[Resenha] Dentista sinistra

dentista-sinistraSinopse:

O novo livro de David Walliams vai surpreender os leitores com uma história horripilante, mas também muito engraçada. Alfie é um menino de 12 anos que tem pavor de dentista. Ele tem tanto medo que há seis anos não pisa em um consultório dentário, desde que sofreu um grande trauma ao arrancar um dente.

Quando uma nova dentista chega à cidade, Alfie percebe que há algo sinistro em torno dela. Ele e a amiga Gaby resolvem dar uma de detetives, a fim de descobrir por que a nova dentista, a Srta. K. Nall, anda distribuindo doces sem açúcar e uma pasta de dentes que mais parece um ácido capaz de fazer buraco em pedras.

Mas o pobre Alfie vai se ver em uma grande enrascada quando sua investigação o levar a ficar amarrado na cadeira da dentista enquanto ela arranca todos os seus dentes.

Fonte: Editora Intrínseca

O começo da minha leitura da Dentista sinistra tem mais a ver com o projeto gráfico e ilustrações. Ameeeei a capa, quarta capa, orelha, tudo! Sem contar que ao obter o livro, junto vem uma dentadura (de papel) de dono único, recortável da orelha do livro. Achei incrível! O espaçamento, tamanho e fonte da letra e cor do papel são bons para a leitura, mas às vezes me sentia incomodada com o fato de o papel ser um pouco fino, o que faz alguns desenhos “vazarem” para a página anterior, isto é, nas páginas com texto aconteceu de algumas vezes a sombra de um desenho incomodar a leitura, mas nada de mais, só sou uma leitora com vista cansada…

A temática do livro é muito interessante, pois fala sobre uma dentista, e vê-se já pelo título que ela é sinistra, algo meio usual na área… O que esperava encontrar na minha leitura: desconstrução do paradigma de que os dentistas são uns monstros, afinal, eles cuidam dos nossos dentinhos, né… O que encontrei: perpetuação de um estireótipo no qual agora acredito também: dentistas são seres medonhos, vários argumentos bons do texto me convenceram disso.

O narrador dialoga muito com o leitor ao longo da história. Adorei os agradecimentos e, principalmente, o momento em que o narrador explica um pouco do livro: a história é de terror e tem muitas palavras inventadas. Quer melhor que isso? Aguçar a imaginação, brincar com significados… Essa é a vida que todo leitor sagaz adora! Eu inclusa. E julgo que, para crianças, isso seja ainda mais divertido, arrancando boas gargalhadas.

As personagens. Minha. Deusa. As personagens. As ilustrações são muito legais, mas minhas preferidas são o “Capitão Tapado, um policial” e o “Menino do Celular, um menino que nunca larga o celular”. Gente, achei genial, porque tem um toque do cotidiano na obra. Achei muito promissor, apesar de serem personagens secundárias. Creio que elas deveriam ter maior destaque na obra, tirando o Menino do Celular, que age como certas pessoas que conhecemos: não interage com quem está à sua volta porque fica nos chats da vida…

A personagem central da história é um menino chamado Alfie, que tem sua história iniciada quando passa pelo trauma de uma consulta mal sucedida com o dentista de sua cidade, o dr. K. Duco (melhor nome), aos 6 anos de idade.

Foi interessante observar que os temas abordados nesse livro são os mais diversos possíveis; há coisas bobas e corriqueiras e também questões muito sérias e difíceis de se encarar, principalmente quando se é criança. Mas Alfie é um menino bem maduro e que, por isso, tenta ser compreensivo independentemente das adversidades pelas quais passa junto de seu pai. Achei a descrição da vida deles bem triste, mas é interessante a veracidade que existe na situação descrita. É comum que crianças vivam os mais diversos problemas, mas raramente esse fato é retratado em livros com tanta profundidade. Alfie tem de lidar, por exemplo, com a presença de Winnie, uma assistente social que tenta ajudá-los a ter uma vida um pouco melhor, entretanto sua relação com ela tem altos e baixos.

Tudo o que acontece no livro tem uma essência meio bizarra, começando pela chegada da doutora K. Nall, que assume o posto de dentista da cidade. No início, Alfie não simpatiza com ela, mais pelo fato de ser dentista que por qualquer outra coisa, mas a partir do momento que coisas bizarras começam a acontecer na cidade ele e Gaby, uma amiga de escola, começam a investigar todas as ocorrências suspeitas em torno da dentista, de seu material de trabalho e, principalmente, pelo fato de distribuir doces às crianças da cidade, as quais ficam com cáries e perdem alguns dentes ao longo do tratamento com a dentista.

Com o passar do tempo as coisas começam a ficar cada vez mais estranhas, a ponto de Alfie bolar um plano mirabolante com o amigo Raj, arrancando um de seus dentes para tentar entender um problema que assola a vida das crianças: ao colocarem seus dentes caídos debaixo do travesseiro, em vez de uma moeda deixada pela fada do dente, encontravam no lugar coisas nojentas das mais variadas, (PEQUENO SPOILER ATÉ O FIM DA FRASE) desde animais mortos até um olho que ainda se mexia, como foi o caso de Alfie.

Esse romance “infanto-policial” tem seu ápice quando Alfie, Gaby e Raj começam a ter provas mais palpáveis de que a dentista, diferente do que tenta se mostrar aos adultos e às crianças, é uma pessoa de caráter duvidoso e dá motivos fortes para que se desconfie dela.

Achei bem triste o desfecho do mistério apresentado no livro. Apesar de o final em si ser feliz, há certo nível de sofrimento que considerei um pouco exagerado e que conseguiu tirar um pouco do brilho trazido com a solução do problema central da narrativa.

Achei o livro bem agitado e intrigante, muito bom pra introduzir crianças ao gênero suspense. O viés investigativo presente na obra é muito legal e bacana de ser trabalhado com crianças de uns 10-11 anos de idade. Talvez nessa idade se tenha mais perspicácia pra sacar certos dados que o livro dá ao longo da leitura e que no final das contas faz a trama se encaixar e não deixar nenhuma ponta solta. Nada na história fica por explicar, ou seja, o livro investigativo que temos em mãos cumpre seu papel, ele dá questões ao leitor, as analisa junto dele e, no fim, fornece todas as respostas necessárias!

Vale lembrar que: é ficção! Não deixem as crianças caírem nessa de que dentistas são malignos, porque aí não vai ser possível imaginar o que vai ter de gente com os dentes tão prejudicados quanto os de Alfie (vide imagem a seguir). Fora isso, a leitura é muito prazerosa e deixa qualquer leitor bem animado.

*

Dentista sinistra
Autor: David Walliams
Tradutor: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2015
381 páginas

Livro cedido em parceria com a Intrínseca

 

Citações preferidas:

Alfie odiava ir ao dentista. Por causa disso, tinha os dentes quase todos amarelos. E os que não eram amarelos eram marrons.

*

Alfie saiu do consultório do dentista o mais rápido que conseguiu com suas perninhas.

*

A maioria das mãos permaneceu no ar. Alfie até se levantou, para que a dele fosse a mais alta de todas: o menino era o rei de odiar muito, muito, muito mesmo ir ao dentista.

*

Ela ria no final das próprias frases, daquele jeito irritante que as pessoas alegres costumam fazer.

*

Era um menino contra um exército, mas ele não ia desistir ainda.

*

Em seguida, reparou em seus olhos. Aqueles olhos. Aqueles olhos negros. Tão negros que davam a impressão de que, se você olhasse demais no fundo daqueles olhos, veria sua própria morte.

*

Nenhuma daquelas ferramentas parecia projetada para minimizar a dor. Todas pareciam provocar dor. E dor em um nível olhos-esbugalhador*, choro-provocador* e pelo-arrepiador*. (*Alerta: palavra inventada.)

*

Alfie estava perdido. Sabia onde estava, mas não sabia para onde ir.

*

Ele ouviu a janela se abrir. Depois, a figura entrou no quarto, abrindo as cortinas velhas e sujas. Alfie teve vontade de gritar, mas não conseguia emitir som algum: sentia a boca seca de tanto medo.

*

Histórias fantásticas eram a especialidade do pai, mas estava difícil acreditar naquela.

*

Como a maioria das crianças quando lhes dizem para não fazer alguma coisa, Alfie fingiu não ouvir.

*

– O Papai noel na verdade é um velhote muito chato – prosseguiu a bruxa. – Sai por aí sempre desejando feliz natal a todo mundo. E, com toda aquela comida de festa, vive cheio de gases. Não fiquem atrás dele quando o velho for se abaixar para deixar os presentes sob a árvore.

*

– Pelo amor de deus, menino, largue essa droga de celular idiota por um segundo! – gritou ela.

*

Ás vezes nos sentimos felizes e tristes ao mesmo tempo, e aquele era um desses momentos.

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