Sinopse:
Quando Theodore Finch conhece Violet Markey em circunstâncias nada usuais, surge uma amizade única entre os dois. Cada um com seus próprios traumas e sofrimentos, eles se juntam para fazer um trabalho de geografia e acabam descobrindo muito mais do que os lugares incríveis do estado onde moram: a vontade de salvar um ao outro e continuar vivendo.
Fonte: Seguinte
Theodore Finch vai se matar. Ele está no parapeito da torre do sino no colégio onde estuda, fazendo discursos para si mesmo, se preparando e imaginando a queda. Mas de repente percebe que não está sozinho. Uma garota está no outro parapeito, também se preparando para pular. Seu nome é Violet Markey, e eles nunca se falaram muito – ela é popular e importante, e ele é a “aberração” da escola.
Finch conversa com a garota e a convence a descer da torre. Lá embaixo, a notícia que imediatamente começa a se espalhar é a de que Violet salvou Finch, um mal-entendido que nenhum dos dois corrige. Logo, a garota se torna uma heroína na escola, mas ela dispensa toda a atenção e continua enfrentando os problemas que a levaram a subir na torre.
Logo Finch se torna obcecado por Violet, e consegue uma desculpa perfeita para se aproximar dela: os dois vão participar juntos de um projeto em dupla para a aula de geografia. A tarefa é visitar lugares notáveis do estado onde vivem, Indiana, e fazer anotações sobre o que aprenderam nesses locais. Violet, a contragosto, aceita o roteiro proposto por Finch para o que eles chamam de “andanças”, mas não vê a hora de se livrar do garoto, que é intrometido e alegre demais para ela.
É nas andanças que os dois começam a se conhecer de verdade e entender os dramas um do outro. Violet perdeu sua irmã em um acidente de carro há menos de um ano, e aos poucos está saindo do luto, o que a perturba e a deixa em negação. Enquanto ela tem uma família amorosa e unida que passou junta por esse desastre, Finch se considera o desastre de sua casa. Ele vive rodeado por familiares violentos ou apenas negligentes, em uma casa com problemas demais e atenção de menos, na qual ninguém dá importância ao fato de que o garoto tem um transtorno mental. Alguns meses antes, Finch “apagou” e passou meses sem ir à escola por causa desse transtorno, que ele se recusa a nomear.
Enquanto Violet se nega a enxergar qualquer sentido na vida sem a irmã, Finch conta os dias que se passaram desde que sua saúde se estabilizou, e faz um grande esforço para continuar bem e vivo, apesar de seus frequentes impulsos suicidas.
Ele é um personagem interessante. A princípio, meio parecido com uma versão masculina da manic pixie dream girl, parece estar na história apenas para dar um novo sentido à vida de Violet – e faz isso sendo exageradamente alegre e filosófica, que chega a irritar um pouco. Por falar em irritar, ele age de forma bastante invasiva com relação ao luto de Violet, o que foi desconfortável para mim e deve ter sido mais ainda para ela. Mas ao longo da trama o personagem vai sendo melhor construído, e até suas loucurinhas bobas são explicadas de forma convincente.
O livro é narrado em primeira pessoa pelos dois protagonistas, em capítulos intercalados, e os verbos estão no presente, o que é uma ferramenta bem interessante para obras em que o narrador pode morrer a qualquer momento (vide Jogos vorazes). Apesar de a história focar nas andanças dos adolescentes e em sua convivência com a família e os colegas, os capítulos são bastante introspectivos. Os sentimentos dos personagens são muito bem expressados pela autora, que é extremamente hábil com as palavras.
Essa habilidade serviu muito bem para falar, de forma certeira e muito clara, mas ao mesmo tempo com muita delicadeza, sobre assuntos extremamente sérios: luto e momentos de fragilidade em geral, mas principalmente de transtornos mentais. Violet enxerga claramente a distinção que é feita entre problemas psiquiátricos e doenças ou acidentes com causas externas. Quando falam da morte de sua irmã, as pessoas sempre são respeitosas e lamentam muito; mas o fato de Finch ter tendências suicidas é desprezado e até repudiado, como se o garoto fizesse isso por opção.
Não é uma leitura bonitinha e feliz, e vale aí um leve trigger warning para os temas que mencionei acima. Dito isso, o livro vale a pena. As histórias vividas por Violet e Finch são muito bonitas, tristes e às vezes revoltantes. Com uma escrita leve, mas uma temática pesada e alguns momentos bastante desesperadores, Niven prendeu minha leitura até o final e me fez relevar as cenas de romance um tanto melosas.
Ao fim da obra, a autora insere uma nota sobre transtornos mentais (para pessoas que os têm ou que convivem com alguém assim) e os editores acrescentaram alguns contatos úteis de instituições brasileiras onde se pode procurar ajuda, como o Centro de Valorização da Vida e a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos.
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Por lugares incríveis
Autora: Jennifer Niven
Tradutora: Alessandra Esteche
Editora: Seguinte
Ano desta edição: 2015
336 páginas
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Citações favoritas:
– Está começando a chover – digo, como se ela não soubesse. – Acho que podemos considerar que a água vai lavar o sangue, então a sujeira vai ser menor. É a parte da sujeira que me intriga. Não sou vaidoso, mas sou humano; não sei quanto a você, mas não quero que, ao me ver no velório, as pessoas pensem que fui triturado por uma máquina de serragem.
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De acordo com a minha experiência, as pessoas são muito mais compreensivas se conseguem ver a sua doença, e mela milionésima vez na vida eu desejei ter sarampo ou varíola ou alguma outra coisa facilmente verificável só pra ficar mais fácil pra mim e pra todo mundo.
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Olho para ela longamente. Conheço a vida bem o suficiente para saber que não podemos acreditar que as coisas vão ser sempre iguais, não importa o quanto a gente queira. Não podemos impedir que as pessoas morram. Não podemos impedi-las de ir embora. Não podemos impedir nós mesmos de ir embora. Me conheço bem o suficiente pra saber que ninguém consegue me manter acordado ou me impedir de dormir. Tenho que fazer isso sozinho. Mas, cara, como gosto dessa garota.
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É melhor manter as palavras tristes, ruins, más, desagradáveis separadas, onde possam ser vigiadas pra gente ter certeza de que não vão nos pegar de surpresa.
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[…] “vítima de suicídio” é um termo interessante. “Vítima” implica que a pessoa não teve escolha.
Olá! Eu acho a capa deste livro linda e ele sempre atrai meus olhares nas livrarias. Confesso não ter comprado pelo receio de ser mais um YA com muitos clichês. Talvez repense minha decisão depois de ler sua resenha. A última frase que você destacou sobre o suicídio se encaixa perfeitamente no livro que terminei esta semana: O último Adeus. Tenho certeza de que esta frase me fez entender melhor o livro que li. Abraço! 😉
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