Sinopse:
Esta obra procura narrar a história dos conflitos religiosos, geracionais e de costumes de uma família americana na última década do século XX. Alfred é um engenheiro ferroviário aposentado, teimoso e cheio de manias agravadas pelo mal de Parkinson, e Enid é uma dona de casa comum. O casal, na faixa dos setenta anos, vive numa pequena cidade do Meio-Oeste americano. Os três filhos foram para metrópoles da Costa Leste a fim de se livrar da mediocridade da vida em família. Na Filadélfia, Gary, o mais velho, tornou-se banqueiro. Deprimido e paranoico, acaba com o próprio casamento. A caçula, Denise, também mora na Filadélfia, onde é chef de cozinha, mas sua vida sexual a faz perder o emprego. Em Nova York, Chip, o filho do meio, é um roteirista frustrado. Ao se envolver com uma aluna, arruína a carreira de professor universitário e vai parar na distante Lituânia, país imerso nas transformações capitalistas do Leste europeu. Para contar esta história, em que todos procuram corrigir os rumos que imprimiram às próprias vidas, o autor expressa o embate entre mundos – o universo conservador dos pais e o pragmatismo sem horizonte dos filhos.
Fonte: Livraria Cultura
Esse é um livro que já comecei com grandes expectativas. Foi presente de um primo meu, que falou que todo mundo da casa tinha que ler. Minha avó foi a primeira e achou [sic] besta. Olhei para as seiscentas páginas e posterguei mais um pouquinho lendo Palestina. E talvez isso tenha me deixado insensível aos problemas apresentados por essa trama.
Quando comecei, achei a leitura fluida e o estilo de Franzen agradável. Na segunda página já me apaixonei por uma citação. E aí… foi ladeira abaixo.
Embora o autor descreva sensações com maestria, utilizando-se de metáforas inesperadamente precisas e interrompendo descrições sutilmente com impressões e delírios dos personagens, achei estes pouco verossímeis. A personagem menos plana do romance é Denise, a filha mais nova da família Lambert, que é uma workaholic com problemas sérios em seus envolvimentos amorosos. Soa como um estereótipo de “mulher forte”, não?
O romance é dividido em sete partes, cada uma centrada em um núcleo da família Lambert e contando com alguns flashbacks que esclarecem hábitos e desavenças dos personagens. A partir da segunda metade, os personagens começam a ficar um pouco mais profundos, mas não o bastante para que eu sentisse muita empatia por eles.
Alfred, o patriarca da família, é um homem moralista e teimoso, cujo Parkinson serve de catalisador para evidenciar a distância das relações familiares construídas sobre convenções. Enid é uma pacata dona de casa profundamente frustrada por seus filhos não terem se conformado com a vida no Meio-Oeste. O ápice do seu ano é um cruzeiro que fará com seu marido doente, o qual suporta na esperança de passar um último natal na casa em que criaram os filhos.
O três filhos são emocionalmente imaturos. O mais irritante deles, Chip, é um poço de autocomiseração e sentimento de rejeição – e é o que mais desperta afeição dos membros da família. E vai parar na Lituânia por motivo nenhum (na verdade existem motivos na trama, mas achei esse rolê no Leste Europeu bem desnecessário). Gary é incapaz de ter um diálogo franco com sua esposa e Denise tem conflitos profundos com sua sexualidade e compensa isso trabalhando compulsivamente.
Enfim, fiquei meio entediada só de descrever essas coisas. O estilo agradável do autor não compensa o fato de a história ser desinteressante. O final não poderia ser outro – e devo dizer que seu desenrolar é excessivamente apelativo. Franzen parece querer lágrimas de quem conhece a fragilidade dos próprios avós. Talvez se o livro fosse mais curto, eu tivesse gostado dele.
Talvez se o assunto fosse um pouco mais consistente. Talvez se eu não estivesse achando todo mundo medíocre e reclamão (só Alfred, que mais tem motivos para reclamar, sofre resignada e paranoicamente). Os pontos altos do livro estão em descrições específicas e devo dizer que foi bem difícil selecionar algumas sem incluir spoilers.
As correções
Autor: Jonathan Franzen
Tradutor: Sergio Flaksman
Editora: Companhia das Letras
Data de de publicação: 2001
Data desta edição: 2011
583 páginas
Citações preferidas
Por toda a casa ressoava o toque de uma campainha de alarme que só Alfred e Enid conseguiam ouvir claramente. Era o alarme da ansiedade. Era como um daqueles imensos discos de ferro fundido percutidos por um malho elétrico que fazem as crianças saírem das escolas em situações de incêndio.
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“E quando o fato, a grande mudança na sua vida, é simplesmente uma compreensão, um insight, não é estranho? Absolutamente nada muda, você só começa a ver as coisas de maneira diferente, sente menos medo e menos ansiedade e, de maneira geral, fica mais forte graças a isso; não é impressionante que uma coisa totalmente invisível dentro da nossa cabeça possa parecer mais real que tudo que você já tenha vivido até então? […]”
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“Se eu fiquei surpreso quando soube que ela só era sete oitavos branca, imagine a surpresa dela ao saber que eu só era um oitavo hétero.” * Ah, os mitos, o otimismo infantil, do conserto! A esperança que os objetos nunca acabem. A fé cega de que sempre haverá um futuro em que ele, Alfred, não só estaria vivo como ainda teria a energia necessária para fazer os consertos.