[Resenha] The Dragon Keeper

Essa resenha foi feita com base no e-book da Harper Collins e contém spoilers para as trilogias Liveship Traders e Tawny Man. A tradução de trechos foi feita por mim.

DragonKeeper-UKSinopse:

Guiadas pelo dragão Tintaglia, um grupo de serpentes subiu o rio das Rain Wilds, as primeiras a fazer a perigosa jornada até o local de casulamento em gerações. Mas as criaturas que emergem dos casulos são uma paródia dos dragões poderosos de antigamente, e logo se tornam um perigo e um fardo para os habitantes da região. Algo deve ser feito. Os dragões dizem ter uma lembrança ancestral de uma cidade legendária subindo o rio. Mas Kelsingra não aparece em mapas e eles não podem chegar lá sozinhos: um grupo de caçadores, cronistas e guardiões devem acompanhá-los. Ser o guardião de um dragão é um trabalho perigoso: as criaturas são ferozes e imprevisíveis, e há muito perigos desconhecidos na jornada até uma cidade que pode nem existir…

Fonte: Livraria Cultura

 

Dragões: como não os amar? Encontre a resposta neste livro!

Depois de sambar sobre o coração do leitor com o final da trilogia Tawny Man, Robin Hobb volta para (suponho) repetir a experiência com uma nova “quadrilogia”, chamada Rain Wild Chronicles. Passada, como o título indica, na região do rio Rain Wild, o primeiro livro começa cronologicamente logo depois de Tawny Man. Como Jek nos informou na trilogia anterior, as serpentes do mar que subiram o rio para entrar em seus casulos se tornaram dragões deformados e deficientes, para a decepção de Tintaglia.

Pois bem, depois que Dutiful e cia. tiram Icefyre do gelo e Tintaglia encontra um companheiro à sua altura, ela vai viver a sua vida de dragão com ele. O problema é que deixa para trás cerca de vinte dragões que sobreviveram a doenças e condições menos-que-ideais – dragões famintos, frustrados e perigosos com que os humanos agora precisam lidar. O primeiro livro da nova série está centrado na ideia (dos próprios dragões) de migrarem para a cidade mítica de Kelsingra. Para isso, o Conselho das Rain Wilds determina que cada um deve ter um “guardião” para cuidar dele e caçar para alimentá-lo – o que também é um jeito conveniente de se livrar de pessoas indesejadas.

O livro se aproxima de Liveship Traders em termos narrativos: a narração em terceira pessoa acompanha uma série de personagens cujas vidas se inter-relacionam na missão. Um deles é Leftrin, capitão de uma barca que é escolhida para acompanhar o grupo de dragões (qual é o coletivo de dragão, hein?) e que fez alguma transação misteriosa e possivelmente ilegal no passado. Outra é Thymara, uma adolescente das Rain Wilds hostilizada por ter nascido com deformidades que, nessa região, deveriam ter significado que ela seria exposta para morrer quando nasceu. Salva pelo pai, ela tem basicamente um único amigo, um rapaz ex-escravo, e decide se juntar à expedição para fazer algo da vida.

A outra narradora principal é Alise Kincarron Finbok, uma nobre de família menos rica de Bingtown, casada com Hest Finbok (um cara que você logo aprende a odiar), e que é uma autodidata em termos de dragões e Elderlings. Alise cai meio de paraquedas na expedição mas a encara como a única chance de fazer algo na vida antes de voltar à sua terrível rotina de mulher casada. Por fim, o último ponto de vista é de Sedric, a quem eu já dei o troféu Maiores Chances de Evoluir Para Meu Personagem Preferido. Secretário de Hest, ele é enviado para vigiar Alise na viagem. Não quero dar spoilers, então só digo que sua história possivelmente ecoará um pouco a de Keffria, considerando seu relacionamento extremamente abusivo com Hest.

Hest, aliás, é o Kyle Haven desse livro, o que já diz tudo o que você precisa saber sobre ele. Exceto que, enquanto Kyle se preocupava em ganhar dinheiro, ser respeitável e respeitado, Hest se preocupa com tudo isso, e ainda quer ter casos com homens sem que a sociedade fique sabendo. Seu casamento é apenas de fachada, pois não só não tem qualquer interesse em Alise como vive tentando fazê-la duvidar de si mesma e a humilha ocasionalmente – na verdade, ele é um especialista em gaslighting. Sim, esse é o cara a ser odiado nessa série. Bom saber logo de início quem eu vou torcer pra ser abandonado numa ilha deserta (cadê Kennit quando se precisa dele?).

Aliás, fiquei contente em ver que Hobb vai abordar relacionamentos homossexuais abertamente nesses livros. Não que eu não viva e respire pela dor e sofrimento do amor não correspondido de certo personagem dos livros do Fitz, mas a possibilidade de ver personagens não heteros abertamente se pegando é bem legal (eu sou uma pessoa simples, de gostos simples).

Quanto aos nossos protagonistas, a maioria já começa mais simpática que os personagens de Liveship Traders. Thymara e Alise, como já é próprio da Hobb, são mulheres tridimensionais e inteiramente verossímeis, de quem você se sente próximo de verdade. O menos simpático talvez seja Sedric, que tem algumas ambições meio cretinas e é um grande trouxa na sua vida amorosa. Ah, e também lemos trechos pelo ponto de vista de um dos dragões, a rainha Sintara. (O chato é que eles perderam suas lembranças de serpentes do mar e mudaram de nome, então você fica se perguntando se algum deles era uma das serpentes que acompanhamos anteriormente! Tenho minhas suspeitas.)

O livro é bastante lento, funcionando como a primeira parte da história. Não há um clímax nem grandes emoções, e ele acaba meio abruptamente, mas é uma leitura instigante que mostra a vida nessa região misteriosa que vimos apenas de relance em Liveship Traders. As cidades em árvores de Hobb são bem funcionais e intrigantes, assim como a sociedade das Rain Wilds, um lugar duro e exigente. A expedição tem alguns momentos chatinhos – a questão “como vamos alimentar esses bichos?” ocupa várias páginas – e alguns dos guardiões são irritantes, mas o livro é curto para os padrões de Hobb (400 e poucas páginas) e a sua escrita, como sempre, é límpida e instigante. Ah, e além dos narradores, antes de cada capítulo há uma troca de cartas entre os guardiões dos pombos-correios de Trehaug e Bingtown, que não serve para muita coisa, mas é bem fofa.

Aliás, falando em Liveship Traders, vemos alguns personagens conhecidos! Foi uma das minhas partes preferidas, e me fez perceber como eu amo essa trilogia. Fiquei encantada ao rever algumas pessoas… e navios. Um dos momentos me fez soltar um “Awwww” enorme, porque eu sou uma trouxa que tem emoções sobre navios-vivos. Fazer o quê?

Enfim, não imagino (nem recomendo) ninguém lendo esses livros sem ter lido as trilogias anteriores, mas eles mostram bastante promessa e valem a pena para fãs de Realm of the Elderlings, mesmo que o primeiro volume não tenha sido muito emocionante.

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Dragon Keeper
Autora: Robin Hobb
Editora: HarperCollins
Ano de publicação: 2009

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Resenhas da série Realm of the Elderlings:

Trilogia Farseer/Saga do Assassino: O aprendiz de assassinoO assassino do reiA fúria do assassino

Trilogia Liveship Traders: Ship of MagicMad ShipShip of Destiny

Trilogia The Tawny Man: Fool’s ErrandGolden FoolFool’s Fate

Rain Wild Chronicles: Dragon KeeperDragon Haven – City of Dragons – Blood of Dragons

Trilogia The Fitz and the Fool: Fool’s AssassinFool’s Quest

 

Citações preferidas

A realidade muitas vezes não é gentil com as lendas.

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“Seria uma misericórdia matá-los.”

“E lucrativo também”, Alise respondeu friamente. Ela sentiu o silêncio crescer dentro dela. Às vezes a lembrava de uma hera crescendo veloz; o silêncio a recobria e a envolvia, e ela suspeitava que um dia sufocaria nos silêncios que Hest criava.

*

“Me pega!” o menino ordenou, e antes que sua mãe pudesse sequer virar para ele, se lançou para as mãos da figura de proa. “Me faz voar!” o pequeno ordenou ao navio. “Me faz voar como um dragão!”

E, sem uma palavra, o navio obedeceu. Ele envolveu a criança em suas duas mãos imensas e o ergueu para cima e para a frente. O menino se inclinou sem medo contra os dedos entrelaçados do navio e abriu os bracinhos como se fossem asas. A figura gentilmente moveu as mãos pelo ar, balançando a criança da esquerda para a direita. Um gritinho de alegria chegou até eles. Abruptamente, a tensão no ar desapareceu.

*

“A vida parece diferente quando você nunca teve que lidar com pessoas que pensavam que você não tinha o direito de existir.”

*

Ela nunca havia tido permissão para reunir as experiências de que precisava para ser competente e independente. Nunca havia tido permissão. Era esse pensamento que ardia dentro dela como ferro fundido e subitamente se endureceu até uma determinação fria. Ela não ia “ter permissão” de fazer qualquer coisa. Nunca mais iria se submeter a ter ou não ter “permissão”. Ela seguiria sua decisão mesmo que a matasse. Pois morrer por causa dela certamente seria melhor que voltar para casa e morrer de não ter tido permissão de seguir seu sonho.

*

“Um dragão não é uma mãe como você imagina, criaturinha produtora de leite. Nós nunca ficamos nos preocupando com bebês chorando nem perdemos nossos dias atendendo às necessidades de crias indefesas. Nunca somos tão indefesos e estúpidos quanto os humanos quando nascem, sem saber nada do quê ou de quem são. É irônico, não é, que vocês vivem um tempo tão curto e desperdiçam uma parte tão grande dele sendo estúpidos?”

*

“Você notou, é claro, que o líder dos humanos me escolheu para cuidar. Ele diz que é porque eles me reconheceram como o líder dos dragões.”

“Ah, é? Que bom para você. Que pena que nenhum dos dragões pensa o mesmo!”

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