[Resenha] Até que a culpa nos separe

culpaSinopse:

A história toda começa com um churrasco. Um churrasco no jardim de uma bela casa numa tarde ensolarada. Meses depois, cada convidado guarda uma lembrança diferente daquele dia. Todos têm seus motivos. E ninguém quer levar a culpa. Enquanto tentam juntar as peças do que aconteceu, importantes verdades e segredos difíceis vêm à tona.

Fonte: Intrínseca

Um despretensioso churrasco de domingo. Seis adultos e três crianças reunidos no quintal de uma luxuosa casa no subúrbio. Parece um evento comum, em que nada pode dar muito errado. Mas acontece algo nesse churrasco. Algo que afeta a vida e os relacionamentos de todos esses personagens, e que, semanas depois, continua a perturbá-los.

Quem também fica perturbado, logo nos primeiros capítulos, é o leitor. A narrativa intercala dois tempos diferentes (o presente e os flashbacks para o famigerado Dia do Churrasco) e vai se desenrolando bem devagar, criando um suspense em torno do tal incidente que abalou a vida de todos. Sem pressa, a autora vai desenvolvendo cada personagem ao longo desses capítulos, nos mostrando seus medos e nos contando sua história. A construção dos personagens é realista e bem feita; Moriarty revela o passado e molda os relacionamentos de cada um deles com maestria.

As duas personagens que mais se destacam na trama são Clementine e Erika. Amigas de infância, elas sempre tiveram um relacionamento muito complicado. Clementine, filha de uma assistente social, foi meio que forçada pela mãe a ser amiga de Erika, que é filha de uma acumuladora e cresceu em meio a muita sujeira e desleixo. A família de Clementine foi um suporte e um refúgio para Erika ao longo da vida, mas Clementine nunca lidou muito bem com isso. Embora se encha de culpa por ter esse tipo de pensamento, ela sente como se a amiga existisse para incomodá-la e parasitar sua vida.

Os capítulos são escritos em terceira pessoa e o ponto de vista varia entre os personagens. Além de Erika e Clementine, temos o ponto de vista de seus maridos, Oliver e Sam, do outro casal, Vid e Tiffany, e da filha destes, Dakota. Todos eles estão, de alguma forma, se remoendo de culpa pelo incidente do churrasco, e isso os leva a situações emocionais extremas que revelam verdades inconvenientes.

Além da culpa, outro tema central do livro é o casamento. Gostei muito de como a autora construiu relacionamentos complexos e dinâmicas diferentes para cada casal. Em especial adorei a relação entre Erika e seu marido Oliver. Filhos de pais extremamente problemáticos, que lhes deram infâncias conturbadas em ambientes muito aquém do ideal, os dois se tornaram obsessivos por limpeza, arrumação e coisas corretas em geral – o que os tornou um pouco esquisitos, mas também perfeitos um pro outro. (Não sei se ficções sérias e adultas como esta comportam a ideia de ship, mas estou shippando os dois.)

Outro tema que é abordado é a saúde mental, e como ela pode ser afetada por coisas pequenas ou por grandes eventos. Há personagens acumuladores, com TOC e com transtorno de estresse pós-traumático; suas histórias são retratadas com franqueza e a importância de procurar tratamento é reforçada.

Esse foi o primeiro título que li da elogiada Liane Moriarty, e me encantei. A autora consegue contar uma excelente história e manter uma forte tensão ao longo de todo o livro, criando um mistério que prende o leitor e torna impossível largar a obra. E a leitura dessas mais de 400 páginas vale muito a pena, não apenas porque todos os elementos do suspense são bem amarrados no fim, mas porque os personagens e os temas abordados continuam ressoando no coração do leitor mesmo após fechar o livro.

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Até que a culpa nos separe
Autora: Liane Moriarty
Tradutora: Julia Sobral Campos
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2017
464 páginas

Livro cedido em parceria com a Intrínseca.

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Citações favoritas:

Então é assim que acontece, pensava uma parte sua enquanto ela se balançava e implorava. Essa é a sensação. Você não muda. Não há nenhuma proteção especial quando atravessamos a linha invisível entre a vida comum e o mundo paralelo em que tragédias acontecem. É exatamente assim. Você não se torna outra pessoa. Ainda é exatamente a mesma. Tudo ao redor tem o mesmo cheiro, a mesma aparência, causa a mesma sensação.

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Queria dizer: sinto muito por isso ter acontecido. Sinto muito por não ter percebido que você estava passando por isso. Sinto muito por talvez não ter amado você da maneira como você merece ser amado. Sinto muito que nossa primeira crise tenha revelado tudo o que há de errado em nosso casamento, e não tudo o que há de certo. Sinto muito por termos nos virado um contra o outro, em vez de buscar o apoio um do outro.

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Talvez a gente possa, algum dia, não esquecer, é claro, mas perdoar. Talvez a gente possa perdoar a nós mesmos.

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