A literatura Young Adult ainda é subestimada. É relegada apenas a leitores em formação, e muitas vezes vista como um degrau que precisa levar à leitura de clássicos e de “alta literatura”, mesmo que muitos adultos já reconheçam o valor desses livros e o público adolescente se prove cada vez mais criterioso. Nos últimos 20 anos, o gênero se desenvolveu (não apenas em aspectos literários como também mercadológicos) e as editoras abriram espaço para obras voltadas para adolescentes.
Essas obras não são apenas relevantes, como também inovadoras. Diante de um público leitor cada vez mais exigente, os autores de livros YA têm ousado abordar muitos temas social e politicamente importantes – e nem é preciso dizer que não são temas que interessam apenas a adolescentes.
Separamos algumas indicações de livros dentro de diversas pautas sociais importantes para quem quer dar uma chance ao YA e entender por que esse gênero é cada vez mais relevante.
Racismo
O ódio que você semeia é uma leitura indispensável. O livro conta a história de Starr, uma jovem negra norte-americana que, durante uma abordagem por policiais, vê seu melhor amigo ser assassinado. Starr nos mostra a perspectiva de alguém que testemunhou um crime hediondo, baseado em preconceitos raciais – junto ao luto, também vêm a indignação e o medo. A obra tem tantas nuances e aborda tantas questões pesadas que às vezes é preciso dar uma pausa pra absorver tudo o que ela transmite (mas logo dá vontade de voltar, porque a história é de tirar o fôlego).
Diversidade sexual
São muitas as obras YA com diversidade sexual. Entre elas, os romances de autoaceitação Simon vs a agenda homo sapiens e Aristóteles e Dante descobrem o segredo do universo. O primeiro (também publicado com o título Com amor, Simon), cheio de intrigas e ambientado numa escola, fala de várias pequenas homofobias no dia a dia e no status quo. Se você preferir uma história mais intimista e poética, Aristóteles e Dante dá um quentinho no coração. Ele conta a história de dois rapazes que se conhecem no verão e guiam um ao outro por várias dificuldades na vida. Esses dois livros apresentam adolescentes cuja relação com os pais é harmoniosa e cheia de amor.
Outro livro que traz um relacionamento fofíssimo é Quinze dias, de Vitor Martins, em que o protagonista Felipe aprende a lidar com a sexualidade, assim como com o próprio corpo. Já Volto quando puder, da ilustríssima Isa Prospero, tem uma narrativa sobre aceitação, sexualidade e luto na qual um garoto paulistano chamado Artur precisa aprender a conviver com o pai – e com a identidade e estilo de vida dele – após a morte da mãe.
Bônus: Se você procura obras com protagonistas LGBT, mas que não se foquem em descoberta e aceitação, recomendo Estamos bem, de Nina LaCour.
Machismo
Uma denúncia ao machismo institucional, O histórico infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart, tem uma protagonista inconformada com as regras (explícitas e implícitas) da escola tradicional onde estuda. Através de ativismo e muitas reflexões, Frankie nos mostra também diversas formas veladas de machismo que enfrentamos no dia a dia, muitas vezes sem perceber.
Transtornos psiquiátricos
Dois títulos tratam de transtornos psiquiátricos de forma muito delicada e, ao mesmo tempo, realista: em Por lugares incríveis, dois estudantes se conhecem quando um deles está prestes a conhecer suicídio. De um momento tão sombrio, surge uma amizade bonita mas cheia de problemas, em uma trama que trata de bipolaridade, luto e suicídio. Já o romance Tartarugas até lá embaixo, cuja protagonista tem transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), é um relato bastante introspectivo, inspirado na experiência pessoal do autor.
Democracia
Publicado no ano passado pela Seguinte, Ninguém nasce herói, de Eric Novello, é assustadoramente atual. Nessa distopia contemporânea, o Brasil é governado por um fundamentalista religioso, e toda a diversidade é varrida das ruas por meio de violência. Nesse contexto, um grupo de jovens fortalece seus laços de amizade a fim de lutar por seus direitos e sua liberdade. É o mesmo que fazem os protagonistas da trilogia distópica Jogos Vorazes, best-sellers com a história inspiradora (mas principalmente assustadora) do combate a uma ditadura.
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Bônus: Esta semana, o podcast Curta Ficção fez um episódio sobre esse tema! As escritoras Jana Bianchi e Iris Figueiredo e a editora Diana Passy, da Seguinte, discutem por que o gênero YA é tão adequado para falar de temas complicados ou até de tabus. Você pode escutar neste link.
Amei o post, já li alguns da lista, mas faltam outros! ♥