[Resenha] Shadows of Self

Essa resenha foi feita com base no e-book em inglês da Tor Books, e contém spoilers dos outros livros da série Mistborn. A tradução de trechos foi feita por mim.

shadowscapaSinopse:

Shadows of Self mostra a sociedade Mistborn evoluindo à medida que tecnologia e magia se misturam, a economia cresce, a democracia compete com a corrupção, e a religião se torna uma força cultural crescente. Essa sociedade efervescente e otimista, mas ainda instável, agora enfrenta seu primeiro caso de terrorismo: crimes com a intenção de incitar conflitos trabalhistas e religiosos. Wax e Wayne, ajudados pela brilhante e adorável Marasi, precisam desvendar a conspiração antes que uma guerra civil interrompa o progresso de Scadrial.

Fonte: Livraria Cultura

Já faz alguns anos que li Alloy of Law, e o que mais me lembro dessa leitura foi que me diverti muito. Quando finalmente peguei a continuação, Brandon não decepcionou. Shadows of Self é um livro curto (para os padrões do autor), cheio de ação e igualmente divertido – mas que também traz questões e personagens da primeira trilogia Mistborn, juntando as duas trilogias mais intimamente.

Brandon continua transformando e evoluindo o mundo de Scadrial como poucos autores fazem com seus universos, e a cidade de Elendel está se aproximando da modernidade: temos eletricidade, carros motorizados, fábricas… Tudo isso cria tensões entre trabalhadores e nobres, especialmente quando estes se provam corruptos, criando um cenário quase de Revolução Industrial, com trabalhadores em polvorosa e repressão policial. Mas, sendo Mistborn, é claro que há mais por trás dos conflitos. A trama é, essencialmente, a de um livro de mistério: alguns assassinatos levam a uma investigação de Wax, Wayne e Marasi e há cenas que se leem como as de um livro de detetive. Por isso mesmo, não darei spoilers quanto ao antagonista da vez, já que é um processo de descoberta.

Gosto muito dos personagens dessa trilogia, mas devo dizer que Marasi não está entre minhas mulheres favoritas de Brandon. Apesar de ser bem pró-ativa e ter um posto importante de onde observar e influenciar os fatos (ela está trabalhando com a polícia), achei que ficou um pouco apagada entre as personalidades mais fortes desse livro – incluindo, surpreendentemente, Steris, que tem cenas ótimas em Shadows of Self e se mostra bem mais interessante do que eu suspeitava.

Wax continua sendo um bom protagonista – e esse livro mostra alguns flashbacks de sua infância e começo do trabalho como lawman nos Roughs, o que é bem legal – e a trama da vez está bem envolvida com sua vida, porque ele é um floquinho de neve especial. Aliás, adorei que outros personagens apontam a posição privilegiada de Wax na sociedade, mostrando como ele causa vários problemas e não liga muito pra isso. É legal problematizar seu protagonista.

Mas meu preferido, sem competição, sem discussão, sem apelo, é Wayne. Diria até que ele é um dos meus personagens preferidos entre todos os livros de Brandon. Todas as cenas com Wayne são fantásticas pra mim – e todas sem ele, menos emocionantes. Amo suas idiossincrasias, seu amor por chapéus, sua adoção de sotaques para se infiltrar entre pessoas das mais diferentes classes e grupos, suas “trocas”, seu humor… E nesse livro temos, ainda, um vislumbre – embora veloz – de um lado mais sério do personagem, vendo como seu passado desregrado afeta sua vida. Também descobrimos como ele e Wax se conheceram. A amizade dos dois continua sendo um dos pontos altos da trilogia, mas também adoro sua dinâmica com Marasi (e com Steris, por ser bem tensa), e achei que os momentos menos envolventes deste livro eram justamente quando a gangue estava separada.

O livro oferece várias revelações e não só continua lançando referências aos personagens da primeira trilogia (ainda fico encantada com o fato de terem se tornado figuras mitológicas para os personagens desta) como também inclui o retorno de alguns antigos personagens, incluindo (mas não limitado a) os kandras. Wax também está estudando o volume que lhe foi dado no final do livro anterior, e amplia seus conhecimentos sobre as magias de Scadrial e o passado do mundo.

Admito que achei a trama – uma vez que se descobre quem é o antagonista e o que quer – um tanto quanto simples e realmente pensei que Brandon não ia surgir com um plot twist bombástico que me deixasse de cabelo em pé. QUANDO VOU APRENDER? Há sempre outro segredo. E eu sempre vou ficar chocada com eles. (Diga-se de passagem que, mesmo sem o segredo, foi um bom livro: talvez não tão impressionante como outros dele, mas uma trama sólida e bem construída.)

Agora, no cantinho representatividade, algumas boas surpresas. Adoro que em Scadrial as mulheres realizem os mesmos trabalhos que homens, sem grandes preconceitos, graças à figura de Vin. Mas também achei ótima a reflexão de Marasi sobre como elas ainda têm que se mostrar “femininas” na profissão. Além disso, aparentemente há uma personagem lésbica na série, o que eu não esperava de Brandon. Embora eu discorde de algumas coisas que ele diz nessa anotação, fiquei contente por ele estar introduzindo personagens LGBT, mesmo que em segundo plano. E, apesar da relutância dele em dar destaque a esses personagens (ou pelo menos à sua sexualidade), este livro propõe, por meio dos kandras, questões de gênero bem interessantes.

O livro inteiro é recheado de diálogos maravilhosos e momentos engraçados (vide a quantidade de citações abaixo; não consegui escolher só algumas). E também adoro as páginas de jornal entremeadas aos capítulos; é um jeito genial de dar uma noção do mundo e da sociedade e ainda fornecer pistas do que está acontecendo na história. Também há todas as lutas que você espera de um livro de Mistborn, muita gente Empurrando e queimando metais e pulando de um prédio pro outro e coisa e tal. Em resumo, achei um segundo livro muito bom – e vou começar Bands of Mourning assim que acabar esta resenha.

*

Shadows of Self (e-book)
Autor: Brandon Sanderson
Editora: Tor Books
Ano de publicação: 2015
332 páginas

 

Citações preferidas

“Preciso que você fique para trás quando entrarmos naqueles guetos,” Wayne disse, determinado a imprimir solenidade à sua voz. “Não é que eu não queira a sua ajuda. É só que vai ser perigoso demais pra você. Você precisa ficar onde eu sei que estará seguro. Sem discussão. Sinto muito.”

“Wayne,” Wax disse, passando por ele. “Pare de falar com seu chapéu e venha aqui.”

*

Os homens do gueto tinham um senso de moralidade. Eles não entregariam um dos seus para a polícia, nem mesmo por uma recompensa. Mas um sujeito precisava comer. Um homem como Marks não gostaria de ouvir como seus amigos eram leais?  […]

Dedurar um amigo: completamente fora de questão.

Extorquir um amigo: bem, isso era só uma boa visão de negócios.

*

Ele estava tentado a chamar este dia de o pior da sua vida, mas isso certamente seria um exagero. O pior dia da sua vida seria quando ele morresse.

Mas posso morrer hoje, ele pensou, colocando o cinto e deslizando as bengalas de duelo nas suas alças, então enxugando o nariz outra vez. Não tenho certeza ainda. Todos os homens tinham que morrer. Ele achava estranho que tantos morressem quando estavam velhos, já que a lógica dizia que esse era o ponto em suas vidas em que tinham a maior prática em não morrer.

*

“E se eu tivesse te encontrado no meio de um assalto à mão armada todos aqueles anos atrás, teria atirado em você também.”

“Você não está mentindo, está?”

“Claro que não. Eu teria atirado diretamente na sua cabeça, Wayne.”

“Você é um bom amigo,” Wayne disse. “Obrigado, Wax.”

*

“As pessoas te subestimam, Steris.”

“Não,” ela disse […]. “Elas simplesmente presumem me conhecer quando não conhecem. Entender as convenções sociais não é o mesmo que aceitá-las.”

*

“Você está pensando,” Steris disse, “que é irônico eu observar que alguém é enfadonho – uma vez que eu mesma tenho uma reputação pelo mesmo defeito de personalidade.”

“Eu não teria colocado assim.”

“Tudo bem,” Steris disse. “Como já disse muitas vezes, estou ciente da minha reputação. Eu preciso aceitar minha natureza. Identifico outra pessoa enfadonha como você poderia identificar um mestre Alomântico – como um colega cujas artes não gostaria particularmente de provar.”

*

“O que eu preciso fazer,” Wayne disse, “é deixar a cidade inteira bêbada.”

“Ou, sabe, defender o direito dos trabalhadores de reduzir suas horas, melhorar as condições de trabalho e estabelecer uma base de salário mínima.”

“Sim, sim,” Wayne concordou. “Isso também. Mas, se eu pudesse deixar todo mundo bêbado, imagine como essa cidade seria mais feliz.”

7 respostas em “[Resenha] Shadows of Self

  1. Sim, eu preciso conhecer Brandon Sanderson.
    Sim, sei que passou da hora.
    Sim, sua resenha me convenceu de que não vou me arrepender.

    Cara, TODO MUNDO ESTÁ LENDO ESSE LIVRO. Tipo TODO MUNDO MESMO. Participo de um grupo no Facebook e as pessoas não param de falar no autor, e haja foto/print da capa. Ok, estou um pouco atrasada, mas nunca é tarde. Vou seguir a onda (mas só porque sei que é bom). Está na hora de acrescentar mais um autor ao lado dos meus favoritos: Martin, Rothfuss e Brett.
    Ótima resenha!

    Com carinho,
    Celly.
    http://melivrandoblog.blogspot.com/

    • Oi, Celly! Hahah fico MTO feliz por ter contribuído pra te convencer a ler Brandon. Não sei se vc viu esse post, mas fiz umas resenhas mais curtas dos principais livros de fantasia épica dele: https://blogsemserifa.com/autor-brandon-sanderson/
      Super recomendo começar com a trilogia Mistborn. Foi a primeira que eu li e me tornou fã pra vida inteira, rs.
      Obrigada pelo comentário! 😀

      PS: estou lendo Brett agora, e gostando bastante. Ele era o meu caso de “td mundo tá falando desse cara, preciso ler logo!”

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