito mau gosto, cheio de mensagens falhas, no entanto, as pessoas parecem amá-lo! Eu não amei “Para todos os garotos que já amei”, mas senti como é estar do outro lado e ter gostado do livro! Hahaha =s Beijo, Babi!
Ah, o meu problema não foi tanto não gostar de Lara Jean, mas da mensagem que a autora parece querer passar, reforçando certos preconceitos que a personagem tem. Quero dizer, tudo bem a garota ser insegura, mas a história meio que leva a crer que ela tinha, sim, que se sentir mal por ser do jeito que é. Não gostei disso.
Não conheço Métrica, então não sei se gosto, hehe. Mas entendi o espírito da coisa. 😉
Beijos!
Eu super amei esse livro haha 😀