Essa resenha foi feita com base no e-book da Harper Collins e contém spoilers para as trilogias anteriores e para os livros anteriores desta. A tradução de trechos foi feita por mim.
Sinopse:
Embora Kelsingra finalmente esteja próxima, a odisseia apenas começou. Devido às águas turbulentas do rio, a cidade perdida só pode ser atingida por voo ─ um teste de resistência e habilidade além da força dos dragões malformados. Eles deverão mergulhar nas profundezas de suas memórias ancestrais para alçar voo e descobrir os segredos enterrados em Kelsingra. Mas inimigos levados por ganância e desejos sombrios se aproximam, e o tempo está acabando para os dragões e seus guardiões.
Fonte: Livraria Cultura
O terceiro e penúltimo livro das Rain Wild Chronicles é o mais curto dos quatro ─ na verdade, me parece que os dois últimos poderiam ter sido um só, porque claramente compõem uma única história. De qualquer modo, esse volume já teve várias emoções e foi satisfatório por si próprio.
Agora que encontraram Kelsingra, o maior desafio de dragões e guardiões é… atravessar o rio e chegar lá! O único que consegue é Rapskal, cujo dragão consegue voar. Mas Thymara e Alise pegam algumas caronas para a misteriosa cidade, resultando em cenas ótimas que retomam momentos da Saga do Assassino e respondem questões abertas de Liveship Traders. Enquanto isso, Leftrin volta a Cassarick no Tarman em busca do dinheiro que foi prometido à expedição, se eles fossem bem-sucedidos, e de muitas coisas que precisam.
Esse livro acrescenta alguns pontos de vista que balançam as coisas. Dois deles são de homens absurdamente insuportáveis: o duque de Chalced, um governante cruel, mesquinho e totalmente misógino; e ninguém menos que Hest “Pior Pessoa” Finbok. Ainda assim, o PDV do duque é interessante por mostrar um relance dessa misteriosa região da série, e o de Hest chega a ser divertido por ele ser uma pessoa tão desprezível. (Observação: Hest e seus impulsos violentos me lembraram Kennit e sua vontade de cometer violência para “expurgar” a que fora cometida contra ele, o que, por sua vez, me fez pensar em Fitz em Fool’s Errand e como ele se vê no lugar das vítimas, e não dos opressores. E é por isso que amamos Fitz, amigos, por mais que ele seja tapado às vezes.)
Tanto o PDV de Hest como o do duque são importantes para levar adiante a trama, que tem muito a ver com o desejo do duque de ter partes de dragão para curar sua saúde debilitada. Além deles, também temos o PDV do fofo do Selden (que foi raptado e está sofrendo maus-tratos, sozinho e abandonado, porque a Hobb adora machucar pessoas boas) e da sua incrível irmã Malta, que rouba a cena com um dos momentos mais tensos de toda a série. Malta é apenas foda. Mas sua presença também retoma a questão delicada de o que fazer com crianças que nascem “marcadas”, pois ela está grávida ─ o que é sempre preocupante nessa região. Nisso, Reyn tem mais uma chance de mostrar que é um lindo. (Esses dois são fofíssimos!)
Thymara, enquanto isso, continua com os mesmos dilemas que nos livros anteriores. Admito que já estou um tanto cansada deles, por mais que goste da personagem. Acontecem algumas mudanças na situação dele nesse livro ─ e não estou falando só das asas! ─ mas, de modo geral, não há grandes revelações e o que quer que ela decida para si mesma será descoberto apenas no livro final, pelo jeito. A questão Tats versus Rapskal continua, embora eu me interesse muito mais pelo relacionamento de Thymara com Sintara.
Essa, por sinal, tem ótimos momentos no livro. E, falando em dragões, também vemos um relance da vida de Tintaglia. Estou ansiosa pra vê-la retornar à ação.
Já os casais da expedição ficam cada vez mais fofos. Leftrin e o respeito que tem pelo trabalho de Alise é muito lindo, e Carson e Sedric têm uma relação tão legal e tão diferente do relacionamento abusivo que ele tinha com Hest. E, porque diversidade é legal, há um outro casal gay secundário na história. Pelo visto, depois que todo mundo vira meio dragão, não é tão absurdo considerar relacionamentos homossexuais. (Outro motivo pelo qual precisamos de dragões no mundo.)
Este livro também apresenta melhor a delicada situação política das Rain Wilds pós-Liveship Traders. Ao final daquela trilogia, as soluções encontradas pelos personagens pareciam tão boas ─ mas, agora, você vê as complicações de algumas delas, como deixar que os ex-escravos migrassem para Trehaug e Cassarick. É por essas complexidades que o mundo de Hobb parece tão vivo e real.
Um último comentário: os interlúdios, com as cartas dos cuidadores de pombos, que pareciam fofos mas inúteis inicialmente, agora estão se provando integrados à trama, envolvendo questões de espionagem. Quero só ver o que o último livro reserva para esse núcleo…
COMENTÁRIOS COM SPOILERS:
- Leftrin arrasando no conselho de Cassarick. “Ah, vocês não confiam em mim pra me pagar? Acho que não vou contar onde a fica a cidade mágica, então. LOL.”
- Malta “aqui de boas dando à luz num bordel e matando meu sequestrador antes de fugir com um recém-nascido por uma cidade nas árvores” Vestrit = melhor pessoa.
- Tive vários surtos quando Alise encontra a sala em que Fitz estava em A fúria do assassino (!!!).
- Chassim, a filha do duque de Chalced que está organizando uma rebelião feminista, parece ser uma pessoa maravilhosa.
- Hest vai para Kelsingra, ai meu Deus. Ouso torcer pra que ele seja comido por um dragão?
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City of Dragons
Autora: Robin Hobb
Editora: HarperCollins
Ano de publicação: 2011
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Resenhas da série Realm of the Elderlings:
Trilogia Farseer/Saga do Assassino: O aprendiz de assassino – O assassino do rei – A fúria do assassino
Trilogia Liveship Traders: Ship of Magic – Mad Ship – Ship of Destiny
Trilogia The Tawny Man: Fool’s Errand – Golden Fool – Fool’s Fate
Rain Wild Chronicles: Dragon Keeper – Dragon Haven – City of Dragons – Blood of Dragons
Trilogia The Fitz and the Fool: Fool’s Assassin ─ Fool’s Quest
Citações preferidas
Ele balançou a cabeça enquanto observava Alise desaparecer na escuridão. Por mais que temesse por ela, tinha sido sua natureza aventureira que primeiramente o atraíra. Aquela primeira vez que ela aparecera no convés, com seu chapéu e saias esvoançantes, ele tinha ficado estupefato. Uma dama tão fina se arriscando no perigoso rio das Rain Wilds e na balsa dele!
Agora as mãos dela estavam calejadas e seu cabelo preso, e os véus e laços tinham sumido há muito tempo. Mas ela ainda era a dama fina, elegante como sempre, do mesmo modo que uma boa ferramenta, não importava quão batida, retinha sua integridade. Ela era única, a Alise dele. Tão dura quanta madeira mágica e delicada quanto renda.
*
Ela se ressentiu da pequena gota de gratidão que sentiu. Gratidão era uma emoção tão desconhecida quanto desconfortável, algo inapropriado para um dragão sentir, especialmente em relação a um humano. Gratidão implicava em uma dívida: mas como um dragão poderia ter uma dívida com um humano? Seria o mesmo que dever algo para um pombo. Ou um pedaço de carne.
*
“A felicidade vem e vai, Tats. Amar alguém não é aquela paixão louca que você sente no começo. Isso passa. Bem, não passa, mas se acalma, então, às vezes, quando você menos espera, você tem um relance da pessoa e tudo volta de novo, de uma vez. Mas mesmo isso não é o que você está procurando. O que procura é o sentimento de que, não importa o que aconteça, estar com essa pessoa sempre vai ser melhor do que estar sem ela. Nos tempos bons ou ruins. Que ter aquela pessoa por perto vai fazer o que quer que esteja acontecendo na sua vida melhor, ou pelo menos mais tolerável.”
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