Sinopse:
O protagonista e narrador de O jogo do anjo é David Martín, um jovem escritor que vive em Barcelona na década de 1920. Aos 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e gravemente doente, o escritor vive sozinho num casarão em ruínas. É quando surge Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Ele promete a David muito dinheiro, e sua simples aparição parece devolver a saúde ao escritor. Contudo, o que ele pede em troca não é pouco. E o preço real dessa encomenda é o que David precisará descobrir.
Fonte: Livraria Cultura
O jogo do anjo é o segundo volume da série Cemitério dos Livros Esquecidos, embora eles possam ser lidos em qualquer ordem. Este livro, inclusive, passa-se nos anos 20, três décadas antes de A sombra do vento, mas não se preocupe: a Barcelona da história tem vários pontos de contato com o primeiro volume da série.
O protagonista David Martín é órfão e desde a adolescência escreve histórias de crime e mistério para se sustentar. Quando seu amor de infância casa-se com seu benfeitor, um homem que lhe ajudou durante toda a vida, David se torna cada vez mais recluso. Vai morar num casarão abandonado (que, naturalmente, tem uma história suspeita) e desenvolve uma doença fatal. Quando só lhe restam semanas, senão dias de vida, é encontrado por um misterioso editor chamado Andreas Corelli, que restaura sua saúde e lhe faz uma proposta de trabalho estranhíssima – que não vou revelar, para vocês aproveitarem a descoberta.
A história gira em torno de mistérios separados, mas relacionados, com um protagonista sensacional pelo qual me afeiçoei de cara, talvez pelo seu amor à literatura de “entretenimento”. Sua experiência com livros de crime e mistério, aliás, é o que o leva a uma investigação sobre a casa em que vai morar e o misterioso editor que salvou sua vida, levando-o a descobrir que os dois estão entrelaçados em uma história intricada.
Os personagens secundários são ótimos, como Dom Basílio, o primeiro editor de David (“era um homem que adotava a teoria de que tanto o uso liberal de advérbios quanto o excesso de adjetivos eram coisa de pervertidos e de gente com deficiências vitamínicas”), assim como figuras conhecidas de A sombra do vento: a livraria de Sempre e Filhos tem uma participação importante na história, e conhecemos melhor o pai e o avô de Daniel (protagonista daquele livro). Mas o destaque é Isabella, uma aspirante a escritora que vira assistente e amiga de David e com quem ele tem o relacionamento mais envolvente do livro. Os diálogos dos dois, ambos extremamente sarcásticos, me fizeram rir alto várias vezes.
Justamente por ter criado um relacionamento tão dinâmico com a garota, o grande romance de David parece meloso e absurdo. Na resenha do primeiro livro reclamei da falta de fundamento de alguns romances, e neste volume isso é amplificado no relacionamento de David e Cristina – eles se veem algumas vezes e se apaixonam perdidamente. Não me convenceu, por mais que o autor descreva tão bem a dor e as frustrações do protagonista.
Outro personagem de destaque é o “patrão” (como David chama Corelli), uma figura extremamente suspeita com quem ele tem conversas sobre religião, crença e fé. Os dois discutem temas como a violência que surge do medo e como as pessoas transformam o “outro” no inimigo, temáticas que tornaram o livro ainda mais instigante e relevante que o anterior. A trama deste também é bem mais sobrenatural – a maioria das resenhas negativas que vi parecem ter desgostado dessa guinada, mas eu gostei bastante. Só esperava mais explicações até o final; alguns pontos ficam um tanto quanto vagos. No entanto, as investigações de David são igualmente envolventes e ainda mais tensas que as do primeiro livro, e Corelli é um antagonista ainda mais intimidador por suas habilidades desconhecidas. Espero ler mais sobre ele no terceiro volume da série.
Acredito que escritores devem gostar especialmente do livro: as lutas de David com a inspiração, seus dilemas em ser publicado e o fato de querer fazer as coisas à sua maneira contra o resto do mundo devem encontrar ressonância com os aspirantes por aí. De todo modo, O jogo do anjo é outro mistério excelente de Zafón, tão bem escrito quanto o primeiro (e bem traduzido, por sinal) e muito difícil de largar.
*
O jogo do anjo
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradutora: Eliana Aguiar
Editora: Suma de Letras
Ano desta edição: 2008
410 páginas
Clique aqui e compre esse livro na Amazon.com.br!
Citações preferidas
Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. […] Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.
*
– Mas então está dizendo que uma doutrina nada mais é que um conto.
– Tudo é um conto, Martín. O que cremos, o que conhecemos, o que recordamos e até o que sonhamos. […] Um ato de fé é um ato de aceitação, aceitação de uma história que nos foi contada. Só aceitamos como verdadeiro aquilo que pode ser narrado.
*
As boas palavras são bondades inúteis que não exigem sacrifício algum e recebem mais agradecimentos do que as verdadeiras bondades.
*
Um dos primeiros recursos próprios de um escritor profissional que Isabella aprendeu comigo foi a prática e a arte de adiar. Todo veterano no ofício sabe que qualquer ocupação, desde apontar o lápis até catalogar variedades de moscas, tem prioridade sobre o ato de sentar à mesa e espremer o cérebro.
❤ (Mais uma vez: lendo suas resenhas tô ficando com vontade de reler a série.) Aguardando a resenha de O prisioneiro do céu!
P.S.: Eu fiquei com medo do Corelli.
Siiim, o Corelli é terrível! Fiquei morrendo de medo pelo David. :O
Já li o prisioneiro e digo apenas: CADÊ O QUARTO LIVRO PELAMORDEDEUS ZAFÓN
Esse livro é o meu favorito da série! David e Isabella são incríveis! E para nós, amantes de livros, é um grande presente ver a luta de David para se consolidar como escritor.
Adoro o a atmosfera que Zafón cria nesse livro, o mistério e a obscuridade que ele iniciou em A Sombra do Vento são potencializados ao máximo nesse volume. Umas das coisas que me incomodava em A Sombra era uma carta que trazia explicações demais, nesse volume acontece o contrário; no desfecho há explicações de menos, e acredito que esse seja o motivo por alguns leitores não gostarem tanto desse, mas eu acho que isso é uma das coisas que o destaca, há tantas nuances e interpretações possíveis (que infelizmente – pra mim – e felizmente para os leitores descontentes – são “explicados” no terceiro volume).
Também quero saber onde tá o quarto livro! O autor não revela muito sobre o andamento do ultimo volume, mas tenho grandes expectativas. Ótima resenha, Isa! Senti saudades do Cemitério dos Livros Esquecidos.
Oi, Jonathas! Eu sabia que David e Isabella não iam pra frente, mas fiquei torcendo 😥
E sim, tudo que vc mencionou me agradou muito nesse livro. Adorei todo o mistério cercando o Corelli, mas tô louca para o quarto livro (pq o terceiro não me deu tantas respostas quanto gostaria, rs – daqui a pouco sai a resenha).
Obrigada pela visita!
Pingback: [Resenha] O prisioneiro do céu | Sem Serifa
Pingback: [Especial] Livros favoritos de 2016 | Sem Serifa