[Resenha] Six of Crows

Esta resenha foi feita com base na edição em inglês da Indigo Books. A tradução de trechos foi feita por mim.

sixofcrowsSinopse:

A oeste de Ravka, onde grishas são escravizados e envolvidos em jogos de contrabandistas e mercadores, fica Ketterdam, capital de Kerch, um lugar agitado onde tudo pode ser conseguido pelo preço certo. Nas ruas e nos becos que fervilham de traições, mercadorias ilegais e assuntos escusos entre gangues, ninguém é melhor negociador que Kaz Brekker, a trapaça em pessoa e o dono do Clube do Corvo. Por isso, Kaz é contratado para liderar um assalto improvável e evitar que uma terrível droga caia em mãos erradas, o que poderia instaurar um caos devastador. Apostando a própria vida, o dono do Clube do Corvo monta a sua equipe de elite para a missão: a espiã conhecida como Espectro; um fugitivo perito em explosivos e com um misterioso passado de privilégios; um atirador viciado em jogos de azar; uma grisha sangradora que está muito longe de casa; e um prisioneiro que quer se vingar do amor de sua vida.

Fonte: Livraria Cultura

Imagine Onze homens e um segredo, se em vez de onze homens tivéssemos seis adolescentes, em vez de um cassino a meta fosse invadir uma prisão de alta segurança, e em vez de Las Vegas estivéssemos num mundo ficcional onde algumas pessoas possuem magia, e você vai ter uma boa ideia do que se trata Six of Crows. Este young adult está fazendo sucesso, e é fácil entender por quê: uma trama divertida com personagens complexos e um mundo bem desenvolvido. O que mais você pode querer?

A história começa na cidade de Ketterdam, na pequena ilha de Kerch, onde Kaz, um líder criminoso de uma das gangues da cidade, recebe uma proposta para invadir a prisão de outra nação para recuperar um prisioneiro. O motivo: o homem criou uma droga que amplia os poderes dos grishas, pessoas com habilidades especiais, o que ameaça o mundo inteiro. Kaz, no auge dos seus 17 anos, escolhe mais cinco adolescentes para a missão superperigosa: Inej, sua melhor espiã; Jesper, sua mão direita na gangue e um atirador viciado em apostas; Nina, uma grisha; Matthias, um prisioneiro da nação que eles pretendem atacar e que tem um passado misterioso envolvendo Nina; e Wylan, um garoto rico que fugiu de casa.

O livro é narrado em terceira pessoa limitada, no ponto de vista de todos exceto Wylan. Os primeiros dois terços da história são um tanto parados, uma vez que vamos, aos poucos, tendo flashbacks da vida de todos eles. Não que os flashbacks sejam chatos – eles dão profundidade aos personagens –, mas cortam o ritmo alucinado do planejamento da missão. No entanto, mais para o final, a narrativa se atém à ação presente e é difícil largar o livro.

Os personagens são muito bem criados, e há conflitos por todos os cantos: todo mundo fica furioso com Kaz, que esconde seus planos e parece um cara frio e calculista; Inej e Kaz discutem por ela ter fé e ele não ser nada religioso; Matthias e Nina passam o livro inteiro em guerra, uma vez que ele foi criado para ser um caçador de grishas (além de toda a história entre eles, que é revelada aos poucos); Jesper tem uma relação complicada com Kaz, que parece não confiar nele tanto quanto o garoto gostaria; Wylan não se encaixa bem no grupo de criminosos, por ter vindo de uma vida de privilégios… e por aí vai.

Alguns aspectos são especialmente bem desenvolvidos: o trauma de Inej decorrente do tempo que passou em um bordel antes de ser recrutada por Kaz; a amizade entre Nina e Inej, que achei linda apesar de as meninas serem minoria no grupo; as provocações que acabam em flerte entre Jesper e Wylan (Wylan é uma fofura e meu personagem preferido); e o fanatismo de Matthias, assim como o fato de que, em alguns lugares do mundo, os grishas são vistos como abominações e não seres humanos, o que justificaria caçá-los (qualquer semelhança com a história da humanidade não é coincidência). Vale mencionar que dois personagens são negros, uma das meninas é gordinha e tudo indica que dois dos rapazes devem pelo menos dar uns pegas no próximo livro (Bardugo, não me decepcione!).

No entanto, o passado de Kaz não me convenceu muito. Embora ele seja o destaque do elenco (não é à toa que está na maioria das minhas citações preferidas), com suas frases engraçadinhas e sacadas geniais, achei que o segredo sobre seu passado não justifica a incrível transformação pela qual passa em poucos anos. Além disso, é um livro que realmente senti ser um YA, uma vez que todo mundo tem cerca de 17 anos (e talvez eu esteja muito velha, mas isso já me parece bizarro) e por focar bastante no romance: os seis personagens se encaixam em três casais, e achei meio cansativa toda a história entre Nina e Matthias, que pareceu tomar boa parte da obra. Nada de errado com essas duas coisas, mas fica o aviso para quem não suporta esse tipo de trama, embora eu tenha superado esses aspectos graças a todas as qualidades da obra.

O mundo também é interessante e as nações têm algumas inspirações claras: Ravka tem um fundo russo/eslavo, Fjerdan inspira-se em países nórdicos e Shu Han, na China. Achei interessante o uso de armas de fogo (fugindo do lugar-comum de que mundos de fantasia não podem ter tecnologia), mas a magia me pareceu um pouco difícil de compreender, especialmente os diferentes tipos de grisha e suas habilidades, que ficaram meio confusos na minha cabeça. Vale notar que a autora já escreveu outras obras neste universo, mas apesar dessa minha confusão, não é necessário lê-las para ler este livro.

De todo modo, o próximo volume da série sai no final de setembro e com certeza o lerei – não só porque o final deste não é muito fechado, deixando um gancho enorme para a próxima parte, mas também porque me apaixonei pelos personagens e seus dilemas. Com as ressalvas já feitas, recomendo muito!

*

Six of Crows – sangue e mentiras
Série: Grisha (vol. 1)
Autora: Leigh Bardugo
Tradutor: Eric Novello
Editora: Gutenberg
Ano de publicação: 2016
376 páginas

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Citações preferidas

“Eu sou um homem de negócios”, ele dissera a ela. “Nada mais, nada menos.”

“Você é um ladrão, Kaz.”

“Não foi isso que eu disse?”

*

“Um dia você vai receber o que merece, Brekker.”

“Vou”, Kaz concordou, “se existe justiça no mundo. E todos sabemos quão provável isso é.”

*

“Nossas esperanças estão com você, senhor Brekker. Se falhar, o mundo todo vai sofrer.”

“Ah, é pior que isso, Van Eck. Se eu falhar, não serei pago.”

*

Kaz se recostou. “Qual é o jeito mais fácil de roubar a carteira de um homem?”

“Faca na garganta?” perguntou Inej.

“Pistola nas costas?” disse Jesper.

“Veneno na bebida?” sugeriu Nina.

“Vocês são todos horríveis”, disse Matthias.

*

Havia um ditado suli que dizia: O coração é uma flecha. Precisa de mira para pousar no lugar certo.

*

“Enganar pessoas inocentes não é algo do que se orgulhar.”

“É, sim, se você fizer direito.”

4 respostas em “[Resenha] Six of Crows

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