Sinopse:
Marcos acaba de perder a mãe, uma famosa coreógrafa que lhe ensinou tudo na vida, e decide que seu mundo não pode permanecer o mesmo sem ela. Bem no momento em que vai dar uma guinada na vida, uma ligação muda radicalmente os acontecimentos.
É a polícia, que precisa da ajuda de Marcos, pois ele tem um dom muito especial: consegue ler as memórias mais importantes de uma pessoa só de olhar para ela. E na delegacia há um “estranho”, um alienígena que acaba de aterrissar na Terra, e que só ele poderá desvendar.
Fonte: Verus Editora.
Era uma vez um livro com uma sinopse muito estranha. Ele foi descoberto na Bienal do Livro, por uma amiga que gargalhou e disse “Eu preciso ler isto”. Graças ao texto de orelha, batizamos ele de “aquele livro esquisito” e, mesmo depois da leitura, continuo chamando-o assim.
O romance de Espinosa é contado em primeira pessoa por Marcos, um homem bastante solitário que acaba de perder a mãe e que está prestes a:
- Tomar a nova injeção da moda, que faz a pessoa nunca mais precisar dormir;
- Se apaixonar à primeira vista por uma moça na praça;
- Revelar ao leitor que tem misteriosos poderes psíquicos;
- Conhecer um alienígena.
Com elementos tão inusitados, e misturados em um livro tão curto, a sensação que se tem é a de que a obra foi elaborada com uma espécie de brainstorming, daqueles em que você começa a história, e o colega de lado continua como bem entender. O estilo narrativo colabora com essa impressão: Marcos conversa diretamente com o leitor, fazendo grandes digressões para comentar suas opiniões ou para lembrar as lições de vida da mãe.
Mesmo assim, a história tem um desenvolvimento bem linear, e é fácil de acompanhar e de entender. E, acima de tudo, é bem interessante. A maior parte se passa à noite, em uma cidade que deixou de dormir graças às tais injeções, portanto o clima é de uma madrugada agitada.
Marcos tem um jeito peculiar e otimista de ver as pessoas, enxergando sempre aspectos positivos. Isso se deve, em parte, à educação que recebeu da mãe e também ao seu “dom”, um poder psíquico que lhe permite ver as 7 melhores e as 7 piores lembranças de qualquer pessoa. Esses dois fatores também fazem o leitor refletir muito, e me peguei imaginando quais seriam as minhas piores e melhores lembranças (o que é sempre um exercício útil, para o caso de você precisar conjurar um patrono).
Assim, o livro é tão recheado de fatos estranhos quanto de grandes reflexões. Em Me and Earl and the Dying Girl, é feita uma sátira ao tipo de obra que traz frases de efeito em uma quantidade absurda, só para a obra ser levada mais a sério. Espinosa consegue não cometer esse erro e, na verdade, é impressionante como ele consegue equilibrar muitos fatores diferentes, compondo um romance interessante e surpreendente do começo ao fim.Nos últimos capítulos, me cansei um pouco dos flashbacks com a mãe de Marcos, que parece exageradamente sábia (tive a impressão de que ela falava apenas coisas importantes, o tempo todo). Mas isso não chegou a atrapalhar a leitura, e acredito que vai agradar quem gosta de livros cheios de lições de vida.
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Tudo que você e eu poderíamos ter sido se não fôssemos você e eu
Autor: Albert Espinosa
Editora: Verus
Ano de publicação: 2010
Ano desta edição: 2014
152 páginas
Citações favoritas:
Às vezes, penso que as pessoas violam com seus sonhos: violam a intimidade, violam a linguagem com a qual se expressam, violam essa imagem como melhor lhes parece.
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É horrível e pavoroso sentir falta de algo que jamais possuímos.
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Quem tem de morrer para que o mundo pare por completo e a gente desista dos nossos hábitos diários? Que pessoa é suficientemente importante para que tudo mude de maneira visceral?
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Acho que essa é minha grande conquista: saber onde não posso chegar, seja por falta de inteligência ou de interesse.
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Minha mãe me ensinou desde pequeno a aceitar que os sentimentos que as outras pessoas sentiam por nós, mesmo que não os correspondêssemos, eram importantes.
– Você precisa compreender que esse amor não desejado, esse desejo não correspondido, é um grande presente que lhe dão. […] Não o despreze só porque ele não lhe é útil.
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A sinceridade recompensada é um dos prazeres mais gratificantes que existem na vida.
Oiee ^^
Esse livro está na minha wishlist por causa do nome…haha’ achei bem interessante. Foi a primeira resenha dele que eu li, e gostei bastante, mas acho que vou adiar um pouco a leitura dele *-*
MilkMilks
http://shakedepalavras.blogspot.com.br
Ah, eu nunca tinha ouvido falar antes, mas o nome e a sinopse me cativaram. Espero que goste! 🙂
O nome desse livro é sensacional! Adorei isso que você escreveu de “obra elaborada com uma espécie de brainstorming”. A sensação era a mesma enquanto eu lia “A festa da insignificância” do Milan Kundera, e ele, o próprio autor, também conversa com o leitor o tempo todo. Na verdade, toda essa resenha me remeteu ao Kundera. Fiquei curiosa para ler este livro (que eu nunca tinha escutado falar antes).
Beijo, Bárbara!
http://sobrelivrosetraducoes.wordpress.com
P.S.: A parte do patrono me fez rir. =)
Sempre bom esconder coisinhas para Potterheads nas resenhas. 😉 Eu também estou super curiosa com relação a esse livro do Kundera – o único que li dele foi “A brincadeira”, e gostei. 🙂
Esse livro e sensacional!!! Melhor livro q ja li em toda minha vida… amo ele de paixão por enquanto ele e meu xodó. Apesar de nunca ter escutado falar do autor ameiii.
P.s:leiam não vão se arrepender
bjjs, dandara
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