Sinopse:
Em um sábado aparentemente comum, Julia e sua família acordam e descobrem, com o resto do mundo, que a velocidade de rotação da Terra está diminuindo. Os dias e as noites vão ficando mais longos, fazendo com que a gravidade seja afetada e o meio ambiente entre em colapso. Ao mesmo tempo que luta para se adaptar à nova “normalidade”, Julia tem que lidar com os problemas típicos da adolescência e os desastres do cotidiano a crise no casamento de seus pais, a perda de antigos amigos, as amarguras do primeiro amor e o estranho comportamento de seu avô.
Fonte: Livraria Cultura
O que aconteceria se a Terra, gradativamente, começasse a desacelerar, ficando com dias e noites cada vez mais longos? Na trama de A idade dos milagres, esse fenômeno tem muitos desdobramentos, desde uma tentativa de resistência da sociedade – quando o governo pede que todos continuem seguindo os relógios, sem se orientar pela luz do sol – até a alteração do campo magnético do planeta. As consequências são imperceptíveis no início, mas logo se transformam em desastres ecológicos e sociais, sem que a humanidade consiga entender sua causa ou fazer algo a respeito.
A ideia de Thompson é intrigante e a forma de contar sua história, bastante original: a narradora desse livro é Julia, uma garota de onze anos que tenta seguir com sua rotina em meio ao caos. Os acontecimentos são lembranças de sua adolescência, que já passou há muitos anos, portanto a narradora tem certo distanciamento dos fatos, o que lhe possibilita refletir sobre eles e sobre as ações de seus conhecidos.
As mudanças na Terra afetam não apenas a natureza, mas o dia a dia e até o psicológico das pessoas, inclusive de Julia. Amizades se desfazem, crises familiares surgem, tudo parece de cabeça para baixo. A garota aprende sobre a volatilidade de tudo na vida em uma metáfora hiperbólica da nossa realidade – no seu mundo, não se pode contar sequer com a duração dos dias.
Apesar de as sequências de eventos serem muito bem elaboradas e da escrita ser leve e um pouco filosófica, em alguns momentos a leitura se arrasta. É o caso de episódios comuns e pouco interessantes da vida de Julia, como a compra do primeiro sutiã ou a festinha na casa de uma amiga. Em meio a relatos sobre acontecimentos fantásticos e um mundo em constante estado de alerta, a leitura de tais episódios quebra um pouco o ritmo e dificulta o envolvimento do leitor. Aliás, a protagonista em si é uma jovem qualquer, sem uma personalidade forte nem diferente. Não me cativou.
Mesmo assim, o livro é bem interessante. A narrativa desenvolve muito bem o cenário incomum a que se propõe – Thompson pensa em diversos eventos desencadeados pela desaceleração, e nas consequências desses eventos, num devastador e completo efeito borboleta que, devo dizer, ela conseguiu manter e desenvolver com coerência até o final da obra.
É uma leitura às vezes cansativa mas também intrigante, que faz refletir sobre as aparências enganosas de tudo na vida, e a relação com a natureza e com as pessoas ao nosso redor.
Ah, e a capa brilha no escuro! (Achei que vocês gostariam de saber.)
*
A idade dos milagres
Autora: Karen Thompson Walker
Tradutor: Christian Schwartz
Editora: Paralela
Ano de publicação: 2012
216 páginas
Citações favoritas:
Como a vida seria mais doce se tudo acontecesse ao contrário, se, após décadas de decepções, finalmente se chegasse a uma idade na qual ainda não se tivesse aberto mão de nada, em que tudo ainda fosse possível.
*
Eis a lição que aprendi com o Horário do Relógio: muita coisa que parece inofensiva à luz do dia se torna imponente no escuro. E a gente acaba se perguntando: o que mais não seria apenas um truque de luz?
*
Os dias se passavam. Manhãs e noites no Horário do Relógio. Trevas e luz cruzavam o céu feito tempestades, sem ter mais ligação com nossos dias ou nossas noites. O crepúsculo chegava, às vezes, ao meio-dia; outras vezes, o sol não se levantava até o entardecer e atingia o zênite no meio da noite do relógio. Dormir era difícil. Acordar, mais ainda. Insones andavam pelas ruas. E a Terra continuava a girar, cada vez mais lentamente. Enquanto minha mãe estocava velas e manuais de sobrevivência, desenvolvi habilidades diferentes para sobreviver: estava aprendendo a passar o tempo sozinha.
*
Às vezes, a morte é apenas uma prova da vida. Às vezes, a decadência aponta para certa vivacidade. Éramos jovens e estávamos famintos. Ficávamos cada vez mais fortes, explodindo de saudáveis.
O Bruno mandou bem.
Sou completamente apaixonada por histórias que destroem a utopia criada em cima da vida no planeta. Ainda mais porque esse tipo de trama sempre consegue deixar mensagens impressas na memória do leitor que pode, quem sabe, ajudá-lo a ver o mundo de outra forma. Preservar a natureza e cuidar dos problemas que já existem é mais do que uma alerta, é uma necessidade que há muito deveria ter sido suprida.
Com relação ao livro como um todo, só fiquei com um pé atrás por saber que a protagonista é um pouco apagada. No entanto, certamente esse não será um ponto que me fará desistir de ler esse livro. Principalmente porque após ler sua resenha tão bem escrita, o desejo de conhecer de perto essa história aflorou novamente.
Super beijo,
Isabelle | http://www.mundodoslivros.com/
P.S. Adorei saber sobre a capa. *-*
Oi, Isabelle! Obrigada pelo comentário! É um livro que vale a pena conhecer, sim, apesar das personagens fraquinhas. Na realidade ele nos dá um sentimento de impotência, porque o que acontece com a Terra, nessa história, tem causas desconhecidas, e não pode ser revertido.
E a capa é linda mesmo. 😉
Eu gostei tanto desse livro! Muito boa a resenha, também (:
!!!!!!!!!!!!!!!SPOILER ALERT!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Senti falta de um comentário sobre aquele crush da Julia. Ele foi o que não me cativou haha achei ele tão… xis, sabe? Tão simples. A personalidade dele é “mórbido e revoltado” e só, não explora muito isso, não tem outras nuances…a Julia, por outro lado, eu gostei muito hahaha ela não tem uma personalidade forte, realmente, mas não achei isso um problema. Ela é uma garota qualquer vivendo uma mudança radical no mundo, sem poder fazer nada, como todo mundo… acho que não precisava ela ser especial, porque o que tá rolando já é tão extraordinário!
Mas enfim ❤
SPOILER ALERT
Ah, Seth Moreno. Ele também é tão apagadinho, que não tive nada a idezer a respeito. Na verdade o que me incomodou na Julia foi justamente que ela desacelerou a história. Tudo o que acontecia ao redor dela era tão interessante, que eu ficava com preguiça de ler bobeirinhas como aquela festa que ela foi na casa da outra menina.
Mas enfim ❤
O Bárbara. A capa brilhar no escuro já faz com que eu queria muito ler esse livro, nem precisa ter história boa! rsrsrs
Mas por sorte tem!! Gostei muito da sua resenha. É um livro que nos faz pensar né, afinal, os dias estão mesmo ficando mais longos (mas os anos parecem sempre estar acelerando. Ou será minha idade avançando??), e mais quentes, e mais secos, e estamos destruindo nosso planeta!
Triste!!
Beijinhos
Oi, Érica! Na realidade, eu sinto como se os dias estivessem ficando mais curtos. Parece que a gente tem cada vez mais coisas pra fazer, e que 24 horas não são suficientes! Às vezes eu queria que a Terra desacelerasse só para eu ter algumas horinhas extra para ler!
Beijos!
Pingback: [Especial] Minhas leituras de 2014 + Planos pra 2015 | Sem Serifa
Pingback: [Especial] Goodreads Choice Awards – dicas de edições brasileiras | Sem Serifa