[Resenha] Circe

circeSinopse:

Uma releitura corajosa e atual da trajetória de Circe, a poderosa – e incompreendida – feiticeira da Odisseia de Homero.

Fonte: Minotauro

Quando o Sem Serifa foi fundado, em dezembro de 2013, a única e legítima intenção da Isa era divulgar a obra-prima que é A canção de Aquiles. Desde então, ela já convenceu inúmeros leitores (inclusive eu!) a conhecerem e se apaixonarem por esse que foi o primeiro romance da autora. Portanto, creio que não é exagero dizer que este foi o blog que mais ansiou pelo lançamento do novo livro de Madeline Miller.

Enquanto A canção de Aquiles fazia uma releitura de A Ilíada, Circe revisita A Odisseia, para narrar a história da misteriosa bruxa exilada pelos deuses, que vive sozinha em uma ilha onde transforma homens em porcos. A autora conta a trajetória dessa divindade desde seu nascimento através de várias eras, colocando seu contato com Odisseu em perspectiva – o herói participa apenas de uma fração da vida imortal e cheia de acontecimentos de Circe. Ao longo da trama, revisitamos (ou descobrimos) algumas histórias fascinantes da mitologia, como o terrível destino de Perseu e, uma das minhas partes favoritas, toda a história de Dédalo, Ícaro e o Minotauro.

Se este livro não fosse escrito por Madeline Miller, ele seria um incrível convite à leitura dos clássicos de Homero, um lembrete do quanto nos fascinam as fantásticas aventuras gregas com heróis, deuses e monstros. Mas o livro foi escrito por Madeline Miller, o que o torna ainda mais encantador. A autora tem uma prosa extremamente habilidosa e convidativa, fazendo com que cada parágrafo de seu romance evoque uma atmosfera mágica, que imerge o leitor em uma narrativa à altura de seus personagens.

E ainda dá uma baita aula de desenvolvimento de personagem – o crescimento de Circe é tão sutil e constante! Acompanhamos a personagem desde os períodos mais inocentes de sua vida, e a vemos cometer erros avassaladores e conviver com eles por… bem, pela eternidade. As experiências, relacionamentos e traumas vão moldando a personagem ao longo de séculos, e o leitor acompanha seu desenvolvimento até uma pessoa madura, confiante e dona do próprio destino. Seu interesse por seres mortais a torna ainda mais próxima de nós e, conhecendo sua história, não é difícil retribuí-lo.

E Circe não é a única mulher poderosa nesse livro. Diversas histórias gregas são revisitadas aqui, mesmo que brevemente, do ponto de vista de suas personagens femininas – Penélope, Ariadne e Medeia, até Helena, são transformadas em personagens vívidas, complexas e interessantes.

Circe é um livro incrível e interessante inclusive para quem, como eu, nunca leu Homero nem conhece os mitos gregos a fundo. Não é preciso nenhum conhecimento prévio para descobrir e apreciar as histórias incríveis que a autora adaptou e nos apresentou, nem para entender as mensagens mais importantes da história, como: os titãs são um bando de recalcados, Atena está louca da cabeça e Hermes é um cara sobre quem você alertaria suas amigas para ter cuidado. Ah, e claro: não encoste no gado. Em nenhum deles.

Esta é uma leitura deliciosa e inigualável, que vai agradar diferentes tipos de leitores – fãs de mitologia, de fantasia, quem apenas gosta de um bom romance, quem se interessa por boas personagens femininas, quem quer ver como se escreve uma boa prosa. Terminei o livro com vontade de ler Homero, e também de mudar a principal campanha deste blog: em vez de Leiam A canção de Aquiles, nosso apelo universal agora será LEIAM MADELINE MILLER!

*

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Circe
Autora: Madeline Miller
Tradutora: Isadora Prospero (não é maravilhoso?)
Editora: Minotauro
Ano desta edição: 2019
368 páginas

Citações favoritas:

Foi a minha primeira lição. Por baixo da face lisa e familiar das coisas, há outra que aguarda para rasgar o mundo em dois.

*

Toda a minha vida tinha sido lama e profundezas, mas eu não era uma parte dessa água escura. Eu era uma criatura dentro dela.

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Era assim que os mortais encontravam a fama, pensei. Por meio de prática e diligência, cuidando de suas habilidades como jardins até brilharem sob o sol. Mas deuses são nascidos de icor e néctar, sua excelência já explodindo da ponta dos dedos. Então encontram fama provando o que podem avariar: destruindo cidades, começando guerras, gerando pragas e monstros. Toda aquela fumaça e sabor erguendo-se tão delicadamente de nossos altares – ela deixa apenas cinzas para trás.

*

Eu não tinha direito de reivindicá-lo, sabia disso. Mas, em uma vida solitária, há raros momentos em que outra alma mergulha perto da sua, como estrelas roçando a terra uma vez por ano. Ele foi para mim uma dessas constelações.

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Humilhar mulheres parece ser um dos passatempos preferidos dos poetas. Como se não pudesse haver uma história se não rastejarmos e choramingarmos.

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