O que significa ser feminista no século XXI? Por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres? Eis as questões que estão no cerne de Sejamos todos feministas, ensaio da premiada autora de Americanah e Meio sol amarelo. Neste ensaio agudo, sagaz e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para pensar o que ainda precisa ser feito de modo que as meninas não anulem mais sua personalidade para ser como esperam que sejam, e os meninos se sintam livres para crescer sem ter que se enquadrar nos estereótipos de masculinidade. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston.
Fonte: Livraria Cultura
Leiamos todos este livro: “Sejamos todos feministas”, da maravilhosa Chimamanda Ngonzi Adichie. Estou realmente sem palavras pra esse livro, pra essa mulher. Posso dizer que, com certeza, foi uma das minhas melhores leituras dos últimos tempos!
Há algum tempo tem-se criado grande furor com relação a Chimamanda, o que pude concluir que não é sem motivo. Mas vamos começar a história do princípio: eu sou feminista. Sou feminista já há alguns anos, e grande parte das minhas amigas também são. (Orgulho!!!) Sendo assim, faço minhas leituras, entro em discussões, apresento meus pontos de vista. Mas recentemente me dei conta de que minha mãe não tinha tanto envolvimento com o movimento no qual estou mergulhada. Achei A-B-SUR-DO! Então resolvi presenteá-la com o livro Sejamos todos feministas. Já sabia mais ou menos como era o discurso de Chimamanda, então tinha ideia de como seria o livro apesar de ainda não tê-lo lido.
Minha mãe o leu e ela simplesmente AMOU! Foi bem emocionante ver que ela ficou tocada por aquele discurso e também começou a levantar questões relacionadas ao machismo nosso de cada dia. Enfim, me tornei uma filha orgulhosa – e curiosa, pois também comprei o livro pensando em mim. Estava com certa curiosidade para lê-lo, algo que fiz assim que minha mãe o terminou. E nossa… que livro! Que discurso! Quanta sensatez…
O livro tem apenas 50 páginas com letras e espaçamento confortáveis para o leitor. É o típico livro que você lê “em uma sentada”, tanto pela fluidez da leitura como pelos sentimentos que surgem e te fazem querer devorar o livro e ler o resto da obra da autora (algo que já estou providenciando).
É incrível como a Chimamanda fala por nós, fala para todos e fala de maneira didática. Seus exemplos são aqueles que vemos e vivemos no dia a dia. E por mais que possam parecer simples acontecimentos cotidianos, ela entra com uma arma poderosa ao apresentá-los: problematiza o que foi naturalizado pela nossa sociedade. Fala sobre as diferenças entre meninos e meninas, as obrigações e vantagens que uns têm sobre os outros; depois aquelas existentes entre homens e mulheres, na diferença como são vistos pela sociedade e sobre a credibilidade que lhes é concedida de acordo com seu gênero. Ela levanta a questão do desejo e da sexualidade com tanta naturalidade que fiquei mais intrigada ainda ao pensar em por que esse assunto é um dos grandes tabus da nossa sociedade.
Quando terminei o livro entrei num estado de plenitude em que sempre fico quando leio, ouço ou vejo algo que explica sentimentos confusos dentro de mim e que algumas vezes tenho dificuldade em externalizar. É um livro que usarei para presentear mais vezes, pois certamente mudará outros pensamentos além dos da minha mãe. ❤
Como disse, o livro é beeem curtinho, mas após a página 50 há ainda seções que falam sobre a autora e outras de suas obras. Recomendo também a leitura dessas partes do livro, pois elas abrem o apetite literário de qualquer um! Toda a leitura foi muito prazeirosa e desse livro tenho apenas uma reclamação: COMO ESCOLHER OS MEUS TRECHOS PREFERIDOS SE O LIVRO INTEIRO SE TORNOU PREFERIDO? Penei para ficar dentro dos 10% de uso livre. Não foi fácil. Tirando isso, desejo a todos uma boa leitura.
Fotos do desespero
O livro:
As citações preferidas:
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Sejamos todos feministas
Autora: Chimamanda Ngozi Adiche
Tradutora: Christina Baum
Editora: Companhia das Letras
Ano desta edição: 2015
63 páginas
Citações preferidas (finalmente escolhidas)
Decidi me tornar uma “feminista feliz e africana que não odeia os homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.
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Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal.
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A já falecida nigeriana Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, se expressou muito bem e em poucas palavras quando disse que quanto mais perto do topo chegamos, menos mulheres encontramos.
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Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar.
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Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece.
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O modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos […].
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Já que pertenço ao sexo feminino, espera-se que almeje me casar. Espera-se que faça minhas escolhas levando em conta que o casamento é a coisa mais importante do mundo. […] Mas por que ensinamos as meninas a aspirar ao casamento, mas não fazemos o mesmo com os meninos?
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Nós policiamos nossas meninas. Elogiamos a virgindade delas, mas não a dos meninos (e me pergunto como isso pode funcionar, já que a perda da virgindade é um processo que normalmente envolve duas pessoas).
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“Fecha as pernas, olha o decote.” Nós as fazemos sentir vergonha da condição feminina; elas já nascem culpadas. Elas crescem e se transformam em mulheres que não podem externar seus desejos.
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O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.
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E se criássemos nossas crianças ressaltando seus talentos, e não seu gênero?
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Quando um homem vai a uma reunião de negócios, não lhe passa pela cabeça se será levado a sério ou não dependendo da roupa que vestir – mas a mulher pondera.
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“Por que usar a palavra ‘feminista’? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?” Porque seria desonesto.
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Gênero e classe são coisas distintas. Um homem pobre ainda tem os privilégios de ser homem, mesmo que não tenha o privilégio da riqueza.
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Uma vez eu estava falando sobre a questão de gênero e um homem me perguntou por que eu me via como uma mulher e não como um ser humano. É o tipo de pergunta que funciona para silenciar a experiência específica de uma pessoa.
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Tem gente que diz que a mulher é subordinada ao homem porque isso faz parte da nossa cultura. Mas a cultura está sempre em transformação. […]
A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura.
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Minha bisavó, pelas histórias que ouvi, era feminista. […] Ela resistiu, protestou, falou alto quando se viu privada de espaço e acesso por ser do sexo feminino. Ela não conhecia a palavra “feminista”. Mas nem por isso ela não era uma.
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Este livro não precisava de mais que 50 páginas, Chimamanda foi genial em suas colocações, foi serena e sensata ao apresentar os pontos mais delicados. Sou feminista pelo modo como penso, mas ainda não tinha me sentido tão representada como me senti pela escrita da autora.
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