Sinopse:
Uma organização treina jovens talentosos para controlar a mente e o comportamento das pessoas usando combinações específicas de palavras. Os iniciados deixam suas verdadeiras identidades para trás e passam a usar nomes de grandes poetas. Em seu novo livro, Max Barry constrói uma trama sombria na qual as palavras são tratadas como armas e os tipos mais vis usam como pseudônimos grandes nomes da literatura.
Fonte: Livraria Cultura
Vamos falar do poder das palavras? O jeito que nos comunicamos é muito revelador. Define e delimita como vemos o mundo. Nomeamos as coisas que vemos e se algo não tem nome… é quase como se não existisse (inclusive há vários posts como esse, com palavras que só existem em uma língua e que mostram algum aspecto cultural específico). Como estudante de Letras, sou meio suspeita pra falar sobre como isso é interessante e maravilhoso. Vou dizer apenas que a premissa desse livro me interessou imediatamente.
A narrativa inicialmente se divide para acompanhar dois personagens: Emily Ruff e Wil Parke. Emily é uma menina de rua que fugiu de casa e se vira na rua fazendo truques com cartas, em uma parceria abusiva com outra criança de rua. Wil Parke é um carpinteiro que se vê sequestrado por pessoas que esperam obter dele algo que ele nem sabia existir.
A habilidade de persuasão de Emily é o que lhe permite sobreviver, e também o que chama a atenção de recrutadores de uma escola bem peculiar. A Academia seleciona jovens que considera aptos a aprender neurolinguística, sociologia, filosofia, latim, e a categorizar as pessoas em aproximadamente 200 tipos. E, com base nesse conhecimento, manipulá-las em diferentes níveis. Do lado de Wil, os seus sequestradores querem que ele lhes dê a “palavrárida”, que permite sugestionar todos os tipos de pessoas, de imediato. Um baita poder, dado que, pelo método “convencional”, cada tipo de pessoa requer quatro palavras para ficar sugestionável.
Enquanto Emily cresce e tenta contornar as regras rígidas da Academia, Wil se fode com seus sequestradores – tadinho, ele só queria continuar fazendo uns móveis de boa, e de repente tem que dar uns tiros pra sobreviver. E, como eu esperava… TUDO SE JUNTA DE UM JEITO ÓTIMO.
O ritmo alternado entre os dois personagens é muito gostoso. Além das narrativas dos personagens, há algumas notícias, e-mails e mensagens em fóruns que dão perspectivas diferentes para os fatos apresentados – o que me fez refletir de outra forma sobre o impacto das palavras, na forma de influência midiática.
Tá difícil não dar spoilers. Então vou listar coisas legais (eu gosto de listas) que rolam nessa história louca:
- uma cidade australiana isolada de tudo com cercas enormes porque todo mundo morreu (não que eu seja a favor de matar australianos, mas é um ótimo recurso narrativo matar todo mundo de causas misteriosas);
- pessoas com nomes de escritores famosos (depois que você se forma na Academia, ganha um nome famoso e passa a ser chamado de poeta. Eu queria ser tipo um Maiakóvski, mas aposto que me dariam alguém menos célebre);
- Emily sendo anárquica, contornando as regras e depois pegando um paramédico bem gatinho – além de uns outros caras – e apanhando da namorada deles (gosto quando os protagonistas não são invencíveis);
- uma figura detestável com rosto inexpressivo.
Em suma, a receita é bem boa e o livro é muito bem escrito. Pra mim o final foi um pouco sentimental demais – mas eu gosto de ver treta. Provavelmente agradará aqueles que gostam de resoluções catárticas com um leve aconchego no final. De qualquer forma, é uma leitura que me manteve bastante empolgada e me rendeu inspiração e reflexões.
*
Léxico
Autor: Max Barry
Tradutor: Domigos Demasi
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2015
364 páginas
Livro cedido em parceria com a Intrínseca.
Citações favoritas:
“Ok. É uma palavra.”
“Que poderia ter me matado.”
“Sim.”
“Não entendo como pode ser uma palavra.”
“É porque você não sabe o que são as palavras.”
*
“Diga pra mim o que você pensa que é o amor! […]”
“Certo”, disse Eliot. “É definir a si mesmo através dos olhos de outro. É passar a conhecer um ser humano em um nível tão íntimo que não percebe qualquer diferença significativa entre os dois e ter a consciência de que você é insuficiente sem essa pessoa, cada dia, por vinte anos, até ela conduzir um caminhão de animais contra você, e você atirar nela. É isso aí.”
*
Jessica passou a gostar de Emily imediatamente, talvez por sentir uma história semelhante, acrescida do potencial para descolar uma grana, e despejou sobre ela mais informações do que realmente precisava. Em troca, Emily colocou uma nota de cem na mão de Jessica, apertou-a e disse “Guarde bem isto”, e roubou-a de volta quando Jessica não estava olhando, porque, honestamente, aquilo não ia ajudar ninguém.
A premissa desse livro também me interessou bastante. Quero ler. =)
Oi, Gi! Adorei a ideia do livro, amo linguística (era minha matéria preferida na faculdade)! Então imagino que vá simplesmente amar essa história :3
http://www.ummetroemeiodelivros.com
Pingback: [Resenha] Os filhos de Anansi | Sem Serifa
Pingback: [Resenha] A biblioteca invisível | Sem Serifa