[Com Opinião] Flipop e o preconceito com a literatura YA

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Este fim de semana, estive na 2ª Flipop – Festival de Literatura Pop, organizado pela Editora Seguinte. Foram três dias de bate-papos com escritores, tradutores, estudiosos, editores e blogueiros, sobre diversos temas relacionados à literatura Young Adult.

A programação (que envolvia pautas sobre representatividade LGBT, literatura com temas fortes e vozes de escritores brasileiros) já indicava que tanto os bate-papos como as conversas no saguão do evento estariam repletos de gente preocupada com pautas políticas e sociais, diversidade e saúde mental.

São raros os eventos literários com tamanha preocupação com esses temas, e que saibam tratá-los de forma respeitosa. Mas não surpreende que tenha sido assim, pois o YA é um gênero que se preocupa com tudo isso, e que traz essas pautas para seus leitores; o que me faz ficar incomodada ao escutar que tem gente que se recusa a ler livros voltados para jovens.

 

Por que você não lê YA?

escrevi aqui e até fiz um vídeo sobre os males do preconceito literário. De tempos em tempos, me deparo com todo tipo de preconceito nesse meio, e um deles é contra livros YA.

Alguns usam o argumento do excesso de clichês e narrativas fracas, o que me parece uma injustiça – há livros fracos em todos os gêneros, mas também livros muito incríveis, e o YA não é uma exceção. (Aliás, fica aqui o link com todas as nossas resenhas de YA, se você quiser procurar um de que goste.)

Mas há também uma ideia, propagada por leitores, pela academia e às vezes pelo próprio mercado, de que essa literatura é um gênero menor, menos importante. Esse preconceito vem de um pensamento elitista de que existe um cânone literário artístico e consagrado e que obras que não façam parte dele são inferiores. As pessoas que pensam assim até acreditam na importância da leitura, mas apenas de autores e títulos consagrados, e de obras (exceto por raras exceções) adultas. Ficam incomodadas que um livro acessível e voltado para jovens faça sucesso, e até possa provocar e transformar a vida dos leitores.

 

E esses livros fazem alguma diferença?

A literatura YA como conhecemos hoje é recente e bem diferente dos livros escritos para jovens algumas décadas atrás, que tinham um tom mais educativo e responsável, e com os quais era mais difícil se identificar.

Os adultos de hoje não cresceram lendo o que consideramos YA, mas nossa geração conhece bem o poder transformador da literatura (especialmente considerando que crescemos lendo Harry Potter, o que deixou todo mundo mais empático). Então, não é tão difícil entender o incrível potencial dos YA de hoje: capazes de comover tanto os jovens como os adultos, essas obras conseguem comunicar a importante mensagem de que o leitor não está sozinho, e de que é possível encontrar ajuda e conforto.

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Isso tudo é aliado a uma preocupação especial da parte dos autores e editores de YA. Os profissionais mais sérios desse mercado estão bastante preocupados em transmitir sua mensagem de forma responsável e acessível, tanto para quem está inteirado e participa desses assuntos como para quem não pode fazê-lo – por exemplo, jovens que não podem assumir sua sexualidade abertamente mas que gostariam de se identificar com personagens dos livros que leem. Esse é um mercado que pensa sobre trigger warnings, leitura sensível e marketing responsável. Em uma época em que tantas empresas falham em se comunicar de forma respeitosa e tantas obras não conseguem tocar de verdade seus leitores, esses fatores já fazem a literatura YA merecer mais respeito e atenção.

 

Mas isso não é pra sua idade, não é?

Essa pode ser uma questão polêmica, mas eu acredito que menosprezar um produto cultural por causa da faixa etária para a qual foi produzido é um preconceito, e com isso você pode perder a oportunidade de conhecer obras incríveis.

É claro que é super necessário entender a geração e a faixa etária para a qual uma obra foi produzida para não ficar dando chilique na internet como fizeram alguns fãs de Thundercats. Mas também é preciso saber que você pode, sim, consumir produtos feitos para outras idades – só pra continuar usando exemplos de desenhos animados, vou reclamar de quem fala que Steven Universe não é para crianças. É sim, mas desenhos infantis (e livros para jovens) também podem ter complexidade e sensibilidade, e está tudo bem se você gostar deles. Ninguém vai cassar sua carteirinha de adulto (infelizmente, já que às vezes a gente adoraria devolvê-la). Aliás, boa parte do público da Flipop (e 55% dos leitores de YA) são adultos.

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É por esses motivos que eu jamais vou cansar de falar pra vocês que TEM QUE ACABAR O PRECONCEITO LITERÁRIO. Ninguém precisa ler o que não quiser, mas julgar todos os livros de um gênero por causa de algum de que você não gostou ou porque eles parecem simples demais é uma postura que pode te privar de algumas leituras incríveis.

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2 respostas em “[Com Opinião] Flipop e o preconceito com a literatura YA

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