[Resenha] O fim da infância

fimdainfanSinopse:

Nos primeiros anos da Guerra Fria, uma raça intelectual e tecnologicamente superior ao homem desce dos céus para governar a Terra. Diferente do que se poderia imaginar, os invasores não pretendem escravizar a humanidade. Ao contrário, eles acabam conduzindo-a a um período de prosperidade jamais visto, em que não mais existem a fome, a marginalidade, as doenças e a guerra. Benevolentes, parecem querer sinceramente o melhor para os seres humanos. Mas os Senhores Supremos têm suas regras: não é permitido a ninguém conhecê-los, e a exploração do espaço está terminantemente proibida. Como afirma seu enigmático líder, “as estrelas não são para os homens”. Com muitas conquistas e poucos focos de resistência, a humanidade capitula diante do invasor.

Fonte: Livraria Cultura

Esse livro é um dos que mais me recomendam quando falo que gosto de ficção científica. Ouvi histórias de lágrimas caudalosas que influenciaram o destino de editoras. Ouvi gente falando que é um de seus livros favoritos.

Tive que ler, né?

Migues, não é fácil falar desse livro. Ele tem vários pontos críticos ao longo da trama, e revelar qualquer um deles pode estragar a experiência, então serei cuidadosa: as naves gigantes que aparecem sobre todas as capitais humanas são apenas o início de uma mudança social e tecnológica imensa. As fronteiras tornam-se meras formalidades, e a miséria, a injustiça e a guerra passam a ser memórias cada vez mais distantes. Há um significativo aumento da qualidade de vida (incluindo os clássicos carros voadores), mas a humanidade nunca esteve tão estagnada em termos de produção artística e avanços científicos próprios. O parâmetro tecnológico impressionante dos Seres Supremos desestimulou o espírito inquieto que nos move.

Quando chegaram à Terra, Karellen, o Supervisor da Terra, estabeleceu algumas imposições, dentre elas a proibição de matar animais (exceto para alimentação ou autodefesa) e de viagens espaciais. Além disso, os Senhores Supremos permaneceriam anônimos em suas naves.

Esta última imposição causa alguns problemas a Stormgren, o Secretário-geral da ONU, cargo que na prática o tornou porta-voz de Karellen – com a vantagem de ser o único humano a falar diretamente com ele, embora por autofalantes. A curiosidade quanto à aparência dos Senhores Supremos motiva inúmeras hipóteses, charges e o sequestro de Stormgren por parte de extremistas da Liga da Liberdade, um dos poucos grupos que se opõem ao comando dos alienígenas.

E AÍ… Stormgren sucumbe à curiosidade e, apesar de ter conseguido que Karellen prometesse se mostrar em 50 anos, faz um super plano pra dar uma espiadinha.

E aí o livro salta 50 anos e você pensa “Droga, só vou saber a aparência deles no final”. MAS NÃO. Você descobre e entende por que a humanidade não estava preparada pra isso. E aí cabô mistério? TAMBÉM NÃO. A gente já sabia que os Senhores Supremos são subordinados a alguma outra coisa e estão de olho na humanidade porque vai acontecer alguma parada.

Daí pra frente o livro transita de maneira suave entre alguns personagens próximos entre si, a começar por uma festa na qual há um Senhor Supremo lendo umas coisas esotéricas em alta velocidade. Poderia ser um interesse aleatório, MAS NÃO É. Um casal que estava na festa, Jean e George, vai à biblioteca e depara com esse Senhor Supremo, se casa e tem filhos. Algum tempo depois os dois vão morar em uma colônia cujo propósito é manter um núcleo de criação artística e cultural, com um sistema político baseado em engenharia social.

Paralelamente, outro participante dessa mesma festa (esse rolê foi l0k0), um astrônomo chamado Jan Rodricks, utiliza seus conhecimentos para determinar a localização do planeta dos Senhores Supremos. Com base no que observa do comportamento deles na Terra, decide ser o primeiro ser humano a desafiar as ordens deles e ir clandestinamente ao espaço. E ainda por cima de um jeito bem bíblico.

Clarke mandou muito bem na construção da história, abarcando um longo período de tempo e mudanças sociais significativas sem quebras desagradáveis na narrativa. As novas tecnologias inseridas são bem utilizadas, indo além de uma ambientação “futurista” artificial, e a descrição do mundo dos Senhores Supremos é bem interessante. Foi o primeiro livro que li do autor e me deu vontade de ler outras de suas obras, embora eu esteja priorizando a leitura de livros nacionais e/ou fora dos cânones masculinos da ficção.

As lágrimas prometidas não vieram, embora depois que você entende o que motiva o título do livro role uma comoção. Eu senti um baque de pequeneza e solidão bem grande, pelo menos.

Como de costume, os extras inseridos pela Aleph dão uma camada a mais na obra. Constam no final do livro uma segunda versão do primeiro capítulo (que não foi mantida) e o conto “Anjo da Guarda”, que foi o embrião da obra.

Apreciem a pequena seleção de citações sem spoilers e venham me dar um abraço de leve depois.

*

O fim da infância
Autor: Arthur C. Clarke
Tradutor: Carlos Angelo
Editora: Aleph
Ano de publicação: 2010
319 páginas

Livro cedido em parceria com a Aleph.

*

Citações favoritas:

Em particular, o modelo de moralidade sexual, se é que podemos dizer que existia um só modelo, havia se alterado de maneira radical.Tinha sido praticamente despedaçado por duas invenções, que foram, por ironia, de origem cem por cento humana e nada deviam aos Senhores Supremos.

A primeira foi um contraceptivo oral totalmente seguro. A segunda, um método, igualmente infalível, de identificação do pai de qualquer criança, tão preciso quanto impressões digitais e com base em uma análise muito detalhada de sangue. O efeito dessas duas invenções na sociedade humana só poderia ser descrito como devastador, e elas varreram os últimos vestígios da aberração puritana.

*

Estava de volta ao lar, enxergando outra vez com a luz cintilante de seu próprio Sol familiar, respirando o ar que primeiro banhara seus pulmões. A prancha de desembarque já fora baixada, mas ele teve de esperar um momento até que o clarão de fora deixasse de cegá-lo.

Karellen estava parado, um pouco afastado de seus colegas, ao lado de um grande veículo de transporte carregado de caixotes. Jan não parou para pensar como reconhecera o Supervisor, nem ficou surpreso ao vê-lo completamente inalterado. Essa era quase a única coisa que saíra como ele havia planejado.

“Tenho estado à sua espera” disse Karellen.

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