[Resenha] Como Star Wars conquistou o universo

comoswSinopse:

Por várias gerações, Star Wars tem arrastado fãs de todas as idades aos cinemas, às lojas de brinquedos, às livrarias ─ praticamente a todo lugar que se vai, Star Wars está presente como uma entidade maior do que os filmes da saga. É tão abrangente em todos os sentidos que mesmo aqueles que não assistiram ao filme conhecem a figura de Darth Vader e a maior revelação da história criada pelo cineasta George Lucas. Em um trabalho jornalístico surpreendente, Chris Taylor revela segredos que até o fã mais radical desconhecia, derruba e confirma antigos mitos e rumores sobre sua produção, e dá voz a todo mundo que foi relevante na criação de Star Wars como um todo, de aliados a desafetos de George Lucas. Porém, apesar de falar sobre Star Wars, o livro vai muito além: fala sobre cinema em geral, administração, gerenciamento de marca e até determinação pessoal.

Fonte: Livraria Cultura

Como Star Wars conquistou o universo é, ao mesmo tempo, um extenso e exemplar trabalho de jornalismo, a biografia da maior saga da cultura pop de todos os tempos e um livro muito gostoso de ler.

Em mais de 600 páginas de muita informação, o jornalista e editor Chris Taylor conta a história detalhada da franquia, mas não apenas isso: dá uma grande aula sobre cinema, criação de histórias, marketing e colocação de marca. Esses aspectos tornam a obra atraente não apenas para fãs de SW, como para outras mentes criativas que queiram entender o fenômeno e aprender sobre o surgimento e desenvolvimento da cultura pop norte-americana.

O livro começa contando a história das obras que serviram de referência e prepararam o terreno para SW – da série Barsoom a Flash Gordon –, falando de Wells e Verne e explicando a diferença entre ficção científica e fantasia espacial. É um capítulo muito rico e didático para quem quer pesquisar mais sobre ficção especulativa.

Depois, é contada a trajetória de Lucas desde a infância, o início do amor pelas câmeras e como um acidente de carro o levou à dedicação ao cinema. Mas parte do trabalho de Taylor com seu livro é desmistificar a figura de Lucas – a criação de SW foi, sim, um processo inteligente e bem planejado, mas também houve muita sorte e algumas coincidências felizes. Além disso, Taylor dá uma ideia da quantidade de mentes envolvidas na criação do fenômeno – de John Dykstra, responsável pelos efeitos especiais do primeiro filme, a Charley Lippincott, gênio do marketing que basicamente inventou tudo o que até hoje é feito para promover filmes.

O livro também menciona as participações mal creditadas do fenômeno SW, sendo uma delas Marcia Lucas, ex-esposa do Criador (sim, é assim que as pessoas chamam George Lucas). Seu trabalho na edição dos filmes da trilogia original e a participação no crescimento e gestão da Lucasfilm são praticamente ignorados pelo público. Aliás, Marcia é apenas uma das mulheres injustiçadas por SW – Carrie Fisher praticamente implorou, sem sucesso, para que o diretor desse mais profundidade a Leia. (Aliás, fun fact pra vocês: numa das primeiras versões do roteiro Luke era uma mulher.)

A história de SW é sempre apresentada com paralelos em relação à história do cinema hollywoodiano, dando uma noção do contextoem que cada filme foi criado e lançado. Destaque para a relação de Lucas com diretores como Francis Ford Coppola, que foi um de seus mentores, e Steven Spielberg, com quem ele mantinha uma saudável competição. É também interessante ler os trechos que estabelecem relações com Star Trek – a pesquisa de Taylor mostra a pequena influência que o seriado teve na concepção da obra de Lucas, e a grande importância que Star Wars teve para que Star Trek também fosse para os cinemas.

É muito interessante saber mais sobre o processo criativo de Star Wars. Os primeiros manuscritos para o roteiro eram completamente diferentes e, para os fãs de hoje, parecem bem absurdos. Além disso, Taylor investiga a origem de grandes revelações da saga. Em geral, essa origem não tem uma história oficial e confiável, é tudo um pouco obscuro. Minha história favorita sobre a revelação de que Vader é pai de Luke inclui a ideia de que o ator na armadura do vilão, David Prowse, falou outra fala, para que as pessoas na produção não soubessem do spoiler. Como a voz de Vader era dublada na edição final, Prowse só teria descoberto a revelação ao assistir à estreia de O Império contra-ataca.

Paralelo à história da produção de filmes, o livro intercala capítulos que destacam o fato de que SW é um fenômeno coletivo. Taylor revela o nível em que SW mudou o mundo e foi mudado pela interação com os fãs. Desde aulas de como manejar um sabre de luz a clubes de montadores de R2, SW mudou a vida de milhares de pessoas, criando o que hoje conhecemos como fãs hardcore. O Império contra-ataca teve a primeira ocorrência (ou uma das primeiras) de fãs acampando na fila para a estreia de um filme. E esses mesmos fãs tomaram para si, aumentaram e santificaram SW (quase que literalmente, pois chegaram a criar uma religião chamada jedaísmo), o que, para Lucas, é um grande exagero. (O livro trata bastante da relação de amor, ódio e indiferença do Criador para com SW.)

Alguns dos meus capítulos favoritos são “Guerra de paródias”, na qual o autor fala das muitas paródias e vídeos engraçadinhos do YouTube, e “Sendo Boba Fett”. Neste, Taylor apresenta Boba Fett como o melhor exemplo de que Star Wars extrapola os filmes: um personagem com apenas 150 segundos de aparição na trilogia original ganhou um dos primeiros fã-clubes de SW, e até hoje inspira grande amor e muita admiração entre os fãs.

No epílogo, escrito este ano, o autor comenta o primeiro trailer de Episódio VII – fala das expectativas e especulações sobre o filme, e aproveita para desbancar alguns pseudo-fãs racistas que questionaram como Finn poderia ser um stormtrooper, sendo negro. Além disso, Taylor ainda afirma que recebeu informações privilegiadas sobre o enredo do novo filme, mas que nem ele sabe se são verdade. Como todo mundo, ele vai precisar esperar até semana que vem para assistir ao filme.

As informações e curiosidades trazidas nesse livro são inúmeras. E, apesar da densidade, é uma obra deliciosa de se ler. Além de bem-humorado, Chris Taylor sabe muito bem estruturar seu texto, deixando a leitura gostosa e intercalando os assuntos de forma muito natural. Livro mais do que recomendado.

christaylor

As blogueiras confirmam: Chris Taylor é muito legal. Aliás, a foto da Gi veio do Instagram dele, @futurechris.

Algumas curiosidades legais trazidas pelo livro:

  • Em algum momento durante os mandatos de Barack Obama, internautas enviaram à Casa Branca uma petição pedindo a construção de uma Estrela da Morte. A presidência enviou uma espirituosa resposta oficial, que começava questionando por que alguém construiria uma estação de combate que pode ser facilmente destruída por uma nave individual atirando num tubo de ventilação. Obama 1 X Palpatine 0.
  • Quando recebeu a trilha sonora composta por John Williams, Lucas ligou imediatamente para Spielberg, que, ao ouvir o resultado, ficou arrasado – porque sabia que seu próximo filme não poderia superar aquilo.
  • Em algum ponto da febre por ficção científica e fantasia espacial gerada com o lançamento de Star Wars, um empreendedor idealizou um parque temático chamado Terra da Ficção Científica. O parque nunca saiu do papel porque seus projetistas foram presos sob suspeita de fraude e roubo. POR QUE NINGUÉM FAZ PETIÇÃO POR ESSE PROJETO?!
  • Em algum momento, para o papel de Yoda, alguém achou que o ideal seria um bebê macaco usando uma fantasia. Reflitam.

*

Como Star Wars conquistou o universo
Autor: Chris Taylor
Tradutor: André Gordirro
Editora: Aleph
Ano desta edição: 2015
616 páginas

Citações favoritas:

“Eu sangro na página. É horrível.” Foi assim que o cineasta descreveu seu estilo de escrever, do primeiro roteiro em diante.

*

Para fazer Star Wars, você tem que odiar Star Wars.

*

A ficção científica reflete nosso mundo, a fantasia espacial transcende nosso mundo. Ela é nostálgica e romântica, e mais livremente aventurosa, e pega a tecnologia como um mero ponto de partida. Joga as leis da física em nome da diversão.

*

Em 1985, havia mais bonequinhos de Star Wars no planeta do que cidadãos americanos.

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