[Resenha] The Autobiography of James T. Kirk

Esta resenha foi escrita com base na edição em inglês da Titan Books. Todas as traduções de trechos foram feitas por mim.

kirkSinopse:

Este livro narra a vida do maior capitão da Frota Estelar (2233–2371). De seu nascimento na U.S.S. Kelvin à infância em Tarsus IV, o tempo que ele passou na Academia da Frota Estelar, sua ascensão meteórica pela hierarquia da instituição e a illustre carreira no comando da Enterprise, essas memórias revelam um capitão Kirk que os fãs de Star Trek nunca viram. A voz singular de Kirk ressoa por todo o texto, dando uma visão de suas convicções, coragem e comprometimento com todas as formas de vida, pela galáxia e além.

Fonte: Amazon

Espaço, a fronteira final. Esta é uma resenha feita por uma blogueira que, para tirar umas férias da imersão em Star Wars, resolveu ler sobre outro universo de ficção científica que adora.

Esta autobiografia narra a vida do capitão desde a infância até a aposentadoria, em ordem cronológica. A parte inicial apresenta a família de Kirk e conta sua infância em uma fazenda nos Estados Unidos, seu primeiro contato com vida alienígena e a adolescência na colônia humana de Tarsus IV. Depois vem a Academia da Frota Estelar, para a qual ele não simplesmente faz as provas, mas “dá um jeito” de entrar (alguém está surpreso?).

Esses capítulos são pouco interessantes, e me provaram que meu interesse em Star Trek não está no capitão Kirk. Sem a Enterprise e sua tripulação, a vida desse protagonista é bem comum e cheia de clichês, desde os ressentimentos com a ausência da mãe, que trabalhava fora da Terra, até as perseguições gratuitas feitas por superiores na Academia.

A parte que vem em seguida é possivelmente a mais interessante no livro, mostrando as primeiras missões do protagonista no espaço, servindo em diferentes naves e escalando na hierarquia da Frota. É uma parte com o equilíbrio certo entre aventuras espaciais e picuinhas de personagens, e o meu gosto pessoal pela vida a bordo de uma nave me ajudou a gostar dela. Além disso, é legal saber como Kirk conheceu cada um dos personagens que, no futuro, serviriam a bordo da Enterprise: Scotty, Uhura, McCoy e Spock (Chekov e Sulu só conheceriam Kirk no comando da nave). Cada um é apresentado no livro conforme as primeiras impressões que causaram no protagonista.

É nessa altura que descobrimos como foi destruída a amizade entre Kirk e o personagem Ben Finney. Em um episódio da série original o espectador conheceu um Ben ressentido e invejoso, que tenta sabotar a carreira do capitão e acaba preso, mas a verdade é que, no passado, os dois foram melhores amigos. Aliás, as atitudes que Kirk toma com Finney (e que acabam gerando todo o ressentimento visto na série), junto com outras descritas no livro, mostram quão ambíguo é o personagem. Trapaceia para se formar na Academia (no teste do Kobayashi Maru), mas é incapaz de mentir por um amigo; defende as leis da Federação acima de tudo, mas desrespeita a Primeira Diretriz assim que surge uma oportunidade. É uma inconsistência irritante, mas que não pode ser atribuída a este livro em específico: a moralidade de Kirk, mesmo na série, sempre foi confusa.

Outra coisa que me deixa confusa é como Kirk sempre parece estar no centro dos acontecimentos e das atenções. Se não fosse pelo fato de que a série também é assim, eu teria arriscado dizer que essa é uma distorção feita pelo narrador em primeira pessoa. Os superiores na Academia sempre têm algum sentimento forte por Kirk (seja de admiração ou de desprezo) e Ben Finney chega a batizar sua filha de Jamie em homenagem ao amigo (o que é bem esquisito, convenhamos). Isso tudo parece apenas alimentar o ego do personagem, a ponto de ele, mais de uma vez, alegar que seria o único capaz de salvar a galáxia. Mas é interessante notar como, em sua biografia, escrita já no final da vida, o personagem reconhece muitos de seus erros e de sua prepotência (o que não significa que se livra dela).

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Além de dar essa backstory, o livro reconta histórias já conhecidas do público: alguns dos episódios mais famosos da série, e todos os filmes (exceto um, cuja ausência nesta biografia é BRILHANTEMENTE explicada no início do capítulo 12).

Infelizmente, apesar de ter as melhores histórias, essa promissora segunda metade do livro é a mais chatinha de ler. Enquanto a parte inicial carecia de acontecimentos interessantes, mas tinha gosto de novidade, as aventuras da Enterprise narradas no livro têm gosto de reprise, mas falta algo especial. Não são detalhadas o suficiente para parecer uma novelização, nem trazem informações ou visões novas que justifiquem a leitura.

Existem, é claro, algumas exceções. Um dos aspectos mais interessantes da obra são as conexões que Kirk faz entre os fatos, às vezes preenchendo lacunas entre um acontecimento e outro, às vezes simplesmente relacionando-os em sua mente. Destaque para seu filho David, cuja existência, mesmo que à distância, influencia muitas das decisões tomadas pelo capitão, e para a relação emocional que Kirk estabelece entre o episódio “The City on the Edge of Forever” e o filme “A volta para casa” – um paralelo que eu achei muito bem observado.

A leitura foi um pouco cansativa, não por ser densa (a escrita é fácil, explicando os fatos em ordem cronológica e de forma bem simples), mas por se tornar entediante em alguns momentos, pelos motivos que já apontei. Mesmo assim, valeu a pena, pelo menos porque fiz várias anotações sobre personagens para pesquisar e episódios para assistir. É gostoso ter mais motivos para investigar a série, e tive uma experiência peculiar pois, para mim, o livro continha iguais quantidades de novidades e fatos que eu já conhecia. Acredito que a obra não vai atrair quem ainda não é fã, mas considero um complemento interessante para quem tem vontade de revisitar a série.

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A biografia traz algumas imagens, como fotos de Kirk com a tripulação da Enterprise e até uma carta nunca enviada a seu filho David.

Comentários aleatórios (sem spoilers):

– Em certo trecho do livro, é dito o seguinte sobre os estudos na Academia da Frota Estelar:

“Além dos costumeiros assuntos como literatura, história e ciências físicas, havia todo um leque de outras disciplinas não oferecidas pelo ensino superior tradicional: xenobiologia, xenoantropologia, leis e instituições galácticas, ecologias planetárias, economia interplanetária. Isso tudo caminhava lado a lado com semântica, estrutura de linguagem, ética galáctica comparada, epistemologia, xenopsicologia e outras.”

Eu só queria deixar registrado que eu poderia escrever um livro inteiro com exemplos de como Kirk com certeza não domina nenhum desses assuntos. Alguém me explica como esse homem se formou!

– Spock e McCoy são os melhores personagens. Eu gostaria que o livro tivesse abordado ainda mais a relação deles com Kirk, mas o pouco que vi já foi muito legal. As conversas regadas a álcool entre o capitão e o médico são sempre ótimas. E as análises da crise pela qual Spock passa desde sua primeira licença do serviço me fazem querer ler uma biografia do vulcano.

– Kirk deixou de comer uma pizza porque a T’Pau chamou ele de gordo. O que está acontecendo?

– Cadê os tribbles?

*

The autobiography of James T. Kirk: The Story of Starfleet’s Greatest Capitain
Autor: James T. Kirk
Editor: David A. Goodman
Editora: Titan Books
Ano de publicação: 2015
276 páginas

 

Citações favoritas:

“É um prazer conhecê-lo”, eu disse.

“Eu não acho que vai ajudar as nossas negociações”, Koloth disse, “se começarmos mentindo um para o outro.”

*

“Este trabalho vai arrancar as suas tripas”, disse [o capitão Pike]. “Você não tem escolha se não confiar nas pessoas. Esta tripulação se tornará seus amigos.”

Ele fez uma longa pausa.

“E então eles vão morrer.”

*

No planeta, uma relíquia de uma civilização há muito tempo morta, algo que só podia ser descrito como um donut gigante de três metros de diâmetro anunciou:

“Eu sou o Guardião do Sempre.”

Um portal do tempo. Sem que nós pedíssemos, ele nos mostrou o passado da Terra no buraco do donut. McCoy, antes que pudéssemos impedi-lo, pulou no portal.

*

“Você não vai ser feliz numa fazenda”, [disse McCoy].

“Do que você está falando? Eu cresci numa fazenda, lembra?”

“Não, você cresceu no espaço. Eu estava lá.”

(MCCOY FILÓSOFO, MCCOY POETA.)

*

Tanto a Federação como os Klingons queriam nossa cabeça em uma travessa (os Klingons, literalmente).

*

“Solicito uma licença estendida”, anunciou Spock. “Minha presença é solicitada em Vulcano.”

“Já se passaram sete anos? Você precisa engravidar alguém?” disse McCoy.

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3 respostas em “[Resenha] The Autobiography of James T. Kirk

  1. Pingback: [Especial] Livros favoritos de 2016 | Sem Serifa

  2. Essa resenha confirmou para mim algo que venho desconfiando há muito tempo: Em algum momento a personalidade de Kirk se fundiu com a do seu intérprete, Shtaner. É incrível como passagem citada na resenha pode-se aplicar sem problemas tanto a um como ao outro! E também me mostrou como adoro o Dr. McCoy! Deviam fazer um livro só com as frases dele! 😀

  3. “Solicito uma licença estendida”, anunciou Spock. “Minha presença é solicitada em Vulcano.”
    “Já se passaram sete anos? Você precisa engravidar alguém?” disse McCoy.

    HAHAHAHAHAHAHA… 😀

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