Sinopse:
Philip K. Dick foi um dos maiores nomes da ficção científica em todo o mundo e encabeça, também, a lista dos autores do gênero mais roteirizados em Hollywood. Os dez contos de sua autoria reunidos nesta edição foram adaptados para a série televisiva britânica Electric Dreams, uma antologia de historias futuristas que, ao mesmo tempo, ilustram a visão profética de Dick e celebram o eterno apelo midiático de sua obra. Seguindo o que a literatura de Dick tem de melhor, os contos de Sonhos elétricos apresentam cenários familiares, mas ao mesmo tempo estranhamente distorcidos, e têm o poder de questionar a realidade e tirar o leitor de sua zona de conforto.
Fonte: Aleph
Philip K. Dick é um dos grandes nomes da ficção científica e da literatura como um todo. Autor de mais de 120 contos e de dezenas de romances, suas histórias eram permeadas por um questionamento que o perturbava pessoalmente: o que é real?
Em Sonhos elétricos, o leitor encontra essa e outras perguntas perturbadoras, em dez contos publicados no início da carreira de PKD. Apesar de serem textos mais antigos, o livro só foi organizado no ano passado, depois que essas histórias foram adaptadas para a série Philip K. Dick’s Electric Dreams, uma antologia no mesmo estilo de Black Mirror.
Em geral, os contos não são tão impressionantes quanto os de Realidades adaptadas, por exemplo. Ao contrário das histórias dessa outra coletânea, em Sonhos elétricos o leitor não encontra plot twists tão grandes e tão próximos ao fim de cada conto. Mas a estranheza e a noção distorcida de realidade, típicos de PKD, estão presentes, mesmo que um pouco mais diluídos ao longo de cada conto. Mesmo sem um fim impressionante, as histórias valem a pena pelo seu desenvolvimento e especialmente pelo conceito por trás de cada uma.
O conto “Foster, você já morreu”, por exemplo, é uma devastadora história sobre o capitalismo e o mundo do consumo – ele conta a história de um garotinho pobre que passa suas noites em claro com medo de um ataque nuclear, porque seu pai, ao contrário dos pais de seus coleguinhas, não tem dinheiro para comprar um bunker de última geração. Isso tudo em um cenário aterrador, no qual adquirir os produtos da moda é sinônimo de garantir sua sobrevivência.
Outra crítica ao capitalismo aparece no conto “Argumento de venda”, ambientado em um cenário lotado de anúncios publicitários extremamente invasivos, que entram na casa e na intimidade das pessoas. Esse foi um dos melhores contos, embora apresente o machismo inerente a quase toda a obra de PKD – que aqui é representado por apenas uma linha de diálogo, mas que aparece em maior ou menor nível em outras histórias. Nesse sentido, o conto “Humano é” merece destaque: ele é um raro e admirável momento na literatura de Philip K. Dick, no qual uma personagem feminina tem um final feliz e até leva vantagem, merecidamente, sobre um homem.
“O enforcado desconhecido” é provavelmente o meu conto favorito em toda essa coletânea, e também o que eu recomendaria para quem nunca leu mais nada de PKD. Ele conta a história de um homem que, ao chegar na praça da cidade para trabalhar, encontra uma pessoa enforcada em um poste. Mas a parte mais perturbadora é que ele aborda todos à sua volta, e ninguém parece achar isso alarmante, sequer estranho.
Esses são apenas os contos de que mais gostei em Sonhos elétricos. Se você se interessa por segurança digital, eu recomendo a leitura de “O fabricante de gorros” e, para quem prefere histórias de terror, “A coisa-pai”.
Cada conto foi adaptado para um episódio diferente da série, que está disponível na Amazon Prime. Alguns episódios são razoavelmente fiéis à história original, enquanto outros apenas utilizam a premissa original para criar algo totalmente novo, mas ainda com aquela paranoia escondida no pano de fundo, que marca a origem comum dessas histórias na obra de PKD.
Apesar de ter achado a coletânea, em geral, mais fraca do que outros trabalhos do autor, a inegável genialidade de PKD está presente nela e a leitura dos contos vale muito a pena.
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Sonhos elétricos
Autor: Philip K. Dick
Tradutor: Daniel Lühmann
Editora: Aleph
Ano desta edição: 2018
240 páginas
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